Meio Ambiente

Poluição por remédios afeta comportamento de peixes e ameaça ecossistemas marinhos

Os rios e oceanos enfrentam uma ameaça silenciosa que vai além do plástico ou metais pesados: a presença de medicamentos no ambiente aquático. Um estudo recente, publicado na revista Science, mostra que resíduos remédios ansiolíticos como o clobazam, substância usada no tratamento de ansiedade em humanos, estão alterando profundamente o comportamento de peixes, especialmente o salmão selvagem do Atlântico.

Pesquisadores da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas investigaram os efeitos do clobazam em peixes no Rio Dal, na Suécia. Durante o experimento, 279 salmões foram rastreados e os resultados chamaram atenção: os indivíduos expostos ao fármaco migraram mais rapidamente e superaram obstáculos como represas hidrelétricas com mais facilidade que os demais.

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Apesar de parecer vantajoso à primeira vista, essa aceleração na migração traz sérios riscos para o equilíbrio ecológico.

Risco camuflado em comportamento alterado

De acordo com os cientistas, a mudança na velocidade da migração está ligada a uma maior impulsividade dos peixes expostos ao ansiolítico. Essa alteração pode torná-los mais vulneráveis a predadores e diminuir suas chances de sobrevivência durante o percurso migratório.

Peixes expostos ao ansiolítico ficam mais vulneráveis aos predadores – Fonte: iGUi WORLDWIDE

Jack Brand, autor principal do estudo, destaca que esses comportamentos alterados não são isolados: “Ao reduzir a aversão ao risco, o medicamento pode comprometer as dinâmicas sociais e ecológicas dos peixes, com consequências imprevisíveis para o ecossistema como um todo.”

Em testes laboratoriais, os salmões sob efeito do clobazam também se mostraram menos coesos ao formar cardumes — o que aumenta ainda mais o risco individual frente a predadores. Essa desorganização social pode afetar o sucesso migratório da espécie e ameaçar populações inteiras.

Medicamentos nos rios: um problema global

A contaminação de águas por remédios não se restringe aos países mais industrializados. Um levantamento da Universidade de York, realizado em 2022, identificou a presença de substâncias farmacêuticas em mais de mil locais ao redor do planeta. Os resultados mostraram que países com infraestrutura precária de saneamento são os mais atingidos, com destaque para regiões da África Subsaariana, sul da Ásia e América do Sul.

Embora em menor escala, a Europa também enfrenta o problema. Cidades como Madrid, que sofrem com climas áridos e altos índices de consumo de medicamentos, aparecem entre as mais afetadas no continente.

O impacto invisível da farmácia nas águas

A presença contínua de resíduos de medicamentos nos rios representa uma ameaça tanto à vida aquática quanto à saúde humana. Além de alterar o comportamento de espécies como o salmão, esses compostos contribuem para o surgimento de bactérias resistentes, comprometendo a eficácia de antibióticos e outros tratamentos.

Fonte: Morsch

Segundo especialistas, os sistemas de tratamento de esgoto convencionais não conseguem eliminar completamente essas substâncias. Por isso, cresce a demanda por políticas de descarte responsável e tecnologias mais eficazes de purificação da água.

Caminhos para soluções: regulação e inovação verde

Diante da complexidade do problema, a comunidade científica propõe medidas urgentes. Entre elas, destacam-se a regulamentação mais rígida para o descarte de medicamentos, a melhoria das estações de tratamento de águas residuais e o incentivo à chamada química verde — área que busca desenvolver fármacos menos nocivos ao meio ambiente e mais facilmente degradáveis.

A poluição por ansiolíticos e outros medicamentos ainda é um tema pouco debatido, mas seus efeitos já são visíveis nos rios e mares. Com o avanço de estudos como o da Suécia, fica claro que preservar a saúde dos ecossistemas aquáticos depende de uma nova forma de pensar o que consumimos e como descartamos.

Redação Revista Amazônia

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