Saúde

Contaminação por mercúrio afeta 94% dos indígenas em 9 comunidades Yanomami

 

Em nove comunidades da Terra Indígena Yanomami, 94% dos indígenas apresentam alto nível de contaminação por mercúrio, de acordo com um novo estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Socioambiental (ISA). Essa pesquisa, divulgada recentemente, revela que o metal pesado está presente em 94% dos indígenas que participaram do estudo.

Publicidade

Captura de tela 2024 04 04 125109Captura de tela 2024 04 04 125109As amostras de cabelo foram coletadas de 287 indígenas do subgrupo Ninam, pertencente ao povo Yanomami. O estudo também identificou que os indígenas que vivem em aldeias próximas a garimpos ilegais têm os maiores níveis de exposição ao mercúrio. Essas comunidades estão localizadas às margens do Rio Mucajaí, que é um dos rios mais impactados pelo garimpo ilegal na Terra Yanomami. Esse território abriga cerca de 31 mil indígenas, distribuídos em 370 comunidades.

O povo Yanomami é considerado de recente contato com a população não indígena e se divide em seis subgrupos de línguas da mesma família: Yanomam, Yanomamɨ, Sanöma, Ninam, Ỹaroamë e Yãnoma.

Das 287 amostras de cabelo examinadas, 84% registraram níveis de contaminação por mercúrio acima de 2,0 μg/g (micrograma por grama), enquanto 10,8% ficaram acima de 6,0 μg/g. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os níveis de mercúrio em cabelo não devem ultrapassar 1 micrograma por grama.

Os pesquisadores também observaram que indígenas com níveis mais elevados de mercúrio apresentaram déficits cognitivos e danos nos nervos das extremidades, como mãos, braços, pés e pernas, com mais frequência.

Além da detecção do mercúrio, o estudo realizou exames clínicos para identificar doenças crônicas não transmissíveis, como transtornos nutricionais, anemia, diabetes e hipertensão. Foi observado que, nos indígenas com pressão alta, os níveis de mercúrio acima de 2,0 μg/g são mais frequentes do que nos indígenas com pressão arterial normal.

Essas nove comunidades não são as únicas afetadas pela contaminação por mercúrio. Em outra pesquisa realizada em 2016, a Fiocruz já havia revelado o alto nível de mercúrio entre os Yanomami. Na época, indígenas de três comunidades próximas ao Rio Uraricoera, uma das principais vias fluviais de acesso a garimpos ilegais no território, também apresentaram alto nível de mercúrio no organismo, com 92,3% de contaminação.

A Terra Yanomami, com seus 9,6 milhões de hectares, é considerada o maior território indígena do Brasil em extensão territorial. No entanto, enfrenta uma crise sem precedentes, com casos graves de indígenas com malária e desnutrição severa. O garimpo ilegal tem impactado diretamente o modo de vida dos povos originários, causando destruição ambiental, violência, conflitos armados e poluição dos rios devido ao uso do mercúrio. Somente em 2022, a devastação no território chegou a 54%.

Apesar das ações do governo federal para enfrentar a crise, incluindo o envio de profissionais de saúde e forças de segurança, o garimpo ilegal e a crise humanitária persistem na região.

O mercúrio, usado por garimpeiros para separar o ouro de outros sedimentos, é altamente tóxico para os seres humanos. Após ser utilizado, o mercúrio é jogado nos rios, causando poluição ambiental e afetando diretamente a saúde da população,

Redação Revista Amazônia

Published by
Redação Revista Amazônia

Recent Posts

Prédios com vidraças nas cidades ameaçam aves, aponta pesquisa

Um estudo publicado nesta semana no periódico Ecology mostrou que 4.103 aves colidiram com janelas de vidro em um período de…

3 horas ago

Começa conferência de Bonn que abre negociações para COP30

A 62ª sessão dos Órgãos Subsidiários da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (SB…

3 horas ago

Sardinha supera o leite em cálcio e emerge como aliada poderosa na saúde óssea

Por muito tempo, o leite ocupou o posto de principal fonte de cálcio nas dietas…

4 horas ago

Amazônia, edição de junho/25 analisa os limites do planeta e o futuro da vida sob o calor extremo

A edição de junho da Revista Amazônia chega em meio a um cenário climático global…

5 horas ago

Amapá surge como maior reservatório de biomassa da Amazônia, revela estudo internacional

Um estudo de impacto internacional, publicado nesta semana na revista científica Sustainability, com sede na…

9 horas ago

A face escondida dos anúncios: como a publicidade enganosa na Meta impacta a saúde mental dos consumidores

Em um mundo cada vez mais mediado por telas, likes e algoritmos, os anúncios publicitários…

10 horas ago