Categories: GeralMeio Ambiente

Embrapa colabora com plano de manejo sustentável do pirarucu na Amazônia

A Embrapa Amapá participou de uma reunião com representantes do Ministério Público do Amapá (MP-AP) e diversas instituições para discutir medidas contra a pesca predatória do pirarucu (Arapaima gigas) na zona rural de Santana (AP).

A iniciativa surgiu a partir de uma demanda da comunidade de São Sebastião do Igarapé do Lago, que busca proteger os estoques pesqueiros da região. Durante o encontro, foi anunciada a criação de uma portaria para fortalecer a fiscalização ambiental e coibir a captura ilegal do pirarucu, especialmente durante o período de defeso, que vai de 1º de dezembro a 31 de maio.

Publicidade

A pesquisadora Eliane Yoshioka, da Embrapa, destacou o interesse da instituição em contribuir com a elaboração de um plano de manejo comunitário e sustentável para o pirarucu, em parceria com órgãos competentes, como a Secretaria Estadual de Pesca e Aquicultura do Amapá (Sepaq). A Embrapa foi convidada pelo Ministério Público para fornecer conhecimentos técnicos sobre a espécie, incluindo aspectos relacionados à reprodução e à importância do período de defeso.

Imagem: Praia Alter do Chão

Proteção ao pirarucu e outras espécies

Durante a reunião, foi anunciada a elaboração de uma portaria pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), com o apoio de outras instituições, para reforçar a segurança ambiental e proibir a pesca comercial do pirarucu. Posteriormente, outras normativas serão emitidas para proteger espécies como o tucunaré e o aruanã, que também são capturadas durante o período de defeso.

O encontro foi coordenado pelas promotoras de justiça Elissandra Toscano e Socorro Pelaes e contou com a participação de representantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Universidade do Estado do Amapá (Ueap), do Batalhão Ambiental e outros órgãos.

Preocupações da comunidade local

Graciliano Barreto Picanço, presidente da Associação de Agricultores de São Sebastião do Igarapé do Lago, expressou a preocupação da comunidade com a pesca predatória. “Embora estejamos no período de defeso, muitas pessoas não respeitam essa época de reprodução do pirarucu. A invasão de pescadores de fora tem causado a diminuição dos nossos peixes, incluindo o pirarucu. A maioria desses pescadores quer comercializar os peixes, o que é proibido durante o defeso. Estamos preocupados com o futuro da nossa comunidade e dos nossos recursos naturais”, afirmou.

Importância do defeso para o pirarucu

De acordo com a Instrução Normativa 34/2004, o pirarucu é protegido por seis meses para reprodução nos estados do Amazonas, Pará, Acre e Amapá. A espécie possui uma estratégia reprodutiva única: forma casais, constrói ninhos e cuida dos filhotes, deixando poucos descendentes. A captura de pirarucus adultos durante o defeso pode levar à morte dos filhotes, que ficam órfãos e sem proteção. Para os consumidores, a alternativa é optar por pirarucus criados em viveiros ou provenientes de estoques declarados previamente aos órgãos ambientais.

Caminhos para a sustentabilidade

A reunião reforçou a necessidade de ações integradas para garantir a sustentabilidade do pirarucu e de outras espécies na região. A Embrapa, com sua expertise em pesquisa e desenvolvimento, desempenhará um papel fundamental na elaboração do plano de manejo, que incluirá medidas como o fortalecimento da fiscalização, a conscientização das comunidades e a promoção de práticas sustentáveis de pesca.

A iniciativa representa um passo importante para a conservação do pirarucu e a proteção dos recursos naturais da Amazônia, equilibrando a preservação ambiental com as necessidades das comunidades locais.

Pirarucu (Arapaima gigas)

Também conhecido como “gigante das águas amazônicas”, é um dos maiores peixes de água doce do mundo e uma das espécies mais icônicas da Amazônia. Nativo da bacia amazônica, o pirarucu é encontrado em rios, lagos e áreas alagadas do Brasil, Peru, Colômbia e Guiana. No Brasil, ele é especialmente comum nos estados do Amazonas, Pará, Acre e Amapá.

Características do pirarucu

  • Tamanho: O pirarucu pode atingir até 3 metros de comprimento e pesar mais de 200 quilos, embora exemplares desse tamanho sejam raros atualmente devido à pesca predatória.
  • Respiração aérea: Uma das características mais marcantes do pirarucu é sua capacidade de respirar ar atmosférico. Ele possui um pulmão primitivo que lhe permite sobreviver em águas com baixo oxigênio, comum em áreas alagadas da Amazônia.
  • Escamas: Suas escamas são grandes, duras e resistentes, sendo utilizadas tradicionalmente por comunidades locais para artesanato e até como lixas.
  • Alimentação: O pirarucu é um predador carnívoro, alimentando-se principalmente de peixes, crustáceos e pequenos animais aquáticos.
  • Reprodução: A espécie tem uma estratégia reprodutiva única. Forma casais monogâmicos que constroem ninhos em áreas alagadas. Os pais cuidam dos filhotes, protegendo-os até que estejam suficientemente desenvolvidos para nadar sozinhos.

Importância ecológica e cultural

O pirarucu desempenha um papel crucial nos ecossistemas aquáticos da Amazônia, atuando como um predador de topo que ajuda a regular as populações de outras espécies. Além disso, ele é uma fonte importante de alimento e renda para comunidades ribeirinhas, que dependem da pesca sustentável da espécie.

Culturalmente, o pirarucu é valorizado por sua carne saborosa e de alta qualidade, que é consumida fresca, salgada ou seca. A pesca do pirarucu faz parte das tradições locais e é uma atividade econômica vital para muitas famílias na região.

Ameaças e conservação

Apesar de sua importância, o pirarucu enfrenta sérias ameaças, principalmente devido à pesca predatória e à degradação de seu habitat. A captura indiscriminada, especialmente durante o período de defeso (quando a pesca é proibida para permitir a reprodução da espécie), tem levado à redução das populações de pirarucu em várias áreas.

Para proteger a espécie, foram implementadas medidas como:

  • Período de defeso: No Brasil, a pesca do pirarucu é proibida entre 1º de dezembro e 31 de maio, período em que a espécie se reproduz.
  • Manejo sustentável: Comunidades locais, com o apoio de instituições como a Embrapa e órgãos ambientais, têm desenvolvido planos de manejo sustentável que permitem a pesca controlada do pirarucu, garantindo a conservação da espécie e a subsistência das populações ribeirinhas.
  • Criação em cativeiro: A aquicultura do pirarucu tem ganhado espaço como uma alternativa sustentável, reduzindo a pressão sobre os estoques naturais e fornecendo uma fonte legal e controlada de pescado.

Curiosidades sobre o pirarucu

  • O nome “pirarucu” vem do tupi e significa “peixe vermelho”, uma referência à coloração avermelhada de sua cauda.
  • O pirarucu é considerado um “fóssil vivo”, pois sua linhagem evolutiva remonta a milhões de anos, com poucas mudanças morfológicas ao longo do tempo.
  • Sua capacidade de respirar ar atmosférico permite que ele sobreviva em ambientes onde outros peixes não conseguiriam, como lagos e áreas alagadas com baixa oxigenação.

Desafios futuros

A conservação do pirarucu depende de esforços contínuos para combater a pesca ilegal, proteger habitats naturais e promover práticas sustentáveis. A conscientização das comunidades locais e a implementação de políticas públicas eficazes são essenciais para garantir que o “gigante das águas amazônicas” continue a prosperar nas gerações futuras.

Redação Revista Amazônia

Published by
Redação Revista Amazônia

Recent Posts

Embrapa abre inscrições para eventos na COP30 em espaço dedicado à agricultura sustentável

A Embrapa lançou um edital para selecionar propostas de eventos e ações que irão compor…

13 horas ago

Aquecimento de +1,5 °C é muito alto para as camadas de gelo polares

Cientistas que examinam diversas linhas de evidências sugerem que precisamos mirar ainda mais baixo –…

14 horas ago

Microalga brasileira se destaca na remoção de antibióticos da água e pode ajudar o meio ambiente

Uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade Federal de Itajubá…

15 horas ago

Por que os bugios gritam de madrugada? O motivo pode te surpreender

Pouca gente sabe, mas o som estrondoso que invade a madrugada em áreas de mata…

17 horas ago

Você sabia que a sua maranta se mexe à noite? O que isso revela sobre o ambiente

Pouca gente percebe, mas a maranta tem um comportamento noturno que beira o misterioso: ela…

17 horas ago

Glaciares podem perder mais de 70% da sua extensão

Se a atual tendência de aquecimento se mantiver, os cientistas dizem que os glaciares do…

1 dia ago