COP 30

Greenline negocia ativos verdes de R$ 400 milhões na B4

A crescente pressão por transparência e impacto concreto nas mudanças climáticas tem dado espaço a modelos inovadores de mercado — entre eles, os ativos verdes negociados na Bolsa de Ação Climática B4. No Brasil, uma empresa chama atenção por negociar cerca de R$ 400 milhões em créditos de carbono baseados em uma metodologia inédita. Trata-se da Greenline Carbonsat, que conseguiu listar seus projetos Cauré I e Cauré II na B4 após extensa auditoria técnica e verificação de sua abordagem própria de geração de créditos.

A B4 Capital, fundada em agosto de 2023, é a primeira Bolsa de Ação Climática do Brasil. A plataforma funciona como um espaço onde empresas compradoras, geradores de créditos de carbono e entidades se conectam para negociar ativos ambientais, com uso de blockchain para garantir rastreabilidade, registro público e imutabilidade das transações.

Os números atuais da B4 demonstram que o mercado brasileiro de carbono voluntário já opera com estruturas mais maduras e conectadas. São centenas de projetos submetidos ou listados; milhões de toneladas de CO₂ equivalente ofertadas; dezenas de milhares de hectares monitorados.

No caso específico da Greenline Carbonsat, seus dois projetos de crédito, Cauré I e Cauré II, juntos abrangem cerca de 75 mil hectares monitorados, gerando aproximadamente 5,27 milhões de toneladas de CO₂ equivalente em créditos, que estimam alcançar valor de R$ 400 milhões em mercado.

A metodologia usada pela Greenline, chamada GREENLINE/GREENSAT, aposta em dados de satélite global para mensurar o sequestro líquido de carbono em escalas desde 100 hectares — uma capacidade que reduz a dependência de inventários presenciais, particularmente úteis em áreas remotas ou de difícil acesso. A abordagem já recebeu certificação de eficácia superior a 99% pela Bureau Veritas, reconhecida certificadora internacional.

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SAIBA MAIS: COP30 coloca Brasil no centro da corrida por investimentos verdes

Apesar dos avanços, há considerações críticas: especialistas apontam para desafios de validação, especialmente no que tange à adicionalidade — isto é, quanto do carbono “protegido” sob esses projetos seria realmente preservado caso a iniciativa não existisse. Um estudo realizado pela Climate Policy Initiative em parceria com a PUC-Rio propõe novas formas de modelar essa adicionalidade, considerando não apenas tendências históricas de desmatamento, mas também fatores econômicos, logísticos, produtividade e variáveis de mercado que afetam decisões de uso da terra. Isso poderia influenciar a percepção de risco ou de impacto real dos ativos ambientais em negociação.

A chegada de regulações mais claras no Brasil, como a lei que instituiu o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), ajuda a reforçar esse ambiente institucional, oferecendo regras mais definidas para uso, emissão e negociação de créditos de carbono. A proximidade da COP30, que será realizada no Pará em novembro de 2025, intensifica esse cenário — governos, empresas e investidores veem o evento como concentrador de atenção internacional, oportunidades de articulação e demonstração de compromisso climático.

Lucio Lopez, fundador da Greenline Carbonsat, ressalta que o processo para validar sua metodologia e obter certificação, bem como listar os projetos na B4, levou mais de dois anos de auditorias técnicas e avaliações. Para ele, esse rigor é essencial não apenas para conquistar mercado, mas para assegurar credibilidade aos benefícios ambientais anunciados.

Em suma, a negociação de ativos verdes da Greenline Carbonsat representa uma confluência de inovação metodológica, compromisso verificável e ambiente regulatório favorável — mas não sem desafios técnicos e éticos. A verdadeira prova será manter padrões elevados de transparência, adicionalidade e monitoramento contínuo, para que esse tipo de ativo sirva não apenas para movimentação financeira, mas para concretizar mitigação real de emissões. Às vésperas da COP30, esse tipo de iniciativa pode mostrar se o Brasil está preparado para liderar um mercado climático consistente, tanto internamente quanto em diálogo global.

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