COP 30

FUP exige protagonismo dos trabalhadores na transição energética

A COP30, realizada em Belém, tornou-se um palco onde diferentes mundos que orbitam a crise climática finalmente se cruzam: governos, cientistas, comunidades tradicionais e, de forma cada vez mais assertiva, trabalhadores da indústria energética. Entre essas vozes, a da Federação Única dos Petroleiros (FUP) ganhou destaque ao reivindicar um lugar central na formulação das políticas que guiarão a transição energética brasileira.

Para a FUP, a transição não pode ser construída como um arranjo técnico isolado em gabinetes ou fóruns multilaterais. Ela deve ser moldada a partir das experiências de quem sustenta historicamente o setor energético do país: os trabalhadores do petróleo e do gás. Segundo a entidade, excluir essa dimensão social da equação gera projetos frágeis, desconectados das realidades regionais e incapazes de produzir justiça econômica ao mesmo tempo em que busca justiça climática.

Durante o painel A ação sindical no Sul Global por uma transição energética justa e popular, que contou com a presença do ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, apresentou propostas que vão além do discurso tradicional sobre descarbonização. O ponto de partida é claro: nenhuma transição será justa se provocar desemprego em massa, precarização do trabalho ou perdas de direitos. Ao contrário, ela deve abrir portas para capacitação profissional, inovação tecnológica e empregos capazes de sustentar dignidade.

Nesse sentido, a FUP propõe a construção de um plano estratégico nacional que envolva os trabalhadores desde a concepção até a implementação. Esse plano incluiria programas de qualificação contínua, alianças com universidades e institutos técnicos e mecanismos de transição ocupacional para garantir que a mão de obra atual possa migrar para setores de baixo carbono sem sofrer rupturas abruptas. A entidade defende, ainda, que os investimentos públicos e privados em energias renováveis e novas tecnologias priorizem cadeias produtivas nacionais, fortalecendo o desenvolvimento regional, especialmente em áreas dependentes da economia petrolífera.

Bruno Peres/Agência Brasil

VEJA TAMBÉM: A batalha inadiável da transição energética: Brasil na COP30 e o roteiro para a reconstrução inteligente 

Para Bacelar, a crise climática oferece, paradoxalmente, uma oportunidade histórica. Ela escancara as fragilidades do modelo de mercado tradicional e permite pensar um novo projeto nacional de desenvolvimento, capaz de combinar segurança energética, inovação industrial e inclusão social. A transição, segundo ele, não deve ser apenas verde, mas soberana: um caminho que reduza vulnerabilidades externas e fortaleça a autonomia brasileira em matéria de energia.

Esse raciocínio se conecta diretamente ao posicionamento da FUP sobre a exploração da Margem Equatorial. O tema, alvo de intensos debates ambientais e políticos, aparece para a entidade como um ponto estratégico para evitar o aumento da dependência de importados no médio e longo prazo. Para a federação, o desafio é construir um modelo de exploração que seja ambientalmente responsável, socialmente justo e compatível com os compromissos climáticos — algo que, segundo Bacelar, só se alcança com forte regulação estatal, transparência e adoção do regime de partilha.

A defesa da Margem Equatorial, no entanto, não é apresentada como contraponto às energias renováveis. A FUP insiste que uma transição realista exige um período de coexistência entre diferentes matrizes, com planejamento gradual e políticas claras para que a redução do uso de combustíveis fósseis ocorra sem colapsos econômicos regionais. Nas palavras de Bacelar, não se trata de negar a urgência climática, mas de enfrentar o desafio sem sacrificar trabalhadores e sem comprometer a segurança energética nacional.

Ao levar suas propostas para a COP30, a FUP tenta deslocar o eixo das discussões. Em vez de uma transição conduzida apenas por metas e indicadores internacionais, a entidade propõe uma transição enraizada na realidade social brasileira, capaz de reduzir desigualdades ao mesmo tempo em que amplia a participação do país na economia de baixo carbono. A mensagem que ecoa de Belém é contundente: sem trabalhadores, não há transição; sem justiça social, não há futuro energético sustentável.

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