Fotos: André Cavalcante
No coração de Manaus, becos, praças, universidades e escolas se transformaram em palcos para um encontro entre cultura periférica e luta socioambiental. Entre os dias 19 e 21 de setembro, o coletivo Perifa Amazônia, nascido da força do Hip Hop e da educação ambiental, realizou o Circuito Perifa Amazônia pela Amazônia de Pé. A mobilização integrou a programação da Virada Cultural Amazônia de Pé, movimento nacional que, a 50 dias da COP30 em Belém, tomou diferentes regiões do Brasil para exigir proteção das florestas públicas não destinadas.
A iniciativa mostrou, de forma viva e contundente, que a defesa da Amazônia não está restrita a gabinetes ou conferências internacionais. Ela nasce também da quebrada, com a voz das juventudes urbanas que vivem os efeitos da crise climática no dia a dia. No Amazonas, esse encontro entre cultura e política ambiental ganhou forma por meio de batalhas de slam, oficinas de grafite, rodas de conversa e intervenções artísticas que ocuparam espaços simbólicos como o Beco do Macedo, a Praça Libertador, a Escola Estadual Herbert Palhano, a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e o Movimento Nepal.
O recado foi claro: proteger as florestas públicas é a maior contribuição que o Brasil pode oferecer ao mundo diante da emergência climática. Só no estado do Amazonas, 30 milhões de hectares de florestas não destinadas estão sob risco de grilagem e desmatamento. Por isso, durante o circuito, o Perifa Amazônia protocolou junto ao governo estadual um pedido formal de destinação dessas áreas para unidades de conservação, povos indígenas e comunidades tradicionais.
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A programação foi construída como um mosaico de experiências culturais e políticas. Na Praça Libertador, oficinas de grafite e segurança alimentar aproximaram a arte de temas urgentes da sobrevivência coletiva. Na UFAM, jovens engajados coletaram assinaturas para fortalecer a campanha Amazônia de Pé. No Beco do Macedo, uma roda de conversa tratou da cultura e do clima como ferramentas de resistência comunitária. E no Movimento Nepal, o circuito se encerrou com a criação do mural “Amazônia de Pé” e uma batalha de slam que deu voz às juventudes periféricas.
Para Patrícia Patrocínio, fundadora do Perifa Amazônia, a força da mobilização esteve justamente nessa junção entre arte, política e pertencimento. “O Circuito Perifa Amazônia mostrou que cultura e clima caminham juntos. Quando ocupamos os becos, as praças e as escolas com a cultura hip hop e a defesa da floresta, construímos novas formas de mobilizar as juventudes e proteger a Amazônia em pé”, destacou.
Essa articulação faz parte de um movimento maior que vem crescendo às vésperas da COP30. A Virada Cultural Amazônia de Pé levou atividades para todas as regiões do Brasil, reunindo coletivos, artistas, organizações sociais e comunidades tradicionais. A mensagem enviada ao mundo é que a Amazônia precisa ser defendida não apenas como patrimônio natural, mas como território de vida, diversidade cultural e esperança.
Ao cruzar linguagens artísticas com a pauta ambiental, o Circuito Perifa Amazônia propôs um caminho alternativo para engajar públicos historicamente afastados dos debates climáticos. O uso do grafite, do slam e das rodas de conversa populares não é apenas estética: é estratégia política. Ele cria pontes entre a urgência global de proteger a floresta e a experiência concreta das periferias que enfrentam enchentes, calor extremo e insegurança alimentar.
O simbolismo dessa mobilização não pode ser ignorado. À medida que Belém se prepara para receber líderes de todo o planeta na COP30, a periferia amazônica se antecipa e mostra que também é protagonista desse processo. A luta pela Amazônia de Pé não é só uma causa ambiental, mas uma demanda por justiça climática que conecta jovens, comunidades e culturas em torno de um mesmo objetivo: garantir que a floresta continue existindo e que as pessoas que dela dependem tenham seus direitos respeitados.
O Circuito Perifa Amazônia deixou um legado que vai além das oficinas ou murais criados. Ele reafirmou que a resistência amazônica também pulsa nas rimas, nos sprays de tinta e nas vozes das quebradas. E que, para manter a floresta de pé, é preciso também manter de pé as culturas, os corpos e as juventudes que fazem dela sua casa e sua bandeira.
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