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Novo equipamento automatizado promete avançar no estudo e conservação dos solos brasileiros

 

No início de 2025, o mercado brasileiro receberá o primeiro equipamento automatizado de coleta de dados hídricos do solo, desenvolvido por meio de uma colaboração entre o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Falker, uma empresa de tecnologia agrícola do Rio Grande do Sul. O dispositivo, conhecido como permeâmetro, é projetado para medir a velocidade com que a água se desloca através do solo saturado, parâmetro crucial para a avaliação da condutividade hidráulica saturada.

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O artigo científico sobre o aparelho, publicado no Journal of Hydrology em 2019, descreve a importância do equipamento para o entendimento das propriedades hídricas do solo. Esse tipo de dado é essencial para diversas aplicações, como o ajuste de sistemas de irrigação, o controle da erosão do solo, o desenvolvimento de infraestruturas de drenagem e a prevenção de desastres naturais, como deslizamentos de terra.

Wenceslau Teixeira, engenheiro agrônomo da Embrapa, explica que a necessidade de um melhor entendimento das propriedades hidráulicas dos solos no Brasil é urgente, pois os terrenos tropicais, especialmente os argilosos, apresentam comportamentos hídrico bastante diferentes dos encontrados em regiões temperadas como Estados Unidos e Europa. Isso torna os dados globais imprecisos para o contexto brasileiro, e a inovação do SoloFlux visa sanar essa lacuna.

Permeâmetro

O grande diferencial do novo permeâmetro, denominado SoloFlux, é a automação e digitalização da coleta de dados. Ao contrário dos modelos analógicos, que exigem a intervenção de técnicos altamente qualificados para a medição manual e posterior digitalização dos dados, o SoloFlux realiza a coleta de dados em tempo real, com a possibilidade de transmissão imediata das informações para dispositivos móveis via Bluetooth. Isso não só facilita a análise, como também permite ajustes em tempo real durante a medição, caso necessário.

Ao simplificar o processo, o SoloFlux tem o potencial de agilizar as medições de condutividade hidráulica e expandir a área analisada em um único trabalho de campo. Claudinei Fonseca Souza, especialista em irrigação e drenagem da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ressalta que a velocidade e praticidade do novo equipamento podem aumentar significativamente o número de amostras coletadas em campo, proporcionando uma análise mais precisa da variabilidade do solo.

Além de permitir um trabalho de campo mais eficiente, a automação reduz o risco de erros e custos adicionais associados ao processo manual. No modelo analógico, caso um erro seja identificado durante a digitalização dos dados, a coleta precisa ser refeita, o que implica em retrabalho e custos extras. O SoloFlux, por sua vez, permite a identificação de falhas na coleta em tempo real, economizando tempo e recursos.

Facilidade de uso do equipamento

Marcio Albuquerque, CEO da Falker, acredita que a facilidade de uso do equipamento abrirá portas para uma adoção mais ampla no setor, ampliando seu alcance comercial. De acordo com ele, o SoloFlux representa uma inovação única no mercado global, com apenas um dispositivo na Europa em estágio de pesquisa semelhante.

Além disso, a Falker já iniciou testes com agricultores de uma cooperativa no Paraná, focando na aplicação do dispositivo para práticas de conservação do solo. O SoloFlux é a primeira inovação comercializada pelo CBPF, que, junto à Embrapa, detém a patente do sistema eletrônico de digitalização da medição da condutividade hidráulica saturada.

A criação do novo equipamento é um exemplo claro de inovação aberta, segundo a química Gizelle Bedendo, responsável pela Transferência de Tecnologia da Embrapa Solos. A parceria entre o CBPF, Embrapa e Falker exemplifica como a pesquisa acadêmica pode ser convertida em um produto de mercado com impacto significativo na agricultura e em outros setores.

O SoloFlux terá um preço acessível, custando cerca de 50% do valor dos permeâmetros tradicionais, como o modelo de Guelph, que pode ser encontrado por cerca de R$ 70 mil. A Falker também tem planos de exportar o novo equipamento, com a previsão de que ele chegue ao mercado internacional ainda no primeiro semestre de 2025.

Redação Revista Amazônia

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