Categories: DestaqueGeral

Desafios e Oportunidades da Bioeconomia Inclusiva na Amazônia

O consenso é claro entre especialistas: a bioeconomia é fundamental para o desenvolvimento da Amazônia. No entanto, a vasta e complexa região enfrenta inúmeros desafios que dificultam o desenvolvimento sustentável das cadeias produtivas, a conservação da biodiversidade e a melhoria do bem-estar das comunidades locais. A pergunta crucial é: bioeconomia para quem?

Captura de tela 2024 06 17 100935Captura de tela 2024 06 17 100935

Publicidade

Essa questão é o cerne do livro “Bioeconomia para quem?”, que reúne 12 artigos escritos por 32 autores de instituições acadêmicas das regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil. O lançamento do livro ocorrerá nesta quarta-feira (19/06) no Auditório Capacit da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.

Segundo os organizadores Adalberto Luis Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e Jacques Marcovitch, ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP), a bioeconomia deve não apenas beneficiar empresas, mas também atender às necessidades de extrativistas, pescadores e povos da floresta.

O livro está dividido em cinco partes, abordando desde cadeias produtivas e comércio até organização social, tecnologias, restauração florestal e questões de violência e ilicitude na região.

Fomento ao Diálogo e à Ação

Jacques Marcovitch destaca que o livro visa abrir diálogo sobre os caminhos possíveis para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Fruto de três anos de trabalho, cada capítulo é resultado de uma “expedição”, culminando em um quadro de prioridades, ações e métricas.

A pesquisa que fundamenta o livro foi desenvolvida no âmbito de projetos apoiados pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Na “Apresentação”, Carlos Américo Pacheco, da FAPESP, e Márcia Perales Mendes da Silva, da Fapeam, enfatizam a relevância do livro no contexto do Programa Amazônia+10.

Cadeias Produtivas Sustentáveis na Amazônia

O primeiro artigo analisa a cadeia de valor do açaí, envolvendo diversas etapas produtivas e destacando desafios como a informalidade e a falta de suporte técnico e financeiro. Os autores sugerem ações prioritárias, incluindo o desenvolvimento de tecnologias de colheita e políticas de repartição de benefícios justas.

O segundo capítulo aborda o cacau, enfatizando a necessidade de melhor governança para que os produtores possam apropriar-se de maior valor. No terceiro capítulo, a pesca ilegal é apontada como um grande entrave para a cadeia de manejo do pirarucu, com recomendações para melhorar a fiscalização e a certificação de procedência.

A primeira parte do livro se encerra com um capítulo sobre meliponicultura, prática sustentável que promove a conservação da biodiversidade e gera renda para as comunidades locais.

Cidadania, Conhecimento e Tecnologia

A segunda parte do livro discute o fortalecimento da cidadania amazônica e das organizações sociais. Os autores propõem a implementação de um sistema de governança biorregional e de diplomacia ambiental para promover melhor gestão dos recursos naturais e reconhecimento dos direitos e conhecimentos das populações locais.

O segundo artigo dessa seção destaca as metaorganizações como estratégia para maximizar o potencial transformador da bioeconomia, enfatizando a necessidade de novos mecanismos de governança e colaboração com populações tradicionais.

Informação e Novas Tecnologias

A terceira parte do livro explora o potencial dos produtos florestais não madeireiros (PFNMs) e as novas tecnologias. Destacam-se o açaí, cacau, castanha-do-brasil, entre outros, mas muitos desses produtos ainda apresentam baixa produtividade e renda. É necessário considerar fatores como geografia econômica e maturidade dos sistemas de produção para desenhar intervenções adequadas.

Adalberto Val e Isabela Litaiff apontam para o enorme potencial inexplorado da biodiversidade da floresta, destacando a importância da interação entre conhecimentos tradicionais e modernos. Juan Carlos Castilia-Rubino e Luciana Russo Correa Castilla defendem uma abordagem complementar de bioeconomia computacional para decifrar dados biológicos e produzir bioprodutos avançados.

Restauração Florestal e Práticas Agrícolas

A quarta parte do livro aborda a restauração florestal e as práticas agrícolas dos povos indígenas. Nathalia Nascimento e Pedro Henrique Santin Brancalion analisam a distribuição do desmatamento e as estratégias para restauração florestal, destacando a necessidade de reconhecer a restauração como uma alternativa viável e sustentável.

Camila Loureiro Dias, Joana Cabral de Oliveira e Vera Lúcia Aguiar Moura discutem as práticas agrícolas indígenas, ressaltando como essas práticas têm contribuído para a conservação e aumento da biodiversidade amazônica.

Violência e Ilicitude

O último artigo do livro, escrito por Marcovitch e Adalberto Val, aborda a questão da violência e ilicitude na região. Eles alertam para a ocupação de territórios por grupos criminosos e a contaminação dos rios por mercúrio, destacando a urgência de ações de descontaminação e concertação entre governo e sociedade civil para enfrentar esses desafios.

Publicação e Disponibilidade

“Bioeconomia para quem? Base para um Desenvolvimento Sustentável na Amazônia” foi publicado pela Com Arte, editora-laboratório da ECA-USP, com apoio da USP, Inpa, UFPA e Instituto Peabiru. O livro está disponível na íntegra em: link.

Redação Revista Amazônia

Published by
Redação Revista Amazônia

Recent Posts

Natureza como aliada na recuperação dos oceanos, afirma especialista durante conferência na ONU

Na 3ª Conferência dos Oceanos da ONU, realizada em Nice, na França, a bióloga e…

7 horas ago

Brasil aposta na nanocelulose para inovar em materiais sustentáveis

O avanço da tecnologia de materiais e a crise enfrentada pela indústria tradicional de papel…

8 horas ago

Condições favoráveis ​​para incêndios florestais

Temperaturas mais altas ao redor do mundo estão prolongando as temporadas de incêndios, levando a…

8 horas ago

Pesquisadores brasileiros desenvolvem método inédito para reciclar lâmpadas LED

Com cerca de 350 milhões de lâmpadas LED comercializadas anualmente no Brasil, o país enfrenta…

12 horas ago

O truque com pasta de dente que devolve o brilho dos metais da cozinha

Você já olhou para as torneiras, puxadores ou panelas da sua cozinha e percebeu que…

14 horas ago

Coloque chá de casca de banana na terra da jiboia e veja como ela reage

Já imaginou transformar restos da sua cozinha no segredo para uma planta mais vibrante e…

14 horas ago