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Compartilhamento de dados abertos é essencial na busca de soluções para a sustentabilidade

A união de forças entre diferentes países e agências de fomento será essencial para garantir a sustentabilidade do planeta e para enfrentar crises como a da COVID-19. A avaliação foi feita por participantes do seminário virtual “GRC Americas – Open Science, International Cooperation and Sustainability”, ocorrido em 11 de outubro. O evento reuniu representantes de agências de fomento à pesquisa do continente americano que integram o Global Research Council (GRC) – entidade que congrega os principais financiadores de pesquisa do mundo.

Segundo os participantes, os repositórios abertos de dados de pesquisa já são uma realidade, mas ainda têm grande potencial de avançar por meio da colaboração entre instituições de diferentes países.

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“Ciência é um bem público. Os resultados das pesquisas financiadas com dinheiro público, portanto, são bens públicos e têm de ser disponibilizados o mais rapidamente possível, respeitando os princípios da ética científica, privacidade e segurança, assim como a proteção de propriedade intelectual”, frisou Carlos Frederico de Oliveira Graeff, professor da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (FC-Unesp), em Bauru, durante a abertura do evento, transmitido para inscritos pela plataforma Zoom.

Graeff apresentou iniciativas em ciência aberta da FAPESP, como o lançamento em 2011 do Código de Boas Práticas Científicas (atualizado em 2014), que versa, entre outros tópicos, sobre a acessibilidade das informações, além da experiência com a SciELO, plataforma de revistas científicas de acesso aberto que completou 25 anos em 2023.

Em 2019, lembrou, a Fundação lançou sua política de acesso aberto dos resultados das pesquisas apoiadas, além de ter dado suporte à rede de repositórios institucionais do Estado.

“Toda pesquisa apoiada pela FAPESP deve ter um plano de gestão de dados e isso foi especialmente importante na recente crise da COVID-19. Estamos muito envolvidos em garantir que tenhamos dados abertos de pesquisa e acho que, nesse ponto, isso está se tornando cada vez mais importante para a prática da ciência”, disse o pesquisador, mencionando o FAPESP COVID-19 DataSharing/BR, base que reúne dados compartilhados de pacientes diagnosticados com COVID-19 em hospitais parceiros.

Por sua vez, Lautaro Matas, diretor técnico executivo da plataforma La Referencia, contou que um dos principais objetivos da iniciativa é dar visibilidade à produção científica das instituições de educação superior e pesquisa da América Latina, promovendo o acesso aberto e gratuito às publicações científicas.

“Operamos como uma rede federada, somos construídos à base de agregadores nacionais. Damos o software, a tecnologia, a infraestrutura para construir esses portais e para desenvolver também as melhores práticas acerca da interoperabilidade de dados, compartilhamento de literatura e diferentes tipos de padrões. Com isso, constroem-se nós [nodes] nacionais e regionais, que se interligam com redes internacionais”, explicou.

Para o pesquisador, é importante a representação de cada país, por meio de uma governança construída por instituições nacionais e regionais. Atualmente, a plataforma tem um acordo com a Espanha, e está em negociações com Portugal e países africanos, para colaborarem e terem acesso à rede de repositórios.

Inteligência artificial

Durante o seminário, Graeff, da Unesp, lembrou outro evento ocorrido no âmbito do GRC em setembro. No webinário “GRC Americas – International Cooperation on Artificial Intelligence”, discutiu-se a necessidade de chamadas multilaterais em inteligência artificial (IA), buscando a sustentabilidade na América Latina.

“A pandemia de COVID-19 mostrou que a colaboração internacional é um mecanismo muito eficiente para reforçar as capacidades e tornar o conhecimento acessível para todos. Mais do que discutir sustentabilidade e as aplicações da inteligência artificial, é fundamental discutir o papel das agências de fomento em moldar o futuro da pesquisa e o desenvolvimento da IA”, disse Esther Luna Colombini, professora do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (IC-Unicamp), que abriu o seminário.

Segundo a pesquisadora, as agências têm o poder de fomentar um ecossistema ético e inclusivo, que beneficie toda a humanidade, independentemente da região geográfica. Por isso, é essencial que as agências deem suporte a iniciativas que promovam acesso igualitário à IA em todos os países.

“Na minha opinião, as agências de fomento podem liderar pelo exemplo. Podem estabelecer diretrizes e requisitos éticos para as pesquisas em IA que financiam. Essas diretrizes podem servir como faróis, guiando pesquisadores e desenvolvedores para trabalhar segundo as melhores práticas”, afirmou.

Redação Revista Amazônia

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