Meio Ambiente

Urina de festival vira cerveja sustentável na Suécia

Você já imaginou que a urina de um festival de música poderia ajudar a produzir cerveja? Na cidade sueca de Uppsala, isso é realidade. Durante o festival de Walpurgis, em 29 de abril, a empresa Sanitation360 coletou 20 mil litros de urina de banheiros químicos, transformando-a em fertilizante para cevada maltada. Esse pó nutritivo, pulverizado em plantações na ilha de Gotland, está revolucionando a produção de cerveja. Como funciona esse processo? Por que a urina é tão valiosa? Vamos mergulhar nessa história de sustentabilidade e inovação.

Como a urina se torna fertilizante

A iniciativa da Sanitation360 é tão simples quanto genial. Durante o festival no parque Ekonomikum, em Uppsala, a empresa instalou banheiros químicos com telas especiais que separam a urina de outros resíduos. Cerca de 20 mil litros foram coletados, quase o dobro dos 11 mil litros do ano anterior, segundo o Notícias UOL. Esse volume reflete o crescimento da aceitação do projeto, que começou em 2024.

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O material coletado é levado a uma usina de processamento, onde é transformado em pó rico em nitrogênio, fósforo e potássio — os famosos NPK, essenciais para o crescimento das plantas. Esse pó é então pulverizado sobre campos de cevada maltada em Gotland, uma ilha conhecida por suas cervejas artesanais. O resultado? Plantas mais fortes e uma produção mais sustentável, sem depender de fertilizantes químicos.

Por que usar urina na agricultura

A urina humana é um recurso abundante e subaproveitado. Rica em nutrientes, ela é um fertilizante natural que povos ancestrais já usavam, como apontam estudos da Nature. Diferentemente dos fertilizantes artificiais, que poluem rios e degradam solos, a urina tratada é ecológica e renovável. “A urina é uma fonte confiável e local, garantindo segurança alimentar em tempos incertos”, afirma a Sanitation360.

Na Suécia, a prática vai além da cerveja. Vegetais como alface e cenoura já crescem com fertilizantes à base de urina, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis usados na produção de adubos químicos. Björn Vinnerås, professor da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas e líder do projeto, destaca que o próximo passo é criar fertilizantes de alta qualidade para outras culturas, ampliando o impacto da iniciativa.

Cevada maltada e a alma da cerveja

A cevada maltada é o coração da cerveja, fornecendo os açúcares que as leveduras transformam em álcool. No Brasil, apenas 30% da cevada usada pela indústria cervejeira é produzida localmente, com o restante importado de países como Argentina e Uruguai, segundo a Wikipédia. Na Suécia, a qualidade da cevada de Gotland é um diferencial, e o uso de urina fertilizante cerveja eleva ainda mais seu valor sustentável.

O processo de malteação, que envolve germinação e secagem da cevada, é delicado. Fertilizantes artificiais podem comprometer o sabor e o aroma da cerveja, enquanto a urina tratada preserva as características naturais da cevada, como notas de nozes e doçura, ideais para estilos como Pilsner e Lager. Essa prática não só melhora a qualidade da cerveja, mas também reduz a pegada de carbono da produção.

Sustentabilidade em cada gole

A iniciativa da Sanitation360 é um exemplo de economia circular. Em vez de tratar a urina como resíduo, ela é vista como recurso, diminuindo o impacto ambiental dos festivais e da agricultura. Em Gotland, onde a cevada fertilizada com urina cresce, cervejarias artesanais estão abraçando o projeto, atraindo consumidores que valorizam produtos ecológicos. O festival de Uppsala, parte das celebrações de Walpurgis, tornou-se um laboratório vivo de inovação.

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Além disso, o projeto evita que milhares de litros de urina sejam despejados sem tratamento no Mar Báltico, protegendo ecossistemas aquáticos. A meta da Sanitation360 é coletar 70 mil litros em três anos, expandindo o uso do fertilizante para outras plantações, como mostra o site Árvore Água. Essa visão alinha-se com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, promovendo agricultura limpa e gestão responsável de recursos.

Desafios e aceitação pública

Nem todos abraçam a ideia de beber cerveja feita com cevada fertilizada por urina. O “fator nojo” é um obstáculo, mesmo que o pó seja seguro e não altere o sabor da bebida. A Sanitation360 investe em campanhas educativas, explicando que a urina é processada para eliminar patógenos, garantindo um produto higienizado. Ainda assim, a aceitação cultural varia, como destaca um artigo da Nature sobre a “revolução da urina”.

Outro desafio é a logística. Coletar e processar grandes volumes de urina exige infraestrutura avançada, algo que a Suécia, com sua tecnologia de ponta, consegue implementar. Países em desenvolvimento, como o Brasil, enfrentariam barreiras para replicar o modelo, embora a ideia inspire iniciativas locais, como o uso de resíduos orgânicos em biogás e fertilizantes.

Lições para o futuro

A Sanitation360 Suécia nos mostra que sustentabilidade pode ser criativa e prática. Transformar urina em fertilizante para cerveja é mais do que uma curiosidade — é um modelo de como reaproveitar recursos humanos para enfrentar crises ambientais. Em um mundo onde fertilizantes químicos poluem e esgotam solos, essa inovação aponta para um futuro onde nada é desperdiçado.

Projetos como esse também desafiam preconceitos, convidando-nos a repensar o que consideramos “resíduo”. Na Amazônia, por exemplo, comunidades tradicionais já usam restos orgânicos para enriquecer solos, uma prática que dialoga com a iniciativa sueca. Com a COP30 em Belém, em 2025, ideias como a da Sanitation360 podem inspirar soluções globais para a agricultura sustentável.

Brinde à inovação verde

Da próxima vez que você brindar com uma cerveja, pense na história por trás dela. Em Uppsala, cada gole carrega a ousadia de transformar urina em fertilizante, cevada em malte e ideias em realidade. A urina fertilizante cerveja é um convite para apoiar a sustentabilidade e celebrar inovações que respeitam o planeta. Junte-se a esse movimento, conheça mais sobre agricultura circular e ajude a construir um futuro mais verde.

 

Redação Revista Amazônia

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