O Fórum Brasil-França Florestas, Biodiversidade e Sociedades Humanas, integrou a Temporada França-Brasil 2025, com apoio das embaixadas do Brasil e da França em realização da USP, em parceria com o Muséum National d’Histoire Naturelle (MNHN) da França e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Teve o objetivo de discutir a biodiversidade florestal, os ecossistemas e sua relação com as sociedades humanas, do passado ao presente, fortalecendo a cooperação científica e cultural entre os dois países, reunindo cientistas, jornalistas e representantes da sociedade civil do Brasil e da França, em conferências, mesas-redondas e debates, além de visitas institucionais.
Na abertura, com representantes da USP, Fapesp e instituições francesas, além de conferências inaugurais sobre a Amazônia antiga e contemporânea e debates sobre a preservação das florestas, a programação inclui relatos da fase inicial do evento em Paris, intercâmbios científicos entre Brasil e França e uma mesa-redonda dedicada aos desafios da cooperação científica entre o Brasil e a Guiana Francesa para o estudo da Amazônia.
O encerramento no segundo dia, começaram com as discussões, conferências sobre sociobiodiversidade florestal e seguiram com mesas-redondas que abordaram mudanças globais, conservação da biodiversidade e as relações culturais entre humanos e florestas. Entre os temas em destaque estiveram o conhecimento biocultural amazônico, a preservação da diversidade e os impactos das transformações ambientais sobre os modos de vida tradicionais.
Durante o Fórum, entre outros relevantes temas, selecionamos e apresentamos: os resultados preliminares do estudo/pesquisa feito na Unesp: “As palmeiras funcionam como grandes reservatórios ou caixas d’água da floresta”, pela professora Thaise Emilio, da Unesp e coordenadora do projeto, transcrito abaixo:
Apesar de representar apenas uma entre 171 famílias de plantas arborescentes na Amazônia, as palmeiras dominam a paisagem florestal tanto no dossel quanto no sub-bosque. Os cientistas levantam a hipótese de que populações humanas antigas domesticaram essas plantas há milhões de anos durante a ocupação e manejo da região.
“Ainda debatemos se os humanos enriqueceram a Amazônia com palmeiras ou se escolheram viver na floresta justamente pela abundância dessas plantas úteis, que possuem grande importância econômica”, explicou Emilio.
Atualmente, cerca de 75% da produção brasileira de produtos florestais não madeireiros provém de palmeiras. O açaí (Euterpe oleracea) sozinho responde por 50% desse total.
Desde 2017, Emilio colabora com pesquisadores do Soleil Síncrotron, de Paris, e da Universidade de Bordeaux para analisar a resistência do xilema das palmeiras à embolia induzida pela seca. O xilema constitui o tecido vascular que transporta água e sais minerais das raízes para o restante da planta.
Os cientistas utilizaram o acelerador circular de partículas do Soleil Síncrotron para investigar seis espécies de palmeiras das subfamílias Arecoideae e Coryphoideae. A tecnologia permite examinar a composição e estrutura da matéria em escala molecular.
“Constatamos que as palmeiras apresentam vulnerabilidade à seca similar a outras angiospermas ou gimnospermas. Porém, elas concentram mais água dentro dos troncos e conseguem mobilizar esse recurso, tornando essa a estratégia mais importante para minimizar os riscos de embolia”, detalhou a pesquisadora.
Pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, participaram de monitoramentos recentes que revelaram dados surpreendentes. Enquanto árvores dicotiledôneas armazenam no máximo 50% de seu volume em água, as palmeiras retêm até 70%. Durante períodos secos, essas plantas reservam ainda mais água do que nas estações chuvosas.
“Isso gera enormes impactos na biodiversidade da floresta amazônica, que ainda precisamos estimar”, afirmou Emilio.
Durante expedições na floresta em períodos de seca, a equipe observa que apenas as palmeiras produzem frutos. “Só elas dão frutos nessas épocas de seca. Isso mantém a alimentação dos animais e dos humanos que dependem desses recursos. Uma das hipóteses para explicar essa capacidade é justamente o funcionamento diferenciado dessas plantas, que armazenam mais água”, explicou a cientista.
O serviço ecossistêmico prestado pelas palmeiras enfrenta ameaças devido ao declínio de espécies associadas a climas úmidos. A intensificação do ciclo hidrológico, marcada por secas e estações chuvosas mais extremas, compromete a abundância dessas plantas. “Isso terá um impacto muito importante para a dinâmica da floresta”, alertou Emilio.
Um estudo em andamento avalia através de modelagem o risco de morte de palmeiras em diferentes ambientes e condições climáticas. Os resultados preliminares indicam que essas plantas morrem duas vezes mais do que outras árvores. “A combinação de anos chuvosos e secos está causando uma mudança na dinâmica e nas características de regiões da floresta”, concluiu a pesquisadora.
No segundo dia começou com conferências que trataram da sociobiodiversidade florestal e dos desafios impostos pelas mudanças globais à conservação da biodiversidade. Pesquisadores do Brasil e da França discutiram questões como monitoramento ambiental, riscos climáticos e estratégias de preservação. À tarde, a programação trouxe uma conferência sobre o conhecimento biocultural amazônico e a diversidade cultural e biológica, seguida de uma mesa-redonda dedicada às relações culturais entre humanos e florestas. Participaram especialistas das áreas de psicologia, arqueologia, biologia e antropologia, além de representantes de comunidades indígenas, como o povo Guarani da Aldeia Jaraguá.
Além da programação aberta ao público, foram realizados, paralelamente, encontros entre cientistas, dirigentes e integrantes de grupos de pesquisa brasileiros e franceses para intercâmbios de experiências, reforçando a continuidade da cooperação iniciada em Paris.
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