COP 30

Talanoa lança proposta para reinventar a governança climática

São Paulo, 09 de setembro de 2025 – A discussão sobre como o Brasil pode enfrentar a crise climática ganha um novo capítulo nesta semana. O Instituto Talanoa lança, em Brasília, uma coletânea inédita de quatro volumes dedicada a repensar a governança climática no país. O material reúne análises, diagnósticos e propostas que buscam articular políticas públicas de maneira transversal e colaborativa, oferecendo caminhos para que o Brasil avance de forma estruturada no cumprimento de suas metas climáticas.

O lançamento acontece em paralelo ao Seminário de Governança e à instalação das câmaras temáticas do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM), hoje reconhecido como a instância máxima de coordenação da agenda climática no âmbito federal. O momento é considerado estratégico para provocar um debate mais amplo sobre os arranjos institucionais capazes de dar conta da complexidade do desafio climático.

Segundo Marta Salomon, analista sênior da Talanoa e recém-nomeada para a Câmara de Participação Social do CIM, a oportunidade é de criar um espaço em que ministérios, especialistas, cientistas, sociedade civil e autoridades subnacionais possam dialogar em pé de igualdade. “A crise climática exige articulação e governança robusta. O CIM, ao reunir diferentes atores, pode ser um catalisador para essa transformação”, afirma.

A proposta da Talanoa não surgiu do zero. Em abril, a organização já havia promovido um debate em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo, onde apresentou a ideia de estruturar um Sistema Nacional do Clima. O cerne da proposta é a criação de uma Agência Nacional do Clima, responsável por articular ações em diferentes níveis da federação, conectar setores econômicos e integrar políticas públicas que vão muito além da área ambiental. A agenda climática, argumenta o think tank, é transversal por natureza: envolve desde a agricultura até o transporte, da energia à saúde pública.

Na apresentação desta quarta-feira, Salomon deve detalhar como essa agência poderia aumentar a transparência, integrar políticas setoriais e abrir novos canais de participação social. A ideia é que a sociedade não seja apenas espectadora, mas parte ativa das decisões que moldarão a transição climática brasileira. O Plano Clima, já em construção, serviria como horizonte comum para guiar esse processo.

Reprodução – ONU

VEJA TAMBÉM: Capítulo 12: Políticas Públicas e Governança na Transição Energética: O Papel do Estado e da Regulação no Brasil

Para Natalie Unterstell, presidente da Talanoa, o país atravessa uma rara janela de oportunidade. De um lado, cresce a pressão internacional para que o Brasil assuma papel de liderança nas soluções climáticas globais. De outro, há um movimento interno de reorganização institucional, simbolizado pelo fortalecimento do CIM. “Se quisermos cumprir nossas metas e consolidar a posição do Brasil como líder internacional, precisamos de uma governança sólida, transparente e eficaz”, afirma.

A coletânea lançada agora materializa esse esforço. Distribuída em quatro volumes, ela combina diagnósticos sobre a atual estrutura de governança, análises de experiências internacionais e propostas concretas de arranjos institucionais. Mais que um compêndio técnico, o material é um convite à reflexão coletiva: como transformar a governança climática em um motor de coordenação, em vez de um emaranhado burocrático que trava avanços?

O pano de fundo é claro. O Brasil tem compromissos climáticos ambiciosos assumidos no Acordo de Paris e reforçados em conferências recentes, mas ainda enfrenta lacunas na implementação. A desarticulação entre ministérios, a sobreposição de responsabilidades e a fragilidade na integração entre União, estados e municípios tornam a execução fragmentada e pouco eficaz.

Ao propor novas formas de coordenação, a Talanoa toca num ponto sensível: a governança climática não pode ser responsabilidade de um único ministério, mas sim de toda a máquina pública, em articulação com a sociedade. E, para isso, são necessárias instituições que inspirem confiança, criem transparência e assegurem que as vozes de diferentes setores sejam ouvidas.

A mensagem do lançamento é inequívoca: o Brasil tem condições de se tornar referência global em transição climática, mas precisa alinhar discurso e prática. Governança não é um detalhe burocrático — é a engrenagem central que pode transformar compromissos em resultados concretos.

Recent Posts

  • Meio Ambiente

Floresta em pé surge como aliada no combate às mudanças do clima

Quando a lavoura encontra a floresta Em um cenário marcado por secas prolongadas, chuvas extremas…

17 horas ago
  • Meio Ambiente

Brasil desperdiça 6 mil piscinas de água tratada por dia

Um país que deixa a água escapar pelo ralo Todos os dias, antes mesmo de…

18 horas ago
  • Meio Ambiente

Ararinhas-azuis recapturadas testam positivo para vírus letal

Um alerta vermelho para a reintrodução da ararinha-azul O sonho de devolver a ararinha-azul à…

19 horas ago
  • Meio Ambiente

Estudo revela quanto da Antártica realmente está livre de gelo

Antártica sem gelo: um retrato inédito de um continente quase invisível No imaginário coletivo, a…

20 horas ago
  • Saúde

FAPESP e Holanda apoiam pesquisas sobre clima e saúde urbana

Ciência sem fronteiras diante de um clima em transformação O avanço das mudanças climáticas tem…

4 dias ago

This website uses cookies.