A falta de recursos como internet e computadores, torna o acesso à educação digital um desafio para comunidades ribeirinhas como esta.
A Amazônia, conhecida mundialmente por sua biodiversidade e riqueza cultural, enfrenta um desafio que pouco aparece nos noticiários: a exclusão digital. Em pleno século XXI, milhares de brasileiros que vivem em comunidades ribeirinhas, indígenas e tradicionais da região ainda não têm acesso pleno às tecnologias básicas que conectam o mundo. Mas uma proposta em tramitação no Congresso Nacional pode mudar essa realidade.
O Projeto de Lei 4891/2024, apresentado pelo deputado federal Amom Mandel (Cidadania-AM), visa criar um programa nacional de alfabetização digital voltado especialmente para essas populações. O objetivo é ambicioso: oferecer capacitação em tecnologias digitais de forma acessível, respeitando as especificidades culturais e linguísticas da Amazônia. Mais do que ensinar a usar computadores e celulares, o programa pretende formar multiplicadores de conhecimento que poderão replicar o aprendizado em suas comunidades.
A proposta: inclusão digital com identidade cultural
Segundo o texto em análise na Câmara dos Deputados, o programa deverá ser implementado com base em parcerias com escolas, universidades, ONGs e lideranças locais. A intenção é unir esforços públicos e privados para promover educação digital participativa, com uso de metodologias adaptadas à realidade amazônica.
O conteúdo dos cursos será produzido de forma colaborativa, valorizando as línguas indígenas e os saberes tradicionais. A proposta também prevê a criação de conteúdos culturais digitais, que poderão ser utilizados como ferramenta pedagógica e meio de preservação das heranças culturais da região.
Para Amom Mandel, a iniciativa é urgente. “Temos na Amazônia um tesouro de conhecimento ancestral que convive com um dos maiores desafios do Brasil: a exclusão digital. Essa desconexão compromete o desenvolvimento individual dessas comunidades e o progresso social, econômico e ambiental de toda a região”, afirmou o deputado.
Um passo além da conectividade
Mais do que distribuir computadores ou implantar redes de internet, a proposta busca promover uma educação digital crítica e transformadora. Os participantes não apenas aprenderão a utilizar ferramentas como e-mail, redes sociais, plataformas educacionais e aplicativos de gestão, mas também serão estimulados a aplicar esses conhecimentos para resolver problemas locais.
A ideia é capacitar agentes comunitários, professores, jovens e líderes para que se tornem multiplicadores, atuando como pontos de apoio e ensino dentro de suas localidades. Essa rede descentralizada de educadores digitais poderá garantir que o conhecimento se espalhe de forma orgânica e contínua.
Infraestrutura e financiamento
Para viabilizar o programa, o projeto de lei determina que o Poder Executivo deverá destinar recursos específicos à aquisição de equipamentos, à formação de professores e à infraestrutura tecnológica nas comunidades atendidas. O foco será em áreas remotas e de difícil acesso, muitas vezes invisibilizadas nas políticas públicas de tecnologia e educação.
A implementação também prevê a instalação de salas de informática comunitárias e a capacitação de técnicos locais para manutenção dos equipamentos. Esses espaços funcionarão como polos de inovação e educação digital nas comunidades.
Empoderamento e desenvolvimento sustentável
Especialistas apontam que o acesso à tecnologia, quando bem conduzido, pode se tornar uma poderosa ferramenta de empoderamento e desenvolvimento sustentável. Em regiões como a Amazônia, onde o isolamento geográfico é um fator limitante, a alfabetização digital permite que populações tradicionais tenham acesso a informações, políticas públicas, oportunidades de mercado e participação cidadã.
O programa também poderá estimular o surgimento de empreendimentos de base tecnológica liderados por indígenas e ribeirinhos, como aplicativos com conteúdos educativos em línguas locais, plataformas de turismo de base comunitária, e-commerce de artesanato e alimentos tradicionais, entre outros.
“Promover a alfabetização digital e o uso crítico das tecnologias é abrir caminho para que essas comunidades usem o conhecimento como ferramenta de preservação de suas culturas e de construção de um futuro mais justo e sustentável”, defende Amom Mandel.
Próximos passos no Congresso
O projeto será analisado em caráter conclusivo pelas comissões da Câmara dos Deputados, o que significa que não precisará ser votado em plenário caso aprovado por todas elas. As comissões responsáveis incluem:
Se aprovado nessas etapas, o texto seguirá para o Senado Federal antes de virar lei.
Um projeto que pode inspirar o Brasil
A proposta de Amom Mandel se soma a uma crescente mobilização por inclusão digital com equidade no Brasil. Ao reconhecer as diferenças culturais e linguísticas como parte essencial do processo educacional, o projeto se destaca por sua abordagem humanizada e sustentável.
Se implementado com responsabilidade e compromisso, o programa poderá transformar não apenas a relação dessas comunidades com a tecnologia, mas também o seu papel na construção de um Brasil mais inclusivo, plural e digitalmente conectado.
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