Divulgação Petrobras / ABr
A extensa faixa do litoral brasileiro que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte voltou ao centro do debate nacional sobre energia, desenvolvimento e meio ambiente. Conhecida como margem equatorial, a região desponta como uma das mais promissoras fronteiras exploratórias do país, despertando expectativas econômicas e discussões ambientais em igual medida. Para o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, Roberto Ardenghy, trata-se de uma oportunidade estratégica que pode reposicionar o Norte do Brasil no mapa da indústria energética global.
Em entrevista ao Grupo Liberal, Ardenghy afirma que a exploração da margem equatorial não deve ser vista como um retrocesso ambiental, mas como parte de um processo mais amplo e realista de transição energética. Em um mundo que ainda depende fortemente do petróleo, a questão central, segundo ele, não é abandonar abruptamente os combustíveis fósseis, mas produzi-los com responsabilidade, rigor técnico e redução contínua das emissões de carbono.
O debate público costuma tratar petróleo e transição energética como forças opostas, mas essa leitura, na avaliação do IBP, ignora a complexidade do sistema energético global. O petróleo segue como a principal fonte de energia do mundo, presente não apenas nos combustíveis, mas em praticamente tudo o que estrutura a vida moderna, dos transportes à indústria petroquímica. O gás natural, por sua vez, é insumo essencial para a produção de fertilizantes, base da segurança alimentar.
Ardenghy defende que a transição já está em curso, impulsionada pelo crescimento das fontes renováveis, como solar e eólica, além do debate sobre a energia nuclear. No entanto, essa mudança precisa ser gradual e justa, especialmente para países em desenvolvimento. O compromisso do setor de óleo e gás, segundo ele, é reduzir a intensidade de carbono da produção, investir em tecnologia e garantir padrões elevados de segurança ambiental.
Nesse contexto, o Brasil surge como um ator diferenciado. O país acumulou décadas de experiência em águas profundas e ultraprofundas, desenvolveu tecnologia própria e construiu uma estrutura regulatória considerada sólida no cenário internacional. Essa combinação permite conciliar produção energética, proteção ambiental e desenvolvimento econômico.
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Apesar do potencial estimado, a margem equatorial ainda está em fase exploratória. Estimativas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis indicam que a região da Foz do Amazonas pode conter até 30 bilhões de barris de petróleo, mas esses números precisam ser confirmados por meio de perfuração e estudos geológicos detalhados. A Petrobras iniciou essa etapa há cerca de três meses, em um processo que deve durar aproximadamente seis meses.
Caso as reservas sejam confirmadas como comercialmente viáveis, o projeto entra em uma nova fase, marcada por forte movimentação econômica. A etapa de desenvolvimento de campo envolve encomendas de equipamentos de grande porte, adequação de portos e aeroportos, além da contratação de uma ampla cadeia de serviços. Trata-se de uma indústria capaz de gerar empregos em múltiplos níveis de qualificação, do trabalho operacional ao altamente especializado.
Um dos principais desafios apontados pelo IBP é garantir a continuidade da atividade exploratória diante de questionamentos judiciais. Ardenghy ressalta que o licenciamento ambiental levou 11 anos e atendeu a todas as exigências do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, incluindo medidas de compensação e planos robustos de emergência. A campanha atual utiliza sondas de sexta geração, embarcações de apoio permanente e centros de despetrolização de animais em Oiapoque e Belém, reforçando o foco na prevenção de riscos.
Para além da produção de petróleo, a exploração da margem equatorial pode redefinir a economia do Norte do país. A logística é um dos primeiros setores impactados. A movimentação de equipamentos como a chamada “árvore de Natal”, estrutura instalada na boca do poço e que pode atingir a altura de um prédio de seis andares, exige portos eficientes, aeroportos preparados e uma cadeia logística complexa.
Esse movimento se traduz em empregos diretos e indiretos em áreas como transporte, hotelaria, alimentação, manutenção industrial e serviços especializados. Estados como Pará, Amapá e Maranhão começam a se mobilizar para atender essa demanda, investindo em capacitação profissional e diálogo com o setor produtivo. Segundo o IBP, a prioridade das empresas é utilizar fornecedores e mão de obra locais, o que amplia o potencial de desenvolvimento regional.
No campo institucional, Ardenghy avalia que o Brasil dispõe de um arcabouço regulatório consistente, com atuação do Ministério de Minas e Energia, da ANP, do Conselho Nacional de Política Energética e do Ibama. O principal ponto de atenção, no entanto, é a carga tributária. Atualmente, cerca de dois terços do valor de cada barril produzido no país são destinados a impostos e taxas, o que pode comprometer a competitividade frente a outros produtores, como Guiana, Suriname, Argentina e países africanos.
Como os investimentos em petróleo são de longo prazo, exigindo bilhões de dólares antes da primeira gota de óleo, estabilidade regulatória e fiscal torna-se essencial. Para o IBP, garantir previsibilidade é condição básica para transformar o potencial da margem equatorial em empregos, renda e desenvolvimento sustentável para o Norte do Brasil.
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