Foto: Sergio Moraes/COP30
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) começou em Belém sob o signo da urgência. Em seu primeiro discurso como presidente da conferência, o embaixador André Corrêa do Lago, diplomata brasileiro de longa trajetória em negociações ambientais, convocou os países participantes a transformar compromissos em resultados concretos diante do agravamento da crise climática.
O embaixador fez referência direta ao tornado que devastou Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, na última semana, deixando seis mortos e centenas de feridos. A tragédia, segundo ele, simboliza o que está em jogo: vidas, comunidades e economias cada vez mais expostas a eventos extremos. “A questão da urgência é o elemento adicional. Somos lembrados, com grande tristeza, por tragédias recentes no Brasil, nas Filipinas e na Jamaica. Temos uma responsabilidade imensa”, afirmou.
Ele foi eleito por aclamação para presidir a COP30, reforçando a liderança do Brasil em um momento decisivo para o futuro do Acordo de Paris. Corrêa do Lago sublinhou que esta é uma conferência “de implementação”, dedicada a tirar do papel os compromissos assumidos ao longo das últimas décadas. “Espero que seja lembrada também como uma COP de adaptação, que integre o clima à economia, à geração de empregos e à educação — e que escute a ciência”, destacou.
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Antes do discurso do brasileiro, o palco da COP30 foi ocupado por Mukhtar Babayev, ministro do Meio Ambiente do Azerbaijão e presidente da COP29, realizada em Baku no ano anterior. Ele apresentou um balanço das decisões tomadas em 2024, centradas no financiamento climático para países em desenvolvimento — tema que agora retorna com ainda mais força à agenda de Belém.
Na conferência de Baku, os países concordaram em triplicar o volume de recursos climáticos internacionais, elevando a meta de US$ 100 bilhões anuais para US$ 300 bilhões até 2035, além de ampliar o total combinado de fontes públicas e privadas para US$ 1,3 trilhão por ano. Mesmo assim, o valor foi considerado insuficiente por nações em desenvolvimento, incluindo o Brasil, que defendem um piso anual de US$ 1,3 trilhão exclusivamente em financiamento climático.
“O objetivo financeiro de Baku vai ser um sucesso se mantivermos o espírito do acordo. As comunidades precisam ser protegidas e ter financiamento real”, afirmou Babayev. Ele defendeu a continuidade das metas no sistema das Nações Unidas e insistiu que “a construção de novos acordos não é em vão”.
O discurso inaugural em Belém marca um ponto de inflexão nas negociações climáticas globais. Corrêa do Lago destacou que a COP30, sediada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o apoio do Itamaraty e do Governo do Brasil, pretende consolidar avanços em adaptação e financiamento — e ampliar o diálogo entre ciência, cultura e políticas públicas.
A menção às tragédias climáticas recentes, como o tornado no Paraná, serviu de lembrete de que o impacto das mudanças do clima não é uma previsão distante, mas uma realidade presente. O embaixador afirmou que a COP de Belém deve ser um marco para vincular a agenda ambiental às dimensões econômica e social, conectando desenvolvimento sustentável à criação de empregos verdes e à transição energética.
“Esta é uma COP que deve unir ciência, cultura e multilateralismo. Só assim poderemos dar respostas à altura da crise”, ressaltou Corrêa do Lago, ecoando a expectativa de que a conferência brasileira seja lembrada como a COP da implementação — o momento em que o mundo decidiu agir.
Com o início das negociações, Belém se torna o centro de um debate que ultrapassa fronteiras: como financiar a adaptação dos mais vulneráveis, reduzir emissões e transformar compromissos em medidas tangíveis. O caminho, como indicou o presidente da COP30, exige mais do que promessas — exige urgência, solidariedade e ação coordenada.
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