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Como o Fracking Impacta o Futuro Sustentável da Extração de Gás Natural

 

Imagine um grande pedaço de rocha sob o solo, tão denso e firme que, mesmo com vastos depósitos de óleo e gás natural aprisionados em seus poros, essas substâncias não conseguem escapar facilmente para serem extraídas. Para liberar esses recursos energéticos, os cientistas e engenheiros desenvolveram uma técnica chamada fraturamento hidráulico, ou simplesmente fracking.

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Pense nessa rocha como um biscoito recheado: sólido, mas com espaços por dentro. Imagine agora que você quer extrair o recheio sem quebrar o biscoito inteiro. A técnica de fracking funciona de maneira semelhante: cria fissuras minúsculas na “massa” do biscoito (a rocha) para liberar o “recheio” (o óleo ou o gás natural), permitindo que eles fluam para a superfície.

Como Funciona o Fracking?

Para realizar o fracking, uma mistura de água, areia e produtos químicos é injetada no subsolo a altíssimas pressões. Pense nisso como um bombeamento poderoso de água que pode abrir rachaduras na rocha subterrânea. Quando a água pressurizada atinge a rocha, ela cria e expande essas pequenas fissuras. A areia na mistura é como pequenas partículas de concreto que mantêm essas fissuras abertas, garantindo que o óleo ou gás tenha um caminho claro para fluir em direção ao poço de extração.

De modo simplificado, o processo segue estas etapas:

  1. Perfuração: Um poço é perfurado verticalmente até atingir a camada de rocha que contém o gás natural ou o óleo. Muitas vezes, depois de atingir essa camada, a perfuração segue na horizontal, se estendendo por centenas ou até milhares de metros ao longo da rocha.
  2. Fraturamento Hidráulico: Em seguida, a mistura de água, areia e produtos químicos é bombeada sob alta pressão para fraturar a rocha. As fissuras criadas na rocha permanecem abertas graças à areia, permitindo que o gás ou óleo flua.
  3. Extração: O gás ou óleo liberado é coletado e trazido à superfície, onde pode ser processado e distribuído.

Por Que o Fracking é Importante?

O fracking revolucionou a indústria energética, especialmente nos Estados Unidos, transformando o país de um importador de energia em um grande exportador. Antes do desenvolvimento dessa tecnologia, muitos depósitos de gás e óleo eram considerados inacessíveis ou economicamente inviáveis. Mas com o fracking, grandes reservas foram liberadas, especialmente em locais como a Bacia de Permian, no Texas, e a Formação Marcellus, que se estende pela Pensilvânia e outros estados da região nordeste.

A maior vantagem do fracking é que ele aumenta o suprimento de gás natural, uma fonte de energia que emite menos dióxido de carbono quando queimada do que o carvão ou o petróleo. Isso, por sua vez, levou a uma queda significativa nas emissões de gases de efeito estufa nos Estados Unidos desde o auge do uso de carvão. No entanto, essa “virada energética” não vem sem um custo.

Impactos Ambientais do Fracking: Contaminação e Riscos

Se por um lado o fracking impulsionou a economia energética e reduziu as emissões de carbono, por outro lado, ele levanta uma série de preocupações ambientais e de saúde pública. Vamos explorar esses riscos, usando analogias para melhor entendimento.

  1. Contaminação da Água Subterrânea: Imagine um aquário cheio de areia e água limpa. Se você injetasse uma grande quantidade de tinta (representando a mistura química usada no fracking) na areia sob alta pressão, a tinta poderia, eventualmente, penetrar na água limpa. Da mesma forma, há preocupações de que os produtos químicos usados no fracking possam infiltrar-se e contaminar os lençóis freáticos, que fornecem água potável para milhões de pessoas. As substâncias químicas usadas no fracking podem incluir ácidos, detergentes e até substâncias potencialmente tóxicas, o que gera medo de poluição das águas subterrâneas.
  2. Vazamento de Metano: O metano é um potente gás de efeito estufa, muito mais eficiente que o dióxido de carbono em reter calor na atmosfera. Durante o processo de extração de gás natural por fracking, quantidades significativas de metano podem escapar para o ar, exacerbando as mudanças climáticas. Imagine que o metano é como balões de hélio que estão escapando de uma festa: mesmo que não sejam visíveis, eles sobem rapidamente, contribuindo para o aquecimento global.
  3. Abalos Sísmicos: Talvez a consequência mais surpreendente do fracking seja o aumento de tremores de terra em áreas onde, historicamente, terremotos eram raros. O fraturamento da rocha, combinado com a injeção de grandes quantidades de água residual no subsolo, pode desencadear esses pequenos tremores. É como se você estivesse tentando empurrar um bloco de gelo gigante numa mesa lisa: se você aplicar força suficiente, ele pode se mover repentinamente. Assim, a pressão acumulada da água injetada pode provocar o movimento das placas tectônicas subterrâneas.

Onde o Fracking é Usado?

O fracking tem sido amplamente utilizado em países como os Estados Unidos, Canadá, Argentina e Austrália. Nos EUA, as formações mais exploradas incluem a já mencionada Formação Marcellus, além da Formação Bakken (em Dakota do Norte) e a Bacia de Permian (no Texas). Esses locais se tornaram centros de produção de energia graças ao fracking, com impactos significativos na economia local e nacional.

Alternativas e Controvérsias

O debate sobre o fracking é altamente polarizado. De um lado, as indústrias de energia e muitos governos locais argumentam que o fracking é essencial para manter os custos de energia baixos e garantir a segurança energética. Por outro lado, ambientalistas e comunidades afetadas defendem a transição para fontes de energia renovável, como solar e eólica, que não acarretam os mesmos riscos de contaminação e impactos ambientais.

Quais São as Preocupações Mais Contaminantes?

  • Produtos Químicos Utilizados: A composição química exata da mistura de fracking é muitas vezes mantida em segredo por razões comerciais. No entanto, sabe-se que alguns produtos químicos são altamente perigosos para a saúde humana, incluindo substâncias cancerígenas e neurotoxinas. A possível contaminação de poços de água potável com essas substâncias é uma das principais preocupações.
  • Água Residual: Depois que o fracking é realizado, grandes volumes de água residual retornam à superfície. Essa água, conhecida como “flowback”, está cheia de produtos químicos, minerais e até materiais radioativos que estavam presos na rocha. O descarte inadequado dessa água residual pode levar a contaminações catastróficas de rios, lagos e outros corpos d’água.

O Futuro do Fracking

A questão do fracking resume-se a um difícil equilíbrio entre benefícios energéticos e impactos ambientais. Enquanto governos e empresas de energia continuam a investir nessa tecnologia, muitos cientistas e ambientalistas estão pedindo regulamentações mais rígidas, maiores investimentos em energias renováveis e melhor gestão dos riscos associados ao fracking.

No final, como em qualquer questão ambiental complexa, o debate sobre o fracking é uma luta entre o apetite por energia barata e a necessidade urgente de proteger o planeta. Se a transição para energias renováveis não for acelerada, o fracking continuará sendo um elemento controverso no mapa energético global, desafiando comunidades, políticos e cientistas a encontrar soluções mais sustentáveis para as demandas energéticas do século XXI.

Redação Revista Amazônia

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