Meio Ambiente

Indústria naval inicia transição histórica rumo a emissões líquidas zero

Responsável por cerca de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa, o transporte marítimo internacional por muito tempo ficou à margem das negociações climáticas. Mas isso começou a mudar com a aprovação, em abril de 2025, do Marco Net-Zero da Organização Marítima Internacional (OMI), um plano global que compromete a indústria naval a alcançar emissões líquidas zero até 2050.

Setor antes negligenciado assume protagonismo climático

Segundo o secretário-geral da OMI, Arsenio Dominguez, o acordo é prova de que o multilateralismo continua relevante e capaz de oferecer soluções concretas para problemas globais. O transporte marítimo é a espinha dorsal do comércio mundial, movimentando cerca de 90% das cargas internacionais, e agora se vê diante da responsabilidade de alinhar sua operação ao combate à crise climática.

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Secretário-geral da Organização Marítima Internacional (OMI), Arsenio Dominguez – Fonte: OMI

Acordo fruto de anos de negociação e cooperação global

A jornada até o acordo histórico começou em 2011, quando a OMI implementou suas primeiras normas obrigatórias de eficiência energética para navios. Em 2018, estabeleceu metas preliminares de redução de emissões. Já em 2023, intensificou sua ambição, propondo reduções de 20% até 2030 e de 70% até 2040.

O Marco Net-Zero aprovado em 2025 transforma essas intenções em obrigações legais, exigindo a adoção de combustíveis de baixa ou nenhuma emissão e incentivando inovações tecnológicas.

Combustíveis limpos e inovação no horizonte

Entre as soluções estudadas estão o uso de amônia e hidrogênio como combustíveis, tecnologias de propulsão eólica e solar, além da captura de carbono a bordo. “Estamos redescobrindo o vento como alternativa na navegação moderna”, comentou Dominguez, apontando a abertura da OMI à inovação.

Para garantir segurança e eficiência, a transição exigirá também treinamento e qualificação dos trabalhadores marítimos, adaptando-os às novas tecnologias e práticas operacionais.

Medidas financeiras e justiça climática

O plano inclui mecanismos de precificação: navios que excederem os limites de emissão deverão compensar os excessos adquirindo créditos de unidades que superaram suas metas ou contribuindo para o Fundo Net-Zero da OMI. Esse fundo financiará tecnologias limpas e oferecerá apoio técnico e financeiro a países em desenvolvimento e pequenas nações insulares, garantindo uma transição justa.

A receita será usada para incentivar práticas sustentáveis e expandir o acesso a combustíveis alternativos, equilibrando a ação climática com o desenvolvimento econômico global.

Rigor regulatório e metas progressivas

As metas do acordo são progressivas, com o primeiro ano de conformidade previsto para 2028. A redução de emissões deve atingir pelo menos 20% até 2030 (com alvo de 30%), 70% até 2040 (alvo de 80%) e neutralidade climática por volta de 2050.

Dominguez destaca que o acordo não é o fim do processo, mas o início de uma revisão contínua para ajustar as estratégias conforme surgem novas soluções tecnológicas e desafios operacionais.

Impacto ambiental vai além do carbono

Além das emissões de CO₂, o plano da OMI também aborda problemas como bioincrustação, que aumenta o consumo de combustível, ruído submarino, que afeta a fauna marinha, e a gestão da água de lastro, fundamental para evitar a proliferação de espécies invasoras.

“Os navios tocam muitas partes do ambiente marinho. Precisamos proteger todas elas”, afirmou Dominguez, reforçando o compromisso da OMI com uma abordagem ambiental ampla.

Um novo rumo para o comércio global

Com mais de 12 bilhões de toneladas de carga movimentadas por mar em 2023, a logística marítima é insubstituível. No entanto, os custos ambientais não podem mais ser ignorados. O Marco Net-Zero estabelece um modelo de responsabilidade compartilhada, no qual sustentabilidade e eficiência caminham lado a lado.

Fonte: Legal notice

“Não estamos apenas planejando agir. Estamos agindo. Este é o início de uma nova era para o transporte marítimo”, concluiu Dominguez.

Redação Revista Amazônia

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