Embrapa aprimora a produção de cacau nativo da Amazônia

 

No final de janeiro, uma equipe da Embrapa Acre visitou Boca do Acre, um município na fronteira do Amazonas, para implementar o projeto “Cacau Nativo”. Este projeto, realizado em colaboração com a Cooperativa Agroextrativista do Mapiá e Médio Purus (Cooperar), visa desenvolver e validar tecnologias para aumentar a produção de cacau nativo. Além disso, o projeto busca identificar características de qualidade únicas do cacau nativo produzido em comunidades ribeirinhas do Purus através de análises laboratoriais.

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Atualmente, a coleta de cacau nativo na região de Boca do Acre é realizada em áreas de várzea, o que dificulta a coleta durante as grandes cheias do rio Purus. “Com este projeto, pretendemos não apenas intensificar o manejo das plantas em áreas de várzea, mas também apoiar os produtores na implantação de plantações em terra firme. O cacau será plantado como parte de Sistemas Agroflorestais (SAF), juntamente com a castanheira, açaí e outras espécies de interesse da comunidade. Isso proporcionará maior estabilidade produtiva, considerando a sazonalidade da produção em várzeas”, explica Elias Miranda, pesquisador da Embrapa e líder do projeto.

José Antônio da Conceição Camilo, presidente da Cooperar, acredita que a parceria com a Embrapa ajudará a melhorar a qualidade do produto. “Nosso cacau é especial. É um produto fino, já aprovado por consumidores da Alemanha, Japão e outras partes do mundo. No entanto, buscamos a Embrapa para obter orientações sobre o manejo nas várzeas e em terra firme, a fim de garantir uma produção contínua”, destaca Camilo.

Nas áreas de várzea, os produtores já realizam práticas de manejo, como poda para eliminar ramos não produtivos e limpeza ao redor da planta, que favorecem o crescimento de plantas jovens e facilitam a colheita. “Uma das ações do projeto é promover o adensamento dos cultivos, ou seja, o plantio de mudas em áreas florestais que estão menos ocupadas pelo cacau e têm potencial de produção. Isso aumentará o rendimento do extrativismo, principalmente em áreas onde não ocorrem inundações frequentes”, destaca Miranda.

Indicação Geográfica

Outro aspecto do Projeto Cacau Nativo é o registro da produção e a caracterização da matéria-prima, visando à Indicação Geográfica (IG) do produto. “Para obter o registro de IG, é fundamental coletar informações sobre a produção: onde e como ocorre, delimitação da área, tipos de solos e realizar análises laboratoriais da matéria-prima para avaliar as peculiaridades do cacau nativo da região do rio Purus”, complementa Miranda.

O levantamento e classificação de solos do município de Boca do Acre, que está sendo realizado como parte do projeto “Inovações Tecnológicas para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia”, desenvolvido pela Embrapa Acre com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), também contribuirá para a qualificação da região no processo de Indicação Geográfica do cacau nativo.

Renda para as comunidades

A cooperativa Cooperar reúne produtores da região do médio rio Purus, desde a foz do Rio Iaco, próximo de Sena Madureira, no Acre, até o município de Lábrea, no Amazonas. São aproximadamente 1.000 quilômetros de rio e cerca de 470 famílias associadas, com uma produção anual estimada em 20 toneladas de amêndoas fermentadas e secas. Em anos anteriores, essa produção já alcançou 40 toneladas.

Miranda explica que, além das ações em áreas mais distantes, como a reserva extrativista do Arapixi, o projeto prevê a implantação de unidades demonstrativas próximas à cidade de Boca do Acre, para facilitar a logística e o processo de transferência de tecnologias para a cultura. “Inicialmente, vamos atuar na comunidade do Lago Novo, área de várzea com grande ocorrência de cacau, e também na terra indígena Camicuã, onde já existe uma estrutura para o beneficiamento das amêndoas. Em momento oportuno, ampliaremos as ações para outras localidades”, acrescenta.

Segundo o pesquisador, muitos produtores ribeirinhos se beneficiam com a exploração desse produto nativo, o que também contribui para manter a floresta em pé. “Os cooperados, além de comercializar a amêndoa fermentada e seca, ‘nibs’, manteiga, farinha e vinagre de cacau, vislumbram a produção de um chocolate com a marca da Cooperar”, diz.

Para o cooperado Eliseu da Silva Souza, a expectativa é que a parceria da Embrapa com a Cooperar proporcione melhoria na produção e mais conhecimento para os produtores sobre o manejo do cacau. “Tenho muita experiência e desde a época da minha avó já produzia chocolate artesanalmente, em casa. Mas só depois de fazer parte da cooperativa passei a comercializar o produto”, ressalta o produtor.

Com a guerra na Ucrânia, a demanda pelo cacau do Purus diminuiu, já que empresas alemãs, principais compradoras do produto, reduziram o ritmo de produção nas indústrias de chocolate. Em busca de uma solução para o problema, a Cooperar incrementou a venda no mercado nacional. Produtores de chocolate de São Paulo e da Bahia, por exemplo, já estão comprando parte do cacau comercializado pela cooperativa.

Em campo

Em janeiro, a equipe do projeto iniciou o inventário de ocorrência de cacau nativo e de outras espécies florestais na região de Lago Novo, em Boca do Acre. O objetivo da atividade é mapear toda a população de cacau existente e conhecer o potencial de outras espécies presentes na mesma área.

O cacau nativo é um recurso renovável e sua exploração planejada está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas, para o horizonte de 2030. No contexto da bioeconomia, o Projeto Cacau Nativo pode contribuir para o aumento da renda das populações ribeirinhas da Amazônia.

Redação Revista Amazônia

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