BIOECONOMIA

Atlas revela mosaico da bioeconomia inclusiva na Amazônia

O mosaico social, econômico e ambiental da Amazônia Legal acaba de ganhar uma leitura abrangente e profundamente territorializada. O Atlas da Bioeconomia Inclusiva na Amazônia, lançado na AgriZone, apresenta um retrato minucioso das 107 microrregiões que compõem essa vasta porção do país. A obra, organizada pela Embrapa com apoio da Secretaria de Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, reúne mais de 600 páginas de análises, gráficos e interpretações que buscam iluminar caminhos possíveis para uma economia mais diversa, sustentável e conectada às populações amazônicas.

A publicação parte de um entendimento simples, mas decisivo: a Amazônia não é uma entidade homogênea. Cada microrregião é moldada por dinâmicas próprias de povoamento, produção, conservação e relações sociais. Ao sistematizar dados de demografia, estrutura fundiária, atividades agropecuárias, extrativismo, silvicultura e indicadores sociais, o Atlas oferece aos gestores públicos, pesquisadores e lideranças comunitárias um mapa analítico da complexidade amazônica.

O primeiro capítulo apresenta uma visão integrada dos nove estados que compõem a Amazônia Legal, descrevendo o método de coleta, sistematização e interpretação dos dados. A partir daí, o leitor mergulha em um conjunto de análises organizadas por estado, em que o detalhamento territorial se torna a principal ferramenta de leitura do desenvolvimento regional.

Segundo Ana Euler, diretora de Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologias da Embrapa, o objetivo central da obra é fortalecer decisões e políticas que impulsionem uma bioeconomia enraizada nas realidades locais. Para ela, esse tipo de conhecimento estruturado contribui para ampliar oportunidades, valorizar a sociobiodiversidade e promover inovação que beneficie comunidades e estimule a transição para modelos mais sustentáveis de geração de renda.

Divulgação

VEJA TAMBÉM: Da floresta à renda: a bioeconomia que nasce das mãos da juventude ribeirinha

A coordenação técnica do Atlas ficou a cargo do pesquisador Roberto Porro, da Embrapa Amazônia Oriental. Porro destaca que a escolha por uma abordagem territorial não é apenas metodológica, mas política: só compreendendo as diferenças e singularidades entre as microrregiões é possível elaborar ações que dialoguem com o modo como os amazônidas vivem e produzem. Ele lembra que a Amazônia Legal, como definida pelo IBGE, é um território multifacetado, e por isso a obra busca evitar leituras generalistas que pouco ajudam a orientar intervenções eficazes.

O conteúdo do Atlas nasce de três anos de diagnósticos conduzidos por equipes de nove unidades da Embrapa distribuídas na região Norte e no Maranhão. Esse esforço coletivo permitiu consolidar um plano estratégico focado na bioeconomia inclusiva, orientando o papel da Empresa em um cenário no qual inovação tecnológica, conhecimento tradicional e proteção ambiental precisam operar de forma integrada.

O pano de fundo desse trabalho é a vida de aproximadamente 1,5 milhão de famílias de agricultores familiares, povos originários e comunidades tradicionais que dependem diretamente dos recursos naturais para viver. Porro reforça que a bioeconomia só será inclusiva se estiver ancorada no uso sustentável da biodiversidade, no reconhecimento dos saberes locais e na construção de pontes entre esses conhecimentos e os avanços científicos e tecnológicos. É essa aliança que pode sustentar desenvolvimento, justiça social e bem-viver para os povos da floresta.

Para o coordenador-geral de Desenvolvimento da Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, William Saab, o Atlas surge no momento exato. Ele se conecta diretamente a duas políticas públicas lançadas durante a COP30, em Belém: o Plano Nacional de Desenvolvimento da Sociobioeconomia e o Programa Prospera Socioebioeconomia. Ambas têm como propósito fortalecer cadeias produtivas sustentáveis e ampliar oportunidades econômicas para os diversos povos amazônicos.

Saab afirma que a obra se tornará uma referência estratégica para a formulação e aprimoramento de políticas públicas. Em suas palavras, trata-se de uma entrega significativa da Embrapa à sociedade brasileira, tanto pelo rigor técnico quanto pelo potencial de orientar investimentos e ações governamentais em toda a Amazônia Legal.

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