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América, quem chegou primeiro?

Quando Cristóvão Colombo pôs os pés na América em 1492, ele pensou ter descoberto um novo mundo. Ele olhou ao redor e viu terras vastas, rios caudalosos, montanhas imponentes e povos que pareciam tão exóticos quanto as especiarias que buscava. Mas, na verdade, Colombo não descobriu nada. Ele apenas chegou tarde.

Antes de seu desembarque triunfal e dos sinos tocando na Europa para celebrar a “descoberta”, a América já era casa de milhões de pessoas. Povos que haviam criado impérios, desenhado mapas, erguido cidades de pedra e de terra, domesticado plantas que hoje alimentam o mundo. Eles já estavam aqui, bem antes de qualquer europeu sonhar com terras além do Atlântico. E, no entanto, séculos depois, a história continua sendo reescrita, mas agora de trás para frente.

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Trump impõe nova redefinição na América

Nos Estados Unidos de Donald Trump, a América foi redefinida. Não como um continente habitado há milênios por civilizações que deixaram um legado indelével, mas como um território de fronteiras rígidas, onde quem veio antes pode ser expulso, e quem chegou depois se dá o direito de renomear o que já existia. Como se tudo estivesse sendo descoberto novamente.

O Golfo de Quem?

O Golfo do México, que há séculos carrega esse nome por razões geográficas e históricas, virou alvo do revisionismo moderno. Para Trump e seus aliados, chamá-lo de “Golfo da América” soa mais patriótico, mais pertencente à narrativa de uma nação que gosta de esquecer que um dia foi colônia – e que seu território era, na verdade, habitado por milhões de nativos muito antes da chegada dos europeus.

 

Mas o Golfo do México já estava lá antes de qualquer nome. Muito antes dos mapas europeus, antes dos espanhóis, antes dos ingleses, antes da fundação dos Estados Unidos. Quem primeiro navegou por essas águas? Quem pescou nelas? Quem deu os primeiros nomes a suas ilhas e baías? Foram os astecas, os maias, os tonkawas, os karankawas, os choctaws, os timucuas. Povos que, ironicamente, hoje correm risco de serem apagados não só da geografia, mas da própria memória americana.

 

Os Verdadeiros Estrangeiros

Se Colombo não descobriu a América, então quem pode dizer que pertence a ela mais do que qualquer outro? No entanto, a política de imigração de Trump parece ter uma resposta clara: os estrangeiros são aqueles que não falam inglês perfeito, que não nasceram do lado “certo” da fronteira, que trazem nos traços o DNA dos povos que sempre habitaram essa terra.

Ironicamente, são os descendentes dos primeiros habitantes da América que hoje são tratados como invasores. Mexicanos, guatemaltecos, hondurenhos, descendentes de maias, incas e outros povos indígenas são colocados em campos de detenção, separados de suas famílias, deportados como se nunca tivessem pertencido a esse solo.

Mas se a América já era povoada antes da chegada dos europeus, então quem são os verdadeiros estrangeiros? Quem deveria ser deportado? Quem pode decidir qual nome uma terra deve carregar?

Redescobrindo a América, Outra Vez

A obsessão por mudar o nome do Golfo do México, a necessidade de construir muros e erguer barreiras são sintomas de uma amnésia histórica conveniente. O nome de um golfo não muda os fatos. Nem um muro pode apagar a verdade. Os povos indígenas da América estavam aqui muito antes, construíram sociedades vibrantes, dominaram seus territórios e os moldaram muito antes da chegada dos europeus – e muito antes da formação dos Estados Unidos.

A América não pertence a quem chegou por último. Mas talvez seja isso que assuste tanto aqueles que querem reescrever sua história.

Redação Revista Amazônia

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