Meio Ambiente

Fenômenos climáticos extremos no Atlântico Sul expõe fragilidade do oceano

Pela primeira vez, cientistas mapearam a ocorrência simultânea de três fenômenos extremos: ondas de calor marinhas, acidificação elevada da água e baixa concentração de clorofila em seis regiões do Atlântico Sul.

Fenômeno extremo triplo se torna recorrente no Atlântico Sul

Segundo estudo publicado em abril de 2025 na Nature Communications, esses eventos compostos, que eram inexistentes entre 1999 e 2008, passaram a ocorrer com frequência a partir de 2009, sobretudo nos verões.

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Fonte: Pesquisa FAPESP

Entre 2009 e 2018, a duração acumulada desses episódios variou entre 17 e 49 meses, dependendo da região analisada. A partir de 2016, praticamente todos os anos apresentaram esse tipo de fenômeno triplo. As áreas mais afetadas estão próximas às costas do Brasil e da África, como a Confluência Brasil-Malvinas e a Frente de Angola.

Impactos ecológicos e econômicos

A combinação de águas mais quentes, ácidas e com menos clorofila representa uma ameaça severa à biodiversidade marinha. O branqueamento de corais, resultado do estresse térmico e a queda do fitoplâncton, base da cadeia alimentar oceânica, afetam diretamente atividades como pesca e maricultura. A ausência de clorofila indica menor fotossíntese e, portanto, redução da produtividade biológica do mar.

“O Atlântico Sul tornou-se um ponto crítico desses eventos compostos”, destaca a oceanógrafa Regina Rodrigues, da UFSC, autora principal do estudo. Em 2015-2016, o fenômeno atingiu intensidade e abrangência inéditas nas seis regiões analisadas.

Acidificação se intensifica com o aquecimento global

Um dos achados mais preocupantes é o aumento constante da acidificação marinha após 2009, fenômeno associado à absorção de dióxido de carbono (CO₂) pelos oceanos. Entre 1998 e 2008, quase não havia registros de acidificação no Atlântico Sul. Essa realidade mudou com o avanço das emissões de gases de efeito estufa.

O oceanógrafo Thomas Frölicher, da Universidade de Berna, coautor do estudo, explica que os mares absorvem cerca de 30% do CO₂ emitido e 90% do calor acumulado na atmosfera. Isso tem um custo: águas mais ácidas e quentes que amplificam os eventos extremos.

El Niño agrava ainda mais a situação

O estudo também destaca o papel do fenômeno El Niño, que aquece o Pacífico Equatorial, mas influencia o Atlântico Sul por meio de alterações atmosféricas. Anos com El Niño, como 2015-2016, coincidem com picos nos eventos compostos. “Ele atua como um fator remoto, mas poderoso, intensificando as anomalias locais”, explica Regina Rodrigues.

Coral brasileiro sob pressão crescente

Um exemplo alarmante ocorreu em 2020 no litoral do Rio Grande do Norte. Uma forte onda de calor marinha elevou a temperatura da água a 32 °C, quatro graus acima da média local, levando ao branqueamento de 85% dos corais duros. “As espécies da região não suportam temperaturas acima de 29,7 °C por muito tempo”, afirma o biólogo Guilherme Longo, da UFRN.

Infelizmente, a tendência é de piora. Em 2024, o ano mais quente já registrado, a costa nordestina enfrentou novo episódio extremo, ainda mais extenso e letal.

Um alerta para conservação e adaptação

O ineditismo da pesquisa está em unir, pela primeira vez no Atlântico Sul, a análise de três fatores extremos de forma combinada. Para a oceanógrafa Leticia Cotrim, da UERJ, o estudo “preenche uma lacuna importante” e pode embasar políticas de conservação e decisões econômicas. A crescente frequência desses eventos exige respostas urgentes.

Fonte Geopolítica do petróleo.

Segundo os pesquisadores, é essencial investir em monitoramento, adaptação de atividades costeiras e redução global de emissões. O oceano, antes considerado um amortecedor do aquecimento global, começa a dar sinais de esgotamento.

Redação Revista Amazônia

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