A Amazônia é conhecida por sua biodiversidade e sua beleza natural, mas também esconde um segredo milenar: as ruínas de uma civilização que habitou a região há mais de dois mil anos, antes da chegada dos europeus. Essa civilização construiu cidades, estradas, canais e campos agrícolas, que hoje estão enterrados sob a floresta. Mas como os arqueólogos conseguiram descobrir esses vestígios? A resposta está em uma tecnologia de sensoriamento remoto chamada Lidar, que usa pulsos de laser para mapear o terreno com alta precisão.
Lidar é a sigla em inglês para Light Detection and Ranging, que significa Detecção e Medição de Luz. É uma tecnologia que usa um feixe de laser para medir a distância entre um sensor e um objeto, refletindo a luz de volta. Ao fazer isso, o sensor consegue captar a forma, a altura e a densidade do objeto, criando uma imagem tridimensional do terreno. O Lidar pode ser usado em diferentes plataformas, como aviões, satélites, drones ou veículos terrestres.
O Lidar tem diversas aplicações, como na geologia, na meteorologia, na engenharia, na agricultura e na arqueologia. Nesta última, o Lidar é especialmente útil para detectar estruturas antigas que estão ocultas pela vegetação ou pelo solo, como pirâmides, templos, muralhas e cemitérios. O Lidar também permite identificar padrões de ocupação humana, como estradas, canais, campos e aldeias.
Uma das regiões onde o Lidar foi usado para revelar as cidades perdidas da Amazônia é o Vale do Upano, no leste do Equador. Nesse vale, os arqueólogos encontraram evidências de uma sociedade complexa que existiu entre cerca de 500 a.C. e 300 a 600 d.C., contemporânea ao Império Romano na Europa. Essa sociedade construiu cinco grandes cidades e dez menores, que abrigavam entre 10 mil e 30 mil habitantes no total. As cidades eram ligadas por estradas largas e retas, que se estendiam por até 20 quilômetros. As cidades também tinham canais para irrigação e drenagem, e campos agrícolas retangulares, onde plantavam milho, mandioca e batata doce. As cidades eram cercadas por terraços nas encostas, que serviam para evitar a erosão e aumentar a área cultivável.
Essas estruturas, no entanto, estavam escondidas debaixo da floresta, e só foram notadas pela primeira vez há mais de duas décadas pelo arqueólogo francês Stéphen Rostain. Mas foi somente em 2018 que os pesquisadores conseguiram mapear toda a extensão e a complexidade da rede urbana, usando o Lidar. Eles sobrevoaram a área com um avião equipado com um sensor Lidar, que emitiu mais de 2 bilhões de pulsos de laser, cobrindo uma área de 300 quilômetros quadrados. Os dados foram processados por um software, que gerou um modelo digital do terreno, removendo a vegetação e revelando as formas artificiais.
Os resultados foram publicados na revista científica Science em janeiro de 2024, e surpreenderam os especialistas. “Era um vale perdido de cidades”, disse Rostain, que é diretor de pesquisa no Centro Nacional de Pesquisa Científica da França. “É incrível.”
A descoberta das cidades perdidas da Amazônia é importante por vários motivos. Primeiro, porque mostra que a Amazônia não era uma região selvagem e pouco habitada antes da chegada dos europeus, como se pensava. Pelo contrário, a Amazônia era um lugar de diversidade cultural e de sociedades complexas, que deixaram marcas na paisagem e na história. Segundo, porque mostra que essas sociedades tinham um alto grau de organização e de engenharia, capazes de construir cidades, estradas, canais e campos em uma região de difícil acesso e de clima tropical. Terceiro, porque mostra que essas sociedades tinham uma relação com o meio ambiente que era diferente da nossa, baseada na adaptação e na sustentabilidade, e não na exploração e na degradação. Quarto, porque mostra que essas sociedades foram vítimas de um desastre natural que pode ter contribuído para o seu fim: a erupção de um vulcão que cobriu a região com cinzas e alterou o clima.
A descoberta das cidades perdidas da Amazônia, portanto, nos convida a repensar a nossa visão sobre a Amazônia, sobre o passado e sobre o futuro. A Amazônia não é apenas uma floresta, mas também um patrimônio cultural e histórico, que merece ser preservado e estudado. O passado não é apenas uma sucessão de fatos, mas também uma fonte de conhecimento e de inspiração, que pode nos ensinar sobre outras formas de viver e de se relacionar com a natureza. O futuro não é apenas uma projeção do presente, mas também uma escolha que depende de nós, e que pode ser mais harmonioso e equilibrado, se seguirmos o exemplo das cidades perdidas da Amazônia.
Em um avanço revolucionário, cientistas da IBM e da Cleveland Clinic utilizaram um computador quântico…
Quando as pessoas pensam em comércio de vida selvagem, elas frequentemente imaginam contrabandistas trazendo espécies raras…
Em um avanço científico sem precedentes, pesquisadores da Universidade de Sun Yat-sen realizaram com sucesso…
O lírio da paz é uma planta elegante e fácil de cuidar, mas para mantê-lo…
A lixeira da cozinha pode se tornar uma grande fonte de odores desagradáveis se não…
Algo estava acontecendo com os pássaros em Tiputini. O centro de pesquisa de biodiversidade, enterrado…
This website uses cookies.