Economia

Brasil à beira de se tornar potência em energia limpa

O setor siderúrgico brasileiro vive um momento de reflexão e expectativa: representantes da indústria de aço veem no atual impulso por energias limpas uma oportunidade histórica para o país se afirmar como protagonista global na transição energética. A recente conclusão da COP30 reforçou o papel central da energia limpa nos debates sobre descarbonização — e especialistas do setor defendem que o Brasil tem condições de liderar esse movimento, desde que supere desafios estruturais e invista com clareza no seu potencial.

Dados do Ember, think tank internacional de energia, mostram que em 2024 fontes limpas — sobretudo hidrelétrica, solar e eólica — responderam por cerca de 41% da eletricidade mundial. Esse crescimento gradual evidencia que o mundo avança na direção da transição energética, embora de forma desigual entre países e setores.

Para a gerente-geral de Meio Ambiente da Gerdau, Cenira Nunes, a transição em curso não vai eliminar da noite para o dia as fontes fósseis — como qualquer transição anterior na história, trata-se de um processo longo, que convivirá com diferentes matrizes energéticas. Ela observa que, nas últimas duas décadas, a participação das renováveis cresceu cerca de 13% na matriz elétrica global. Esse avanço, impulsionado por avanços em solar e eólica, sinaliza que o setor elétrico global já está se adaptando ao novo cenário.

No contexto brasileiro, a vantagem comparativa é clara. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), aproximadamente 85% da matriz elétrica do país já provêm de fontes renováveis — um percentual próximo ao dobro da média global. Deste total, as hidrelétricas continuam sendo a base, respondendo por cerca de 55,3%. Esse posicionamento confere ao Brasil um terreno fértil para avançar com ambição.

No entanto, para manter e ampliar essa vantagem, não basta contar com recursos naturais: é preciso estruturar o país para a nova economia energética. Na visão do diretor da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM) na regional Centro–Norte, Geraldo Iran Cardoso, o país deverá superar desafios como a atração de investimentos, fortalecimento da formação técnica e regulatória, e modernização da infraestrutura de transmissão, garantindo que a energia gerada alcance de fato os polos industriais e regiões onde o aço e outros materiais são produzidos.

Divulgação – ABM

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Um dos caminhos estratégicos mais debatidos no setor é o do hidrogênio verde — produzido a partir da eletrólise da água, utilizando energia renovável (hidrelétrica, solar ou eólica). Para Cardoso, o Brasil estaria em posição privilegiada para explorar essa tecnologia: a grande extensão territorial, combinada com uma matriz elétrica predominantemente limpa, poderia permitir a produção de volumes substanciais de hidrogênio, com potencial de exportação para países com alta demanda por energia limpa. Se bem implementada, a ideia poderia transformar o Brasil em um dos principais fornecedores globais de “energia verde”.

Mas para que essa visão se torne realidade, serão necessárias políticas públicas robustas. A indústria demanda marcos regulatórios claros, segurança para investimentos, incentivos ao desenvolvimento de tecnologias de geração, armazenamento e transporte de energia — especialmente aquelas ligadas ao hidrogênio verde. A formação de engenheiros e técnicos especializados e a modernização da infraestrutura de transmissão são vistos como elementos decisivos para garantir que o país consiga materializar seu potencial.

Para além da retórica, as empresas já começam a dar sinais práticos de mudança. A Gerdau, por exemplo, participa de iniciativas de eficiência energética, modernização de processos e busca reduzir a pegada de carbono de sua produção. A mobilização da ABM e de outras entidades técnicas também demonstra que há mobilidade no setor — e que as discussões sobre sustentabilidade, inovação e competitividade já fazem parte da agenda da siderurgia nacional.

Mais do que uma demanda ambiental, a transição energética no setor de metais e siderurgia aparece como uma oportunidade histórica para reposicionar o Brasil no mapa global da energia. Se conseguir construir uma estratégia coerente — unindo recursos naturais, tecnologia, capital e políticas públicas — o país pode não apenas reduzir suas emissões, mas também exportar energia limpa, gerar valor agregado e consolidar uma base industrial mais moderna, competitiva e sustentável. Nesse sentido, a transição energética não é apenas um desafio ambiental, mas uma encruzilhada estratégica para a economia, a indústria e o futuro do Brasil.

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