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Campos em branco, quando o USDA desligou a verdade climática

Na manhã fria de quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025, os corredores do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em Washington D.C. estavam inusitadamente silenciosos. Os funcionários, normalmente atarefados com planilhas, relatórios e telefonemas, agora se encontravam paralisados diante de suas telas de computador, relendo incrédulos o e-mail que acabara de chegar.

Ordem: remover ou arquivar informações sobre mudanças climáticas

A ordem era clara e inequívoca: remover ou arquivar todas as páginas principais focadas na mudança climática. O prazo? Sexta-feira. Em menos de 24 horas, décadas de pesquisa, dados vitais e ferramentas essenciais para agricultores de todo o país deveriam desaparecer do domínio público.

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Para muitos, a notícia caiu como uma bomba. Sarah Thompson, climatologista do USDA há 15 anos, deixou escapar um suspiro pesado enquanto fechava a aba do navegador que exibia o Climate Hubs, um projeto no qual investira anos de trabalho. “É como apagar a história”, murmurou para si mesma, enquanto iniciava o processo de arquivamento.

A ordem vinda de Trump

Do outro lado do corredor, Mark Johnson, especialista em agricultura sustentável, encarava fixamente a tela do computador, onde o site do Forest Service piscava, como se implorando para não ser desligado. “Isso não pode estar acontecendo de novo”, pensou, lembrando-se da primeira vez que Trump ocupou a Casa Branca.

A ordem vinda do alto escalão do governo Trump não era apenas um golpe na transparência governamental; era um ataque frontal à ciência e à preparação do país para enfrentar uma das maiores ameaças do século XXI.

Enquanto os dedos hesitantes começavam a clicar em botões de “despublicar”, do lado de fora do imponente edifício do USDA, a vida seguia seu curso aparentemente normal. Agricultores em Iowa checavam as previsões do tempo para a próxima semana, sem saber que em breve perderiam acesso a dados cruciais sobre padrões climáticos de longo prazo. Pecuaristas no Texas ajustavam seus planos de manejo de pastagens, inconscientes de que as ferramentas que usavam para adaptar-se às mudanças climáticas logo estariam fora do ar.

A ironia não escapou a ninguém no departamento: enquanto o governo tentava apagar digitalmente a crise climática, seus efeitos continuavam bem reais e palpáveis no campo. O ano de 2024 havia sido o mais quente já registrado, com ondas de calor sem precedentes assolando o Meio-Oeste americano e secas prolongadas no Sul.

#SaveUSDAClimate

À medida que a notícia se espalhava, reações começaram a surgir de todos os cantos. Nas redes sociais, hashtags como #ClimateDataMatters e #SaveUSDAClimate ganhavam tração. Organizações ambientalistas corriam para baixar e preservar o máximo de informações possível antes que fosse tarde demais.

Em uma fazenda familiar em Nebraska, John Peterson, agricultor de terceira geração, franziu o cenho ao ler a notícia em seu celular. “Como vou planejar minha safra sem as projeções climáticas do USDA?”, perguntou-se em voz alta, enquanto observava seus campos de milho que já mostravam sinais de estresse hídrico, um problema cada vez mais comum nos últimos anos.

Impacto nos laboratórios, universidades e comunidades internacionais

A decisão de Trump não apenas afetava os agricultores americanos. Em laboratórios e universidades ao redor do mundo, pesquisadores que dependiam dos dados abertos do USDA para seus estudos sobre segurança alimentar global entraram em pânico. A professora Maria Silva, da Universidade de São Paulo, estava no meio de uma pesquisa comparativa entre as estratégias de adaptação climática do Brasil e dos EUA quando soube da notícia. “É um retrocesso científico de proporções globais”, lamentou.

Enquanto isso, nos corredores do poder em Washington, a polêmica escalava. Senadores da oposição preparavam discursos inflamados, acusando o governo de “censura científica” e “negligência criminosa”. O senador James Carter, do Comitê de Agricultura, Nutrição e Florestas, declarou em uma coletiva de imprensa improvisada: “Estamos jogando fora décadas de pesquisa vital. Isso não é apenas sobre política; é sobre a sobrevivência de nossa agricultura e nossa economia rural.”

A comunidade internacional também reagiu com preocupação. A União Europeia, através de seu comissário para Ação Climática, emitiu um comunicado expressando “profunda preocupação com a decisão dos EUA de limitar o acesso a dados climáticos cruciais”. O documento ressaltava a importância da cooperação global no enfrentamento das mudanças climáticas e instava os EUA a reconsiderar sua posição.

No USDA, o clima era de consternação e revolta silenciosa. Muitos funcionários, especialistas dedicados que haviam passado carreiras inteiras construindo bases de dados e desenvolvendo modelos climáticos, agora se viam forçados a desmantelar seu próprio trabalho. Alguns consideravam pedir demissão em protesto, outros planejavam formas de preservar os dados em servidores privados.

A dra. Emily Chen, líder de um projeto de pesquisa sobre culturas resistentes à seca, passou a manhã de sexta-feira copiando freneticamente arquivos para um disco rígido externo. “Não posso deixar que anos de trabalho desapareçam assim”, disse ela, os olhos vermelhos de uma noite sem dormir. “Esses dados podem ser a diferença entre fome e abundância para milhões de pessoas no futuro.”

À medida que o prazo se aproximava, uma atmosfera surreal tomou conta do departamento. Funcionários trocavam olhares de descrença enquanto clicavam em “despublicar” em páginas que haviam atualizado apenas dias antes. O som de teclados clicando misturava-se a suspiros de frustração e ocasionais xingamentos abafados.

Fora do prédio do USDA, um pequeno grupo de manifestantes começou a se formar. Carregando cartazes com frases como “A ciência não é opinião” e “Clima é fato, não ficção”, eles representavam a crescente indignação pública. Entre eles estava Susan Miller, uma jovem agricultora orgânica do Oregon. “Estou aqui porque o que está acontecendo lá dentro afeta diretamente meu futuro e o futuro da minha fazenda”, declarou ela a um repórter local.

Corrida contra o tempo para salvar arquivos

Enquanto isso, nas redes sociais, uma corrida contra o tempo se desenrolava. Ativistas digitais, cientistas independentes e cidadãos preocupados formaram uma rede improvisada para arquivar o máximo possível de informações antes que fossem removidas. Hashtags como #ClimateDump e #SaveTheData trending topics, com usuários compartilhando links e instruções sobre como baixar e preservar os dados do USDA.

No final daquela sexta-feira fatídica, o cenário online do USDA estava irreconhecível. Onde antes havia mapas detalhados de zonas climáticas, agora restavam apenas páginas em branco ou mensagens de erro. O robusto banco de dados sobre emissões de gases de efeito estufa na agricultura? Desaparecido. As ferramentas interativas que permitiam aos agricultores planejar cultivos resilientes? Offline.

O impacto foi imediato e profundo. Na segunda-feira seguinte, John Peterson, o agricultor de Nebraska, tentou acessar as projeções climáticas que costumava consultar para planejar sua rotação de culturas. Tudo o que encontrou foi uma mensagem genérica: “Conteúdo temporariamente indisponível”. Frustrado, ele se perguntou como tomaria decisões cruciais para sua fazenda sem essas informações vitais.

Nas universidades, pesquisadores como a professora Maria Silva se viram subitamente sem acesso a dados essenciais para seus estudos. “É como se tivéssemos voltado décadas em termos de pesquisa climática”, lamentou ela durante uma videoconferência com colegas internacionais, todos igualmente perplexos com a situação.

A decisão de Trump não apenas afetou a comunidade científica e agrícola. Empresas do agronegócio que dependiam dos dados do USDA para desenvolver produtos e serviços climáticos inteligentes também foram pegas de surpresa. A AgriTech Solutions, uma startup promissora que desenvolvia algoritmos de previsão de safra baseados em dados climáticos, viu seu modelo de negócios desmoronar da noite para o dia.

À medida que as semanas passavam, os efeitos colaterais da decisão começaram a se manifestar de formas inesperadas. Seguradoras agrícolas, sem acesso aos modelos de risco climático do USDA, começaram a aumentar os prêmios de forma generalizada, alegando incerteza elevada. Isso gerou uma onda de protestos entre os agricultores, já pressionados por margens de lucro cada vez menores.

Mobilização no Congresso

No Congresso, a batalha política se intensificou. Parlamentares da oposição propuseram uma legislação de emergência para restaurar o acesso aos dados climáticos, argumentando que a remoção violava leis federais sobre retenção de registros públicos. O debate acalorado no plenário refletia a divisão profunda da sociedade americana sobre a questão climática.

Enquanto isso, nos bastidores do USDA, uma resistência silenciosa tomava forma. Funcionários dedicados encontravam maneiras criativas de manter vivos aspectos cruciais de seu trabalho climático. Alguns “escondiam” dados em relatórios aparentemente não relacionados, outros mantinham redes informais de compartilhamento de informações com colegas de outras agências e instituições acadêmicas.

Mobilização popular

A dra. Emily Chen, que havia salvo grande parte de seus dados de pesquisa, começou a organizar workshops clandestinos nos fins de semana, compartilhando informações vitais com agricultores e pesquisadores. “Não podemos deixar que anos de ciência sejam simplesmente apagados”, disse ela a um grupo reunido em um celeiro em Iowa. “O conhecimento pertence a todos nós.”

À medida que a primavera se aproximava, os efeitos práticos da falta de dados climáticos começaram a se manifestar nas fazendas americanas. Agricultores, sem acesso às projeções de longo prazo, faziam apostas arriscadas em suas escolhas de cultivo. Alguns, temendo secas, optaram por variedades mais resistentes, apenas para enfrentar chuvas inesperadas que favoreciam outras culturas.

John Peterson, o agricultor de Nebraska, viu sua produção de milho cair significativamente. “Sem as informações do USDA, estamos praticamente no escuro”, desabafou ele durante uma reunião da cooperativa local. “É como voltar aos tempos do meu avô, quando plantávamos baseados apenas na intuição.”

A situação atraiu a atenção internacional. Delegações de outros países, preocupadas com o impacto global da decisão americana, começaram a oferecer alternativas. O Brasil, por exemplo, anunciou que expandiria o acesso internacional ao seu banco de dados agroclimáticos, numa clara mensagem aos EUA.

Ironia do destino

Em uma ironia do destino, enquanto o governo Trump tentava minimizar a questão climática, a natureza parecia determinada a provar o contrário. O verão de 2025 trouxe uma série de eventos climáticos extremos: ondas de calor recordes no Meio-Oeste, inundações devastadoras no Sul e incêndios florestais sem precedentes na Califórnia. Cada desastre ressaltava dolorosamente a importância dos dados e ferramentas que haviam sido removidos.

A pressão pública finalmente começou a surtir efeito. Em agosto, vazamentos internos do USDA revelaram que alguns funcionários de alto escalão estavam reconsiderando a decisão, preocupados com os danos à reputação do departamento e à agricultura americana. Rumores de uma possível reversão da política começaram a circular em Washington.

Enquanto isso, a comunidade científica global se mobilizava. Conferências internacionais sobre clima e agricultura, antes dominadas por pesquisadores americanos, agora viam uma ascensão de vozes de outros países. A ausência dos dados do USDA criava lacunas, mas também estimulava novas colaborações e abordagens inovadoras.

No campo, agricultores como John Peterson começavam a buscar alternativas. Redes informais de compartilhamento de dados climáticos surgiram, com fazendeiros trocando observações e experiências. “Estamos voltando às raízes”, comentou Peterson. “Conversando mais com nossos vizinhos, observando a natureza. Não é ideal, mas estamos nos adaptando.”

À medida que o outono se aproximava, o debate sobre a política climática do governo Trump atingia um ponto crítico. A decisão de remover os dados do USDA havia se tornado um símbolo da luta maior entre ciência e política, entre adaptação e negação. O futuro da agricultura americana – e, por extensão, da segurança alimentar global – pendia na balança.

Enquanto isso, nos campos de Nebraska, John Peterson olhava para o horizonte, onde nuvens escuras se formavam. Sem os modelos climáticos do USDA, ele não sabia se aquilo significava uma chuva bem-vinda ou o prenúncio de uma tempestade devastadora. Num gesto que misturava esperança e resignação, ele murmurou para si mesmo: “Que venha o que vier. Nós, agricultores, sempre encontramos um jeito.”

O futuro da agricultura americana

A história da remoção dos dados climáticos do USDA ainda está longe de terminar. É um capítulo turbulento que reflete as complexidades e contradições de nossa era, onde a ciência, a política e a sobrevivência se entrelaçam de maneiras imprevisíveis. O que o futuro reserva para a agricultura americana e para nossa compreensão coletiva das mudanças climáticas ainda está para ser escrito. Mas uma coisa é certa: a natureza não espera por decretos presidenciais ou debates políticos. Ela segue seu curso, implacável, lembrando-nos a cada estação que ignorar a ciência tem um preço – um preço que todos nós, mais cedo ou mais tarde, teremos que pagar.

Redação Revista Amazônia

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