Presidente da COP30 foto: Antônio Cruz/Agencia Brasil
Em Brasília, o embaixador André Corrêa do Lago, indicado como presidente da COP30, afirmou nesta segunda-feira que o principal desafio da conferência climática que será realizada no Brasil é garantir que os debates avancem, sem que impasses travem decisões essenciais. Em discurso durante a abertura da Pré-COP, que ocorre em Brasília, ele disse que o governo brasileiro busca uma conferência “aberta e sem bloqueios”, mas reconheceu que os Estados Unidos ainda não indicaram oficialmente sua delegação para o evento.
“Queremos evitar bloqueios de um lado ou de outro que sejam provocados pelo desejo de colocar na agenda coisas que não estão na agenda. Então, a primeira coisa é assegurar a boa vontade de todos para que a COP possa começar já com negociações”, declarou Corrêa do Lago. Ele enfatizou que, da parte do Brasil, já há convite estendido a todas as nações e que esta será uma COP que receberá delegações sem restrições.
A ausência de confirmação por parte dos Estados Unidos preocupa os organizadores. Corrêa do Lago confirmou que, até então, o governo norte-americano não indicou representantes para a conferência. “Ainda não há uma indicação de delegação [dos Estados Unidos]”, afirmou. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta, na última semana de setembro, a Donald Trump, convidando-o expressamente a participar da COP30.
Para Corrêa do Lago, a efetividade da conferência dependerá também da participação de todas as partes envolvidas, sobretudo os grandes emissores. Em tom diplomático, ele reitera que o Brasil quer sediar uma reunião inclusiva: “essa é uma COP aberta e todos serão bem-vindos”.
Na manhã anterior à cerimônia oficial de abertura da Pré-COP, Corrêa do Lago manifestou frustração com o ritmo das entregas das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para a COP30. Até o momento, apenas 62 países apresentaram suas metas, o que representa um atraso significativo. As NDCs são compromissos que cada nação assume no âmbito do Acordo de Paris, definindo metas de redução de emissões e estratégias de adaptação. Segundo relato da sociedade civil, mesmo a União Europeia não completou suas submissões de NDCs até o momento.
Esse cenário incerto aumenta a pressão para que a COP30 em Belém entregue resultados concretos. A Pré-COP, que se estende por dois dias, foi desenhada como etapa preparatória para alinhar agendas, reduzir lacunas e fortalecer o multilateralismo nas negociações climáticas
Em Brasília, o Brasil tem tentado liderar pelo exemplo. Durante a abertura do evento preparatório, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que atua como chefe da delegação brasileira, reafirmou três pilares que devem nortear a COP30: reforçar o multilateralismo climático, conectar o regime climático às realidades da população e acelerar a implementação dos compromissos do Acordo de Paris. Alckmin também destacou que o país apresentou recentemente sua nova NDC (versão 3.0), que propõe redução de emissões líquidas entre 59% e 67% até 2035 em comparação a 2005.
Entre os temas mais debatidos na Pré-COP estão: financiamento climático, transparência, balanço global (GST, sigla em inglês para Global Stocktake), transição justa e adaptação ao impacto climático. A ministra do Meio Ambiente e Clima, Marina Silva, criticou o patamar ainda insuficiente de recursos destinados à proteção florestal. Ela propôs mecanismos como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e reforço do REDD+ para suprir os gargalos.
O Brasil busca, por meio da presidência da COP30, impulsionar o equilíbrio entre demandas ambientais, justiça climática e viabilidade econômica. Corrêa do Lago enfatizou que a primeira barreira é garantir que as negociações não sejam atrapalhadas por manobras protocolares ou outras disputas menores — especialmente aquelas que tentam inserir “temas não previstos” na agenda oficial. Ele antevê que a boa vontade diplomática será crucial para que a conferência comece com debates substantivos, em vez de estagnações.
A menos de um mês do evento principal, a COP30 em Belém carrega uma expectativa pesada: não basta prometer. Os participantes esperam que o encontro traga decisões claras, especialmente em relação ao financiamento climático e à redução de emissões. A lacuna de US$ 1,3 trilhão por ano projetada para as necessidades climáticas nos países em desenvolvimento fará parte das discussões centrais.
Se os Estados Unidos, um dos maiores emissores históricos, permanecerem ausentes ou com delegação mínima, isso pode fragilizar o diálogo global. A COP30 será testada não apenas pela solidez técnica de seus documentos finais, mas pela capacidade de reunir os atores mais críticos.
Para o Brasil, o papel de mediador será decisivo. Corrêa do Lago sinaliza que a presidência brasileira não pretende intervir nos méritos das posições alheias, mas quer garantir que eventuais “travas” diplomáticas não inviabilizem o processo. Restará ver se essa estratégia será suficiente para adiar menos e decidir mais.
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