COP 30

Barco a hidrogênio vira palco de debate sobre resiliência

O amanhecer em Belém encontrou, na Estação das Docas, uma embarcação que resume o espírito da COP30: o JAQ H1, um barco movido a hidrogênio verde que funciona como laboratório flutuante para a transição energética. Ali, ancorado diante do vai e vem da capital paraense, o barco recebeu um encontro organizado pelo Movimento União BR, reunindo representantes do setor privado, de fundações e de empresas comprometidas com respostas rápidas e eficazes aos desastres climáticos.

A líder do projeto, Cila Schulman, apresentou o futuro da embarcação durante a abertura do evento. Desenvolvido em parceria com o Grupo Náutica, o JAQ H1 deverá cruzar o litoral brasileiro até o Rio de Janeiro ao fim da conferência, simbolizando uma ponte entre inovação tecnológica e ação humanitária. Segundo ela, a embarcação será apenas o início: dois barcos semelhantes devem ser destinados posteriormente à pesquisa ambiental em diferentes biomas, ampliando o alcance científico da iniciativa. Outro avanço anunciado foi a capacidade de produzir hidrogênio a bordo, tornando o navio ainda mais autossuficiente.

O encontro dentro do barco-escola, projetado para se tornar um espaço de difusão de práticas de adaptação climática, funcionou como uma espécie de laboratório social. Tatiana Monteiro de Barros e Marcella Coelho, cofundadoras do União BR, conduziram o debate com o objetivo de mostrar como alianças sólidas entre sociedade civil, empresas e governos se tornaram fundamentais num país em que eventos extremos se multiplicam. A conversa, conduzida em tom franco e pragmático, mapeou o que dá certo, o que ainda é insuficiente e quais são os caminhos para fortalecer a resiliência das comunidades mais vulneráveis.

União BR – Divulgação

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Entre as vozes presentes, Luciana Nicola, diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco, destacou o papel estratégico da ONG parceira. Em situações de emergência, explicou, o União BR opera como o braço de resposta imediata do banco. É uma atuação que começa no chamado Day Zero e segue em etapas posteriores, quando o desastre sai das manchetes, mas a reconstrução real apenas começa. Para ela, a capacidade de articulação do movimento se provou essencial em crises recentes, como as enchentes no Rio Grande do Sul, a tragédia no Litoral Norte paulista e tornados que atingiram cidades do Paraná.

No mesmo painel, Malu Nunes, diretora da Fundação Grupo Boticário, reforçou a importância de redes colaborativas para que a ajuda chegue a quem de fato precisa. Ela apresentou também uma plataforma criada pela instituição para apoiar gestores municipais na implementação de soluções baseadas na natureza — uma ferramenta pensada para prefeitos que buscam preparar suas cidades diante da nova realidade climática: chuvas mais intensas, secas prolongadas e um ciclo de impactos cada vez mais imprevisível.

Outra frente de apoio foi apresentada por Raquel Argentino, responsável por Sustentabilidade e Impacto Social da Latam Brasil, que trouxe números impressionantes: mais de 800 toneladas de doações transportadas pelo programa Avião Solidário em situações de emergência dentro e fora do país. O dado revela a escala crescente das crises ambientais e, ao mesmo tempo, a potência logística que o setor privado pode mobilizar quando opera de forma coordenada.

A manhã terminou com um tour técnico pelo interior do JAQ H1, guiado por Davi Lopes, líder de negócios da GWM Hydrogen no Brasil e América Latina. Lopes explicou o funcionamento do sistema híbrido que combina células a combustível de hidrogênio e energia elétrica. Ao reagir com oxigênio, o hidrogênio gera eletricidade e libera apenas água como subproduto, sem emissões e sem ruídos que interfiram no ambiente ao redor. Para ele, o barco representa não só o futuro da navegação limpa, mas uma vitrine de como a tecnologia pode servir à reconstrução de territórios afetados pelas mudanças climáticas.

O encontro deixou claro que a resiliência climática não nasce apenas de diagnósticos alarmantes, mas de alianças concretas. E, no convés do JAQ H1, a mensagem ecoou com força: enfrentar desastres exige ciência, ação rápida, redes confiáveis e, sobretudo, a disposição de aprender continuamente com cada crise. O barco segue viagem, mas o debate que ele abrigou seguirá navegando muito além da COP30.

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