Identificar as espécies mais ameaçadas de extinção no Brasil é uma tarefa complexa e desafiadora. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 360 espécies da fauna brasileira estão classificadas como Criticamente em Perigo, o nível mais grave antes da extinção total. Algumas delas já são consideradas possivelmente extintas.
A seguir, destacamos oito dessas espécies, representando diferentes grupos de animais, desde aves e mamíferos até invertebrados, que ainda resistem em território nacional.
1. Saíra-apunhalada (Nemosia rourei)
Com apenas 12 centímetros, essa ave é uma das mais ameaçadas do mundo. Restam menos de 20 indivíduos na natureza, confinados a duas localidades no Espírito Santo: Vargem Alta e Santa Teresa. A destruição da Mata Atlântica para o cultivo de café é a principal ameaça à espécie. Para salvá-la, o Programa de Conservação Saíra-Apunhalada, liderado pelo Instituto Marcos Daniel, atua na proteção do habitat, monitoramento e engajamento comunitário.
2. Kaapori (Cebus kaapori)
Este macaco amazônico, que habita a divisa entre Pará e Maranhão, enfrenta uma redução populacional de mais de 80% nos últimos 50 anos, devido ao desmatamento, caça e incêndios florestais. A Reserva Biológica do Gurupi, um dos últimos refúgios da espécie, também sofre com essas pressões. Pesquisadores, como a primatóloga Tatiane Cardoso, buscam entender melhor a ecologia do kaapori para desenvolver estratégias eficazes de conservação.
3. Peixe-serra-de-dentes-pequenos (Pristis pectinata)
Com um rostro em forma de serra, essa raia de grande porte já foi comum no litoral brasileiro, mas hoje está praticamente extinta. A sobrepesca e a degradação de habitats costeiros reduziram drasticamente suas populações. No Brasil, os últimos registros confirmados datam das décadas de 1970 e 1980. Sua biologia, com crescimento lento e maturidade sexual tardia, dificulta a recuperação da espécie.
4. Bagual (Austrolebias bagual)
Este pequeno peixe, que vive em poças temporárias no Rio Grande do Sul, é um exemplo de resistência. Descoberto há pouco mais de uma década, o bagual já enfrenta a ameaça da expansão agrícola, especialmente das plantações de arroz, que reduzem e degradam seu habitat. Com uma área de ocupação de apenas 4 km², sua sobrevivência depende de ações urgentes de conservação.
5. Jararaca-ilhoa (Bothrops insularis)
Endêmica da Ilha da Queimada Grande, em São Paulo, essa cobra vive em uma área equivalente a 43 campos de futebol. Apesar da proteção legal, a espécie enfrenta riscos como incêndios e o tráfico de animais. A substituição da vegetação nativa por capim também compromete seu habitat, tornando-a extremamente vulnerável.
6. Pato-mergulhão (Mergus octosetaceus)
Exigente em relação à qualidade da água, o pato-mergulhão é sensível à presença humana e à poluição. Originalmente encontrado em várias regiões do Brasil, hoje restam menos de 250 indivíduos, concentrados em unidades de conservação do Cerrado. O turismo desordenado, especialmente no Jalapão (TO), é uma ameaça crescente para a espécie.
7. Sapinho-manicure (Holoaden bradei)
Este pequeno anfíbio, conhecido pelos dedos amarelos que contrastam com o corpo marrom, habita as montanhas do Parque Nacional do Itatiaia. Não é registrado desde 1979, e cientistas estimam que restem menos de 50 indivíduos. A degradação do habitat, queimadas e o turismo descontrolado são as principais ameaças à sua sobrevivência.
8. Aranha-de-pernas-longas (Metagonia potiguar)
Com apenas 2,5 milímetros, essa aranha quase translúcida vive em cavernas da Chapada do Apodi, no Rio Grande do Norte. A mineração de calcário e a exploração de petróleo ameaçam seu habitat, já restrito a uma área de 16 km². Sua biologia única e a fragilidade do ambiente subterrâneo tornam a espécie especialmente vulnerável.
1. Desestabilização de Ecossistemas
Cada espécie desempenha um papel específico em seu ecossistema, seja como predador, presa, polinizador ou dispersor de sementes. A extinção de uma espécie pode desencadear um efeito cascata, afetando outras espécies e comprometendo o equilíbrio ecológico. Por exemplo:
2. Redução da Biodiversidade e Resiliência Ecológica
A biodiversidade é essencial para a resiliência dos ecossistemas, ou seja, sua capacidade de se recuperar de distúrbios naturais ou causados pelo homem. A extinção de espécies reduz a diversidade genética e funcional, tornando os ecossistemas mais vulneráveis a mudanças climáticas, doenças e invasões de espécies exóticas. Por exemplo:
3. Impacto nos Serviços Ecossistêmicos
As espécies da fauna brasileira contribuem para serviços ecossistêmicos essenciais, como:
A extinção dessas espécies pode comprometer a produção de alimentos, a regeneração de florestas e a saúde dos ecossistemas.
4. Perda de Recursos Genéticos e Potenciais Descobertas Científicas
Muitas espécies possuem características genéticas únicas que podem ser valiosas para a medicina, biotecnologia e agricultura. A extinção de espécies como o sapinho-manicure ou a aranha-de-pernas-longas pode significar a perda de compostos químicos ou genes que poderiam ser usados no desenvolvimento de medicamentos ou soluções tecnológicas.
5. Impactos Socioeconômicos
A extinção de espécies também afeta diretamente as comunidades humanas, especialmente aquelas que dependem dos recursos naturais para sua subsistência. Por exemplo:
6. Alterações Climáticas
A extinção de espécies pode agravar as mudanças climáticas. Por exemplo:
7. Perda Cultural e Simbólica
Muitas espécies têm valor cultural e simbólico para comunidades tradicionais e indígenas. A extinção de animais como a saíra-apunhalada ou o bagual representa a perda de parte do patrimônio natural e cultural do Brasil, afetando identidades e tradições locais.
A extinção de espécies da fauna brasileira não é apenas uma tragédia ambiental, mas também uma ameaça ao bem-estar humano e à estabilidade do planeta. A conservação dessas espécies requer ações urgentes, como a proteção de habitats, o combate ao tráfico de animais, a redução da poluição e o engajamento de governos, empresas e sociedade civil. Preservar a biodiversidade é garantir um futuro sustentável para todos.
As oito espécies citadas com risco de extinção ilustram a diversidade de desafios enfrentados pela fauna brasileira. Sua sobrevivência depende não apenas da proteção de seus habitats, mas também de pesquisas científicas, políticas públicas eficazes e conscientização ambiental. A luta contra a extinção é urgente e requer a colaboração de todos.
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