Resistência do tambaqui a parasita intestinal depende de fator genético

A pesquisa foi conduzida por pesquisadores da Unesp e da Universidade Nilton Lins, de Manaus


 

Um estudo inovador com tambaquis revelou que a resistência a parasitas intestinais é influenciada por fatores genéticos. Esta descoberta pode permitir a criação de linhagens mais resistentes, beneficiando piscicultores ao evitar perdas associadas ao baixo peso dos peixes. Atualmente, o tambaqui (Colossoma macropomum) desempenha um papel crucial na aquicultura da região Norte do Brasil, sendo a segunda espécie mais produzida no país, atrás apenas da tilápia.

Publicada na revista Aquaculture, a pesquisa foi realizada por equipes da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal e da Universidade Nilton Lins (Manaus, AM), com a colaboração de parceiros internacionais. O estudo contou com o apoio da FAPESP e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

Os pesquisadores analisaram duas características da infecção: resistência, medida pelo número de parasitas no tambaqui, e resiliência, a capacidade do peixe de continuar crescendo apesar da infecção. “Identificamos que certas linhagens de tambaqui apresentavam maior resistência ou resiliência ao parasita. Encontramos peixes com centenas de parasitas e outros com apenas alguns. Os peixes menos parasitados eram parentes próximos, sugerindo um componente genético na resistência”, explica Diogo Hashimoto, do Centro de Aquicultura da Unesp de Jaboticabal.

Impacto da Parasitose na Produção de Tambaqui

A parasitose causada pelo acantocéfalo Neoechinorhynchus buttnerae, embora não afete humanos, é significativa para a aquicultura. Este parasita, exclusivo do tambaqui, instala-se no intestino do peixe, parte não consumida por humanos. No entanto, a infecção pode comprometer seriamente a produção, prejudicando o bem-estar animal e causando grandes prejuízos financeiros. Em sistemas de confinamento com biossegurança inadequada, a proliferação do parasita é favorecida, resultando em reinfecção contínua dos peixes. “A acantocefalose impacta negativamente o crescimento dos peixes, diminuindo seu desempenho produtivo e afetando a renda do produtor”, afirma Gustavo Valladão, da Universidade Nilton Lins.

Estima-se que entre 70% e 80% dos custos de produção de peixes sejam com alimentação, e a infecção por acantocefalose resulta em desperdício, já que os peixes não convertem o alimento em ganho de peso adequadamente. Estudos anteriores indicam que peixes infectados podem ser até 300% menores que os não infectados.

Experimento Inovador e Descobertas

Os pesquisadores conduziram um experimento inovador utilizando tambaquis livres de acantocéfalos e outros previamente infectados. Os peixes infectados foram utilizados para liberar ovos do parasita no ambiente experimental. Após confirmar a presença dos ovos, os tambaquis a serem testados foram expostos à infecção natural. Durante 60 dias, os pesquisadores monitoraram o ganho de peso dos peixes e a quantidade de parasitas para avaliar a resiliência e a resistência.

A análise revelou que peixes geneticamente mais resistentes e resilientes eram parentes próximos, indicando que esses atributos podem ser selecionados geneticamente. “Podemos selecionar peixes que resistam e suportem a doença, mantendo um desempenho produtivo razoável”, explica Hashimoto. Ele acrescenta que a seleção genética pode reduzir significativamente o impacto da doença na aquicultura.

Os pesquisadores também estão desenvolvendo uma ferramenta de seleção genômica baseada em marcadores de DNA para evitar a necessidade de sacrificar peixes durante a seleção. Com um pequeno fragmento da nadadeira, será possível identificar a resistência e resiliência dos peixes. Esta ferramenta de baixo custo deve estar disponível em breve para uso na produção de tambaqui.

Medidas Preventivas

Enquanto o plantel de tambaquis mais resistentes e resilientes ainda está em desenvolvimento, Valladão sugere medidas preventivas para evitar a acantocefalose nas pisciculturas. “É crucial garantir uma fonte de água livre de parasitas, adquirir plantéis certificados e realizar assepsia sanitária regularmente”, conclui Valladão.

O artigo completo, “Genetic parameters for host-response to acanthocephaliasis caused by the endoparasite Neoechinorhynchus buttnerae in the Amazon fish Colossoma macropomum”, pode ser acessado em: ScienceDirect.


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