COP 30

Ibama combate caça ilegal no Tapajós e resgata quelônios ameaçados

Entre igarapés e praias de areia clara do rio Tapajós, no Pará, uma operação recente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) trouxe à tona tanto a gravidade da caça ilegal na Amazônia quanto os esforços de resistência para proteger a biodiversidade local. Em pouco mais de uma semana de ações de fiscalização, os agentes ambientais conseguiram resgatar 33 quelônios vivos, incluindo espécies ameaçadas como a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), o tracajá (Podocnemis unifilis) e o pitiú (Podocnemis sextuberculata).

Todos os animais apreendidos foram devolvidos ao rio, garantindo sua sobrevivência e fortalecendo o equilíbrio ecológico de uma região onde a pressão humana sobre a fauna ainda é intensa. Como parte do Programa Quelônios da Amazônia (PQA), os quelônios resgatados foram identificados e marcados. Esse procedimento técnico permite o monitoramento contínuo das populações e ajuda a identificar reincidências de captura. Foi o que ocorreu, por exemplo, com uma fêmea jovem de tartaruga que, após ser capturada em duas ocasiões diferentes, foi devolvida com segurança ao seu habitat.

Quelônios salvos pelo Ibama durante fiscalização no rio Tapajós (PA) – Foto: Fiscalização/Ibama

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Um retrato das ameaças

Apesar das vitórias pontuais, a operação também revelou os danos provocados pela caça ilegal. Durante a fiscalização, a equipe encontrou 11 tartarugas mortas. Em um gesto pragmático e ecológico, seus corpos foram devolvidos ao rio para servirem de alimento a outras espécies, fechando um ciclo natural interrompido pela ação humana.

Outro dado preocupante foi a apreensão de quatro jacarés-açu (Melanosuchus niger), já sem pele, evidência direta de caça predatória. O animal, que pode ultrapassar seis metros de comprimento, é considerado peça-chave nos ecossistemas aquáticos amazônicos, regulando populações de peixes e outros animais. Sua retirada ilegal impacta cadeias inteiras de equilíbrio ecológico.

Apreensões e penalidades

A operação não se restringiu ao resgate de fauna. Foram apreendidos dois barcos de madeira e um motor estacionário com rabeta, equipamentos usados pelos caçadores para acessar áreas remotas. O motor será destinado à unidade do Ibama em Santarém, reforçando a estrutura do órgão para futuras operações. Além disso, cinco espinheis — instrumentos de pesca predatória adaptados para capturar animais maiores — foram destruídos no local.

Cinco pessoas foram autuadas por crimes ambientais, e as multas aplicadas somaram inicialmente 165 mil reais. Com os agravantes previstos na legislação, os valores devem ultrapassar a marca de R$ 1 milhão. Dois adolescentes que estavam no barco com o grupo foram encaminhados à Vara da Infância e Juventude de Itaituba, evidenciando ainda a dimensão social do problema: a presença de menores em atividades ilícitas ligadas à exploração ambiental.

Conservação em disputa

O resgate e a devolução dos quelônios, por mais simbólicos que sejam, mostram o desafio de manter vivas espécies cuja carne e ovos ainda são valorizados em mercados ilegais. Historicamente, esses animais foram base alimentar de comunidades amazônicas, mas a pressão de caçadores comerciais e o comércio clandestino ampliaram as ameaças, tornando algumas populações críticas.

Nesse contexto, o Programa Quelônios da Amazônia tem se consolidado como uma das principais frentes de conservação da fauna aquática brasileira. Criado na década de 1970, o programa já possibilitou a soltura de milhões de filhotes em rios da Amazônia e vem apostando na educação ambiental, no monitoramento científico e na cooperação com comunidades ribeirinhas.

A mensagem da operação

A ação no rio Tapajós deixa uma mensagem clara: a fiscalização continua sendo essencial para conter práticas que ainda insistem em sobreviver à margem da lei. O resgate dos quelônios e a apreensão de jacarés não são apenas episódios pontuais, mas um lembrete da vulnerabilidade da fauna amazônica diante da ganância humana.

Mais do que aplicar multas, o esforço do Ibama tem um caráter pedagógico e dissuasório. Cada barco apreendido, cada armadilha destruída e cada animal devolvido à natureza representam não apenas um resultado imediato, mas um recado a caçadores e traficantes: a exploração ilegal da biodiversidade amazônica terá consequências.

Em uma região marcada por contrastes, onde comunidades dependem dos rios e ao mesmo tempo sofrem com os impactos da exploração predatória, a atuação integrada de órgãos ambientais continua sendo um dos pilares da preservação. A operação em Itaituba e Santarém reforça que a Amazônia é um território em disputa, e que proteger sua fauna é, ao mesmo tempo, defender o patrimônio natural e o futuro das próximas gerações.

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