Categories: DestaqueGeral

Desafios e Oportunidades da Bioeconomia Inclusiva na Amazônia

O consenso é claro entre especialistas: a bioeconomia é fundamental para o desenvolvimento da Amazônia. No entanto, a vasta e complexa região enfrenta inúmeros desafios que dificultam o desenvolvimento sustentável das cadeias produtivas, a conservação da biodiversidade e a melhoria do bem-estar das comunidades locais. A pergunta crucial é: bioeconomia para quem?

Publicidade

Essa questão é o cerne do livro “Bioeconomia para quem?”, que reúne 12 artigos escritos por 32 autores de instituições acadêmicas das regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil. O lançamento do livro ocorrerá nesta quarta-feira (19/06) no Auditório Capacit da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.

Segundo os organizadores Adalberto Luis Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e Jacques Marcovitch, ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP), a bioeconomia deve não apenas beneficiar empresas, mas também atender às necessidades de extrativistas, pescadores e povos da floresta.

O livro está dividido em cinco partes, abordando desde cadeias produtivas e comércio até organização social, tecnologias, restauração florestal e questões de violência e ilicitude na região.

Fomento ao Diálogo e à Ação

Jacques Marcovitch destaca que o livro visa abrir diálogo sobre os caminhos possíveis para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Fruto de três anos de trabalho, cada capítulo é resultado de uma “expedição”, culminando em um quadro de prioridades, ações e métricas.

A pesquisa que fundamenta o livro foi desenvolvida no âmbito de projetos apoiados pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Na “Apresentação”, Carlos Américo Pacheco, da FAPESP, e Márcia Perales Mendes da Silva, da Fapeam, enfatizam a relevância do livro no contexto do Programa Amazônia+10.

Cadeias Produtivas Sustentáveis na Amazônia

O primeiro artigo analisa a cadeia de valor do açaí, envolvendo diversas etapas produtivas e destacando desafios como a informalidade e a falta de suporte técnico e financeiro. Os autores sugerem ações prioritárias, incluindo o desenvolvimento de tecnologias de colheita e políticas de repartição de benefícios justas.

O segundo capítulo aborda o cacau, enfatizando a necessidade de melhor governança para que os produtores possam apropriar-se de maior valor. No terceiro capítulo, a pesca ilegal é apontada como um grande entrave para a cadeia de manejo do pirarucu, com recomendações para melhorar a fiscalização e a certificação de procedência.

A primeira parte do livro se encerra com um capítulo sobre meliponicultura, prática sustentável que promove a conservação da biodiversidade e gera renda para as comunidades locais.

Cidadania, Conhecimento e Tecnologia

A segunda parte do livro discute o fortalecimento da cidadania amazônica e das organizações sociais. Os autores propõem a implementação de um sistema de governança biorregional e de diplomacia ambiental para promover melhor gestão dos recursos naturais e reconhecimento dos direitos e conhecimentos das populações locais.

O segundo artigo dessa seção destaca as metaorganizações como estratégia para maximizar o potencial transformador da bioeconomia, enfatizando a necessidade de novos mecanismos de governança e colaboração com populações tradicionais.

Informação e Novas Tecnologias

A terceira parte do livro explora o potencial dos produtos florestais não madeireiros (PFNMs) e as novas tecnologias. Destacam-se o açaí, cacau, castanha-do-brasil, entre outros, mas muitos desses produtos ainda apresentam baixa produtividade e renda. É necessário considerar fatores como geografia econômica e maturidade dos sistemas de produção para desenhar intervenções adequadas.

Adalberto Val e Isabela Litaiff apontam para o enorme potencial inexplorado da biodiversidade da floresta, destacando a importância da interação entre conhecimentos tradicionais e modernos. Juan Carlos Castilia-Rubino e Luciana Russo Correa Castilla defendem uma abordagem complementar de bioeconomia computacional para decifrar dados biológicos e produzir bioprodutos avançados.

Restauração Florestal e Práticas Agrícolas

A quarta parte do livro aborda a restauração florestal e as práticas agrícolas dos povos indígenas. Nathalia Nascimento e Pedro Henrique Santin Brancalion analisam a distribuição do desmatamento e as estratégias para restauração florestal, destacando a necessidade de reconhecer a restauração como uma alternativa viável e sustentável.

Camila Loureiro Dias, Joana Cabral de Oliveira e Vera Lúcia Aguiar Moura discutem as práticas agrícolas indígenas, ressaltando como essas práticas têm contribuído para a conservação e aumento da biodiversidade amazônica.

Violência e Ilicitude

O último artigo do livro, escrito por Marcovitch e Adalberto Val, aborda a questão da violência e ilicitude na região. Eles alertam para a ocupação de territórios por grupos criminosos e a contaminação dos rios por mercúrio, destacando a urgência de ações de descontaminação e concertação entre governo e sociedade civil para enfrentar esses desafios.

Publicação e Disponibilidade

“Bioeconomia para quem? Base para um Desenvolvimento Sustentável na Amazônia” foi publicado pela Com Arte, editora-laboratório da ECA-USP, com apoio da USP, Inpa, UFPA e Instituto Peabiru. O livro está disponível na íntegra em: link.

Redação Revista Amazônia

Recent Posts

Quais os impactos de dormir por uma semana? O que acontece com nosso corpo?

Dormir é uma necessidade vital para o organismo, mas você já imaginou o que aconteceria…

5 minutos ago

Armaduras “Líquidas” Inspiradas em Polvos Revolucionam Proteção Pessoal

Cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolveram um material revolucionário que promete transformar…

2 horas ago

Petrobras afirma ter cumprido todas as exigências do Ibama para exploração na Margem Equatorial

  Durante o Fórum Brasil de Energia, realizado na Federação das Indústrias do Estado do…

5 horas ago

Hortelã: cultivo saudável, erros comuns e como fazer mudas facilmente

A hortelã é uma das ervas mais versáteis e fáceis de cultivar, seja em jardins,…

6 horas ago

Computação Quântica Desvenda Mistério de Meio Século em Química

Em um avanço revolucionário, cientistas da IBM e da Cleveland Clinic utilizaram um computador quântico…

21 horas ago

Comércio global de vida selvagem

Quando as pessoas pensam em comércio de vida selvagem, elas frequentemente imaginam contrabandistas trazendo espécies raras…

21 horas ago

This website uses cookies.