Imagem: Daniel Antônio/Agência FAPESP
Embora sofra intensamente com os efeitos das mudanças no clima, a biodiversidade também representa uma das principais ferramentas para combatê-las. Eventos climáticos extremos têm causado perda e deslocamento de espécies, mas os chamados serviços ecossistêmicos e as soluções baseadas na natureza, que dependem diretamente de ecossistemas saudáveis, são fundamentais para implementar ações de adaptação e mitigação climática.
“A biodiversidade é a base dos serviços ecossistêmicos, que mantém as nossas vidas funcionando. Regula água, clima, solo, polinização e segurança alimentar. Portanto, a biodiversidade se conecta com as agendas de mitigação, adaptação e também com a de justiça climática”, explicou Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
Durante a conferência “Contribuições para a COP-30: A Biodiversidade na Agenda Climática”, que inaugurou a série Conferências FAPESP 2025 no dia 28 de março, Alencar defendeu a necessidade de uma maior integração entre biodiversidade e clima nas negociações internacionais.
Ela destacou que os ecossistemas desempenham papel essencial na remoção de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. Assim, prevenir o desmatamento e promover a restauração de áreas naturais se traduz em uma estratégia eficaz para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
No campo da adaptação, Alencar mencionou práticas como a restauração de encostas, que ajudam a evitar desastres naturais, garantem qualidade da água e permitem a produção de alimentos com menor uso de herbicidas, o que beneficia diretamente a saúde humana.
O encontro contou com a presença de especialistas e membros de comitês científicos da FAPESP, como os programas PROASA, PFPMCG, BIOTA e a Iniciativa Amazônia+10. O objetivo foi refletir sobre como a ciência pode contribuir com propostas concretas para a 30ª Conferência da ONU sobre Mudança do Clima, que ocorrerá em novembro em Belém (PA).
Simone Vieira, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Unicamp e coordenadora do BIOTA, alertou que o termo “biodiversidade” aparece apenas três vezes no documento oficial divulgado pela presidência da COP-30, liderada pelo embaixador André Corrêa do Lago.
“O clima não existe sem biodiversidade. É ela quem produz e sustenta o clima. Portanto, é inconcebível separar essas duas agendas”, afirmou Vieira.
Carlos Joly, professor emérito da Unicamp, lembrou que o princípio da “responsabilidade comum, porém diferenciada”, estabelecido na Rio-92, ainda gera impasses entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. O conceito estabelece que as nações mais ricas devem assumir maior responsabilidade pelo financiamento de ações climáticas, por serem historicamente as maiores emissoras de CO2.
Segundo Joly, esse mesmo princípio ainda não foi adotado na agenda de biodiversidade. Ele enfatizou que há mais de duas décadas se discute a integração entre os temas de clima e biodiversidade, mas o avanço é travado por interesses divergentes. “O Brasil, inclusive, se opôs à aprovação de um relatório conjunto do IPCC e da IPBES, aceitando apenas que o documento fosse ‘tomado nota’, ou seja, reconhecido, mas arquivado sem efeito prático.”
Alencar também alertou sobre a ausência de compromissos em relação aos incêndios florestais na pauta brasileira para a COP-30. Ela explicou que, apesar de agravados por eventos climáticos, esses incêndios, especialmente na Amazônia, são majoritariamente provocados por ações humanas e não são tratados como fontes significativas de emissão de gases de efeito estufa.
“Os incêndios não entram nos inventários de emissão. Considera-se que são eventos naturais, mas isso não se aplica às florestas tropicais. Em 2024, vimos um aumento expressivo nas queimadas, e cerca de 65% das emissões por fogo são tardias, quando as árvores morrem após o incêndio. É um tema urgente que precisa ser levado para a COP”, destacou.
A temática da COP-30 continuará em evidência ao longo de 2025 em outras cinco conferências promovidas pela FAPESP. Estão previstas participações de especialistas como David Obura (IPBES), em 25 de abril; Ima Vieira (Museu Paraense Emílio Goeldi), em 29 de abril; Thelma Krug (IPCC), em 30 de maio; Denise Duarte (USP), em 27 de junho; e Helena Nader (ABC), em 29 de agosto.
A íntegra do evento realizado em 28 de março está disponível no canal da FAPESP no YouTube: www.youtube.com/watch?v=rcn9iQTnccE
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