COP 30

Agenda Belém 2025–2027: mobilização para a justiça climática

No dia 21 de novembro de 2025, foi oficialmente lançado um documento que pode redefinir os rumos da justiça climática no Brasil: a Agenda Belém 2025–2027, elaborada coletivamente por uma rede que reúne movimentos sociais, comunidades tradicionais, cientistas e gestores. Simultaneamente, é divulgada a Carta Manifesto Belém – Pós-COP30, que sistematiza demandas urgentes, estratégias coletivas e reivindicações profundas para enfrentar os grandes dilemas socioambientais do país.

A gênese desta iniciativa está na Rede Marangatu, coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Observatório de Territórios Saudáveis e Sustentáveis da Bocaina (OTSS), este último fruto de uma articulação entre a Fiocruz e o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT). Junto a essas instituições, participam a Universidade do Estado do Pará (UEPA), a Red de Mujeres Originarias por la Defensa del Mar e a Aliança dos Povos e Comunidades Tradicionais em Defesa da Mata Atlântica, demonstrando a amplitude territorial e simbólica da proposta.

O contexto do lançamento não é casual: ele se dá na esteira de impasses profundos na reta final da COP30, quando ficou evidente que as pautas de justiça climática – especialmente aquelas centradas em povos tradicionais e territórios vulneráveis – exigem respostas ousadas. A Agenda Belém não é apenas um plano técnico ou uma carta de boas intenções: ela representa uma mobilização política inédita para reposicionar comunidades tradicionais como protagonistas de soluções climáticas, conectando saberes ancestral e científico para fortalecer a governança territorial.

A Carta Manifesto Pós-COP30 complementa esse esforço, consolidando um conjunto de reivindicações que vão além da diplomacia internacional. Trata-se de articular demandas concretas para quem vive na periferia urbana, nas zonas costeiras, nos biomas tradicionais. A carta aponta para a necessidade de transformações estruturais — no poder político, nas políticas públicas e nas alianças sociais —, para garantir que o preço da crise ambiental não recaia sempre sobre os mais vulneráveis.

Bruno Peres/Agência Brasil

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Toda essa mobilização converge para um marco futuro: o II Encontro Internacional de Territórios e Saberes (EITS 2027), que será realizado em setembro de 2027 na cidade de Paraty (RJ), segundo anúncio formalizado durante a COP30 por Fiocruz e FCT. OTSS A primeira edição do EITS, ocorrida em Paraty em um encontro anterior, já havia reunido mais de dois mil participantes de 28 países, e agora a proposta é ampliar ainda mais esse diálogo internacional entre ciência, cultura e territórios.

A Agenda Belém 2025–2027 aparece, então, como um fio condutor de ação para esse horizonte. Ela não é apenas declarativa: traça um plano de ação concreto, desenhado coletivamente, para fortalecer a justiça climática local. Isso implica apoiar projetos em territórios tradicionais, capacitar lideranças comunitárias, promover pesquisas participativas e garantir que políticas públicas respondam às realidades vividas nas matas, rios, manguezais e periferias.

Ao mesmo tempo, a Carta Manifesto oferece uma voz política clara — um contraponto às falhas observadas na COP30 — ao reivindicar que a ambição climática deixe de ser medida apenas por metas globais, mas também por transformações territoriais, de poder e de economia. É a afirmação de que comunidades historicamente marginalizadas devem ocupar o centro da resposta climática.

Esse movimento é, em si, uma forma de resistência, mas também de proposta: resistência às desigualdades que o modelo de desenvolvimento impõe, e proposta para governar o futuro de forma mais democrática, inclusiva e fundamentada nos territórios. É uma estratégia coletiva, que mobiliza redes interinstitucionais para criar sinergias entre movimentos sociais, ciência, juventudes, lideranças comunitárias e gestores públicos.

O lançamento da Agenda Belém e da Carta Manifesto marca, portanto, um ponto de inflexão. Não é apenas a reação a uma COP marcada por tensões, mas o começo de uma nova fase de articulação política e de ação territorial — com foco nos biomas brasileiros e nas comunidades que vivem neles. E essa articulação impulsiona diretamente o segundo EITS, reforçando o compromisso com o diálogo de saberes, garantindo que o protagonismo climático se expresse de baixo para cima, a partir de quem vive a crise no corpo, no território e na memória.

Em suma, a iniciativa coloca em prática uma visão transformadora de justiça climática: não mais como discurso de conferência, mas como plano de ação real, orientado por comunidades, ciência cidadã e um projeto de futuro construído nos territórios.

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