FAPESP amplia participação paulista no Projeto Genomas SUS

Genômica como política pública: São Paulo amplia presença em iniciativa nacional

O avanço da medicina de precisão no Brasil passa, cada vez mais, pela capacidade de integrar ciência de ponta às políticas públicas de saúde. É nesse contexto que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a FAPESP, anunciou uma nova chamada de propostas para apoiar a participação de pesquisadores paulistas no Projeto Genomas SUS, iniciativa estratégica do Ministério da Saúde voltada ao sequenciamento genômico humano em larga escala.

A chamada integra as ações do Consórcio Genomas de São Paulo e busca ampliar a contribuição do estado em um dos mais ambiciosos programas de genômica já estruturados no país. Ao oferecer apoio financeiro específico para a organização de amostras biológicas, a FAPESP cria condições para que grupos de pesquisa já consolidados possam incorporar dados genômicos de alta qualidade a estudos em andamento, sem a necessidade de investimentos adicionais em infraestrutura pesada de sequenciamento.

A proposta dialoga diretamente com um desafio histórico da ciência brasileira: democratizar o acesso a tecnologias avançadas, garantindo que a produção de conhecimento não fique restrita a poucos centros com grande capacidade instalada.

O que é o Projeto Genomas SUS e por que ele importa

O Projeto Genomas SUS é financiado pelo Ministério da Saúde e tem como meta o sequenciamento de 21 mil genomas humanos. O objetivo central é avaliar como a variabilidade genética da população brasileira influencia o desenvolvimento de doenças, a resposta a tratamentos e os desfechos clínicos em diferentes contextos de saúde.

Estruturado em rede, o projeto opera a partir de oito Centros Âncoras distribuídos pelo país, responsáveis pelo processamento e pela análise das amostras. Esse modelo centralizado permite garantir padrões elevados de qualidade, reduzir custos operacionais e harmonizar tecnologias e métodos analíticos. O estado de São Paulo abriga dois desses Centros Âncoras, o que o posiciona como um dos polos estratégicos da iniciativa.

Mais do que gerar dados, o Genomas SUS foi concebido como uma ferramenta estruturante para o Sistema Único de Saúde. Ao associar informações genômicas a dados clínicos e fenotípicos, o projeto busca subsidiar políticas públicas, orientar estratégias de prevenção e aprimorar o cuidado em áreas como oncologia, cardiologia, doenças infecciosas, saúde mental e doenças raras.

Fotos: Walterson Rosa/MS

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A nova chamada da FAPESP e o papel dos pesquisadores paulistas

Com a nova chamada, pesquisadores vinculados a instituições do estado de São Paulo poderão submeter propostas solicitando o sequenciamento de até 2 mil amostras por projeto. Um requisito central é que essas amostras já estejam coletadas e contem, no momento da submissão, com todas as aprovações éticas e regulatórias exigidas.

O apoio da FAPESP se dará na modalidade Auxílio à Pesquisa Regular, com foco nos custos relacionados à organização das amostras, como aquisição de reagentes, materiais de consumo e contratação de serviços para envio aos centros sequenciadores. O valor máximo financiável por projeto é de R$ 50 mil, com duração prevista de até 36 meses.

O sequenciamento propriamente dito, assim como as despesas associadas à análise genômica, será custeado de forma centralizada pelo Projeto Genomas SUS, seguindo o fluxo estabelecido pelos Centros Âncoras paulistas. Toda a análise será realizada por um pipeline único, permitindo a avaliação concomitante das amostras e garantindo a comparabilidade dos resultados.

Os pesquisadores participantes deverão compartilhar dados fenotípicos associados às amostras, contribuindo para o objetivo principal do projeto nacional: identificar associações entre variantes genéticas e desfechos clínicos em diferentes eixos de saúde, que incluem doenças oncológicas, cardiológicas, imunológicas, endócrino-metabólicas, neurológicas, infecciosas, transtornos mentais e condições raras ou dismórficas.

Dados abertos, impacto científico e o futuro da saúde genômica

Um dos pilares do Genomas SUS é a construção de um banco de dados nacional robusto e acessível. Os dados genômicos e fenotípicos gerados pelos projetos aprovados na chamada da FAPESP serão incorporados ao banco do Programa Genomas Brasil, iniciativa do Ministério da Saúde voltada a toda a comunidade científica brasileira.

Essa lógica de compartilhamento amplia o impacto dos estudos individuais e favorece análises integradas, capazes de revelar padrões genéticos representativos da diversidade da população brasileira — um aspecto frequentemente sub-representado em bancos de dados internacionais.

Ao estimular o uso de estruturas já existentes e aproveitar a redução progressiva dos custos de sequenciamento, a FAPESP aposta em um modelo eficiente de fomento. A expectativa é que a chamada amplie o acesso à genômica em pesquisas clínicas e epidemiológicas, potencializando resultados de estudos já em andamento ou mesmo de projetos concluídos que possam ganhar novas camadas de interpretação com a incorporação de dados genômicos.

As propostas devem ser submetidas até 27 de fevereiro de 2026, por meio do SAGe, o sistema de submissão da FAPESP. O plano de trabalho deverá seguir o modelo estabelecido no edital, detalhando as características das amostras, as aprovações éticas obtidas e o impacto esperado da inclusão dos dados genômicos.

Ao alinhar fomento científico, infraestrutura nacional e políticas públicas de saúde, a iniciativa reforça o papel da genômica como ferramenta estratégica para o SUS e consolida São Paulo como protagonista em um projeto que pode redefinir a pesquisa biomédica no Brasil.

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