Ela desliza silenciosa pelos leitos dos rios amazônicos, quase imperceptível à vista humana. A arraia de água doce é um dos animais mais discretos — e perigosos — da região.
Presente nos rios da Bacia Amazônica, esse peixe cartilaginoso costuma viver enterrado parcialmente na areia ou entre folhas no fundo do rio, o que aumenta os riscos de encontros indesejados com banhistas e ribeirinhos. Mas o que sabemos sobre esse animal tão emblemático e temido da Amazônia?
As arraias de água doce são peixes pertencentes à família Potamotrygonidae. Diferentemente de suas parentes marinhas, elas vivem exclusivamente em ambientes fluviais da América do Sul, com grande diversidade na bacia Amazônica.
Com corpo achatado em formato de disco, olhos posicionados na parte superior e cauda longa, as arraias podem ter padrões variados — do marrom ao bege, com manchas ou desenhos que servem como camuflagem.
Esses animais são predominantemente bentônicos, ou seja, passam a maior parte do tempo no fundo do rio. Durante o dia, tendem a ficar escondidas sob a areia, lama ou entre folhas. É no entardecer e à noite que se tornam mais ativas para caçar.
A dieta das arraias é composta por pequenos invertebrados aquáticos, crustáceos, vermes e até pequenos peixes. Com sensores eletro-receptores, elas conseguem detectar o movimento de presas no fundo do rio.
Seu modo de alimentação é peculiar: a arraia utiliza a boca localizada na parte inferior do corpo para sugar e triturar os alimentos. Muitas vezes, escavam a areia com o corpo para encontrar suas presas.
A arraia é considerada um dos animais perigosos do rio — não por seu comportamento agressivo, mas por sua defesa venenosa. O ferrão serrilhado, localizado na cauda, pode causar ferimentos profundos e dolorosos.
O envenenamento por arraia provoca sintomas como dor intensa, necrose, febre, vômitos e, em casos graves, pode levar à infecção generalizada. Os acidentes costumam ocorrer quando pessoas pisam sobre o animal sem perceber sua presença.
Em algumas regiões da Amazônia, esses incidentes são comuns, especialmente em áreas de balneários e praias fluviais. Por isso, é comum ver ribeirinhos caminhando nos rios com passos fortes para “avisar” a presença.
Apesar do medo que desperta, a arraia faz parte do cotidiano das populações ribeirinhas. Muitas famílias convivem com esses animais e até os utilizam como recurso alimentar ou econômico.
Há comunidades que pescam arraias para o consumo local. Outras aproveitam a crescente demanda internacional por espécies ornamentais — o que levou ao início de criações em cativeiro autorizadas pelo ICMBio.
Além disso, a arraia é personagem frequente em histórias, lendas e ensinamentos passados entre gerações. Ela simboliza os riscos ocultos da natureza e ensina o respeito às águas.
Essas espécies vivem em diferentes microhabitats dentro da bacia amazônica e algumas já estão ameaçadas por causa da perda de habitat e da pesca ilegal.
Com o avanço da degradação ambiental, muitas arraias enfrentam risco de extinção. A construção de hidrelétricas, o garimpo ilegal e a poluição afetam diretamente os locais onde vivem.
Segundo dados do IUCN Red List, algumas espécies de arraias amazônicas já aparecem na lista de vulneráveis. A fragmentação dos rios altera o fluxo natural das águas e isola populações.
Evitar acidentes é possível com atitudes simples:
Em algumas cidades amazônicas, como Santarém e Parintins, há campanhas de orientação para moradores e turistas sobre como conviver com segurança com os animais perigosos do rio.
A arraia da Amazônia é um exemplo de como um animal pode ser ao mesmo tempo temido e fascinante. Ela representa a força silenciosa da natureza e a necessidade de respeitarmos os ambientes aquáticos da floresta.
Mais do que um perigo invisível, a arraia é parte de um ecossistema rico e interligado, onde cada ser tem seu papel. Proteger esses animais é garantir que as futuras gerações continuem aprendendo e convivendo com a biodiversidade amazônica.
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