Em uma descoberta que promete revolucionar a indústria de biocombustíveis e a aviação sustentável, pesquisadores brasileiros do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) identificaram uma enzima capaz de eficientemente o óleo de destilação do etanol de milho (DCO) em biocombustível para aviação. Este avanço, publicado na prestigiosa revista Nature Communications, não apenas oferece uma solução para o aproveitamento de um subproduto industrial até então subutilizado, mas também abre caminho para uma nova era de combustíveis renováveis de alta performance.
A enzima, batizada de OleTPRN, pertence à família das desidrogenases e demonstrou uma capacidade notável de catalisar a descarboxilação oxidativa de ácidos graxos presentes no DCO. Este processo resulta na produção de alcenos (hidrocarbonetos insaturados) e CO₂, criando moléculas quimicamente similares àquelas encontradas em combustíveis fósseis refinados.
O óleo de destilação do etanol de milho (DCO) é um subproduto da crescente indústria de etanol de milho no Brasil. Em 2023, a produção nacional atingiu 145.700 toneladas, um volume significativo que, até agora, era principalmente direcionado para a produção de ração animal ou biodiesel de primeira geração.
Estas características tornavam o DCO um substrato desafiador para processos convencionais de produção de biocombustíveis, que geralmente requerem óleos refinados e neutros.
A utilização da OleTPRN para o processamento do DCO oferece várias vantagens sobre métodos tradicionais:
Potencial Econômico:
Estimativas do CNPEM sugerem que a integração da tecnologia OleTPRN em biorrefinarias existentes pode adicionar entre US$ 200 e US$ 300 por tonelada ao valor do DCO. Considerando a produção brasileira de 2023, isso representa um potencial de receita adicional de aproximadamente US$ 43,7 milhões para a indústria.
Redução de Emissões:
Análises de ciclo de vida conduzidas pelo Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR) indicam que o bioquerosene derivado de DCO via OleTPRN pode reduzir as emissões de CO₂ equivalente em 75-85% comparado ao querosene fóssil. Para cada tonelada de DCO processada, evita-se a emissão de aproximadamente 2,8 toneladas de CO₂.Em escala nacional, considerando o volume atual de produção de DCO, o potencial de mitigação de emissões chega a 408.000 toneladas de CO₂ por ano – equivalente a retirar 88.000 carros de circulação.
Escalonamento Industrial:
O principal desafio agora é escalonar a produção da OleTPRN para níveis industriais. Isso envolve:
Equipes do CNPEM estão trabalhando em várias frentes para aprimorar ainda mais a tecnologia:
O desenvolvimento da OleTPRN posiciona o Brasil na vanguarda da pesquisa em biocombustíveis avançados. Com a crescente demanda global por combustíveis de aviação sustentáveis (SAF), impulsionada por regulamentações como o ReFuelEU Aviation na União Europeia, que exige a incorporação de 6% de SAF até 2030, o país tem a oportunidade de se tornar um líder na exportação desta tecnologia e dos biocombustíveis resultantes.
A valorização do DCO através da tecnologia OleTPRN tem o potencial de reestruturar a cadeia de valor do etanol de milho:
Embora o foco inicial seja o bioquerosene para aviação, a versatilidade da OleTPRN abre possibilidades para outras aplicações:
Biocombustíveis Marítimos:
O setor de transporte marítimo, responsável por cerca de 3% das emissões globais de CO₂, busca alternativas sustentáveis. Os hidrocarbonetos produzidos pela OleTPRN poderiam ser adaptados para uso em motores navais, atendendo às rigorosas especificações da Organização Marítima Internacional (IMO).
Química Verde:
As α-olefinas produzidas pela enzima são valiosas matérias-primas para a indústria química, podendo ser utilizadas na produção de:
Bioplásticos:
A conversão enzimática do DCO pode ser direcionada para a produção de monômeros renováveis, como o etileno verde, base para a fabricação de polietileno e outros plásticos biodegradáveis.
A descoberta da enzima OleTPRN pelo CNPEM representa mais do que um avanço tecnológico; é um salto quântico na direção de uma bioeconomia circular e sustentável. Ao transformar um resíduo agroindustrial em um insumo estratégico para a descarbonização do setor de transportes, esta inovação brasileira exemplifica o potencial da biotecnologia para enfrentar os desafios climáticos globais.O sucesso da implementação em larga escala desta tecnologia dependerá de uma combinação de fatores:
Se bem-sucedida, a tecnologia OleTPRN não apenas consolidará a posição do Brasil como líder global em biocombustíveis, mas também estabelecerá um novo paradigma na utilização de resíduos agroindustriais, contribuindo significativamente para a mitigação das mudanças climáticas e para o desenvolvimento sustentável.
À medida que o mundo busca soluções urgentes para a descarbonização do setor de transportes, inovações como a OleTPRN oferecem um vislumbre de um futuro onde a aviação e outros modos de transporte possam operar em harmonia com os objetivos climáticos globais. O desafio agora é transformar esta promissora descoberta de laboratório em uma realidade industrial, pavimentando o caminho para uma nova era de mobilidade sustentável.
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