COP 30

Especialistas reforçam urgência de ação climática e proteção da Amazônia

Na véspera da COP30, que ocorrerá em Belém entre 10 e 21 de novembro, o Workshop de Integração e Fortalecimento da Ciência da Agenda Climática, promovido pela Finep, reuniu especialistas, pesquisadores e gestores para discutir a ciência e políticas públicas voltadas para enfrentar a crise climática. O evento destacou que, sem medidas ambiciosas de mitigação e adaptação, o desenvolvimento sustentável não se concretiza.

O terceiro painel do encontro concentrou-se na Amazônia e na dimensão socioambiental da agenda climática. Coordenado por Ima Vieira, assessora especial da Finep e especialista do Museu Paraense Emílio Goeldi, o debate abordou a preservação florestal, a contenção do desmatamento e a urgência de políticas efetivas de descarbonização. Para Vieira, a floresta amazônica é estratégica não apenas para o Brasil, mas para o equilíbrio climático global.

A professora Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB), destacou que a Amazônia deve ser analisada considerando sua complexidade urbana, florestal e hídrica. Ela alertou que, sem ação climática eficaz, o mundo caminha para um aquecimento médio de 2,7 graus Celsius até o fim do século, com impactos severos em ecossistemas, sociedades humanas e economia. “Eventos extremos aumentam com rapidez e afetam de forma cascata os ecossistemas e as populações locais. Sem ação climática ambiciosa, o desenvolvimento sustentável não será possível”, afirmou.

Divulgação Finep

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O professor Paulo Artaxo, coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável da USP, reforçou que a Amazônia é essencial para o ciclo de carbono e a evapotranspiração, regulando chuvas e clima em grande parte da América do Sul. Segundo Artaxo, a temperatura média projetada de 2,7°C globalmente implicará aumentos de 4 a 4,5°C em regiões do Brasil, com impactos violentos no Nordeste e no Centro-Oeste. Ele defendeu a implementação de um modelo amazônico inovador, que combine justiça climática, bioeconomia e proteção de povos tradicionais.

O painel ressaltou seis ações estratégicas para enfrentar a crise: eliminar o uso de combustíveis fósseis, zerar o desmatamento em florestas tropicais, adaptar-se à nova realidade climática, viabilizar financiamento internacional para transição energética de países em desenvolvimento, fortalecer a cooperação multilateral e estruturar uma gestão nacional da agenda climática.

Adalberto Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), apontou que as mudanças climáticas afetam profundamente ecossistemas aquáticos e terrestres. Ele descreveu o “trio da morte” — aquecimento, acidificação e hipóxia — que ameaça espécies de peixes essenciais à alimentação das populações amazônicas, agravado por poluentes como metais pesados, plásticos, microplásticos, derivados de petróleo e agrotóxicos.

O presidente da Finep, Luiz Antonio Elias, destacou que a instituição dispõe de capacidade de financiamento à ciência e inovação, central para o sucesso das ações climáticas e para a efetividade de políticas pós-COP30. O secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luis Fernandes, reforçou que os resultados do workshop, envolvendo 50 instituições científicas e 80 especialistas, serão incorporados à agenda da conferência internacional.

O evento também contou com a participação de Carolina Grottera, diretora do Programa da Secretaria-executiva do Ministério da Fazenda, que destacou como a agenda ambiental e climática orienta o planejamento econômico do governo, incluindo finanças sustentáveis, bioeconomia, sistemas agroalimentares e economia circular. Julio Salarini Guiomar, do BNDES, reforçou a importância do financiamento público e privado, apontando o déficit de cerca de R$ 5 bilhões para restauração florestal e iniciativas ambientais.

O documento final do workshop propõe três prioridades fundamentais: implementar uma matriz energética limpa e renovável, zerar o desmatamento e garantir financiamento climático internacional. Para a Amazônia, recomenda-se um modelo de desenvolvimento sustentável que concilie bioeconomia, segurança alimentar, proteção de povos tradicionais e combate à exploração ilegal.

O encontro deixou claro que ciência, políticas públicas e participação da sociedade civil precisam caminhar juntos para que a COP30 resulte em mudanças reais e duradouras, posicionando o Brasil como protagonista global na proteção do clima e da Amazônia.

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