Categories: COP 30Meio Ambiente

Digital sequence information (DSI): Desafios e oportunidades na COP 16

Entre os temas técnicos discutidos na 16ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP 16), a Digital Sequence Information (DSI) se destaca como um tópico crítico. A DSI refere-se a dados genéticos armazenados em formato digital, como sequências de DNA e RNA, que são fundamentais para a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico. No entanto, o uso e o compartilhamento dessa informação levantam questões complexas sobre direitos, ética e repartição de benefícios.

O Que é DSI e Por Que é Importante?

A DSI compreende informações derivadas de sequências genéticas de organismos vivos. Esses dados são usados por cientistas para criar novos medicamentos, desenvolver variedades agrícolas mais resistentes e estudar a biodiversidade de forma mais eficiente. Por exemplo, as vacinas baseadas em mRNA, como as utilizadas na pandemia de COVID-19, foram possíveis graças ao acesso rápido a sequências genéticas digitalizadas.

Publicidade

O acesso aberto à DSI tem acelerado a inovação científica global. No entanto, o problema surge quando empresas e instituições lucram com essas informações sem compensar os países de origem dos recursos genéticos, levantando preocupações sobre justiça e soberania genética.

O Princípio de Acesso e Repartição de Benefícios (ABS)

A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) estabelece que os benefícios derivados do uso de recursos genéticos devem ser compartilhados de forma justa. No entanto, a DSI, por ser digital e facilmente transferível, desafia a implementação prática desse princípio. Muitos países ricos em biodiversidade argumentam que estão perdendo oportunidades econômicas, já que a DSI de suas espécies é usada globalmente sem repartição adequada dos lucros gerados.

A COP 16 aborda a necessidade de um quadro legal que regule o uso da DSI, garantindo que as nações fornecedoras sejam compensadas. Propostas incluem a criação de um fundo global de benefícios, que destinaria recursos para conservação e comunidades locais, mas a execução dessa ideia é complexa e enfrenta resistência de países desenvolvidos.

Os Desafios de Regulamentar a DSI

Regular a DSI envolve vários obstáculos. Primeiro, como rastrear e monitorar o uso global de informações genéticas? Tecnologias como o blockchain estão sendo discutidas como uma solução possível, mas há preocupações sobre a viabilidade técnica e os custos. Segundo, empresas farmacêuticas e de biotecnologia alertam que regulamentações rígidas podem sufocar a pesquisa científica, especialmente em áreas como a saúde pública, onde o acesso rápido à DSI é crucial.

Cientistas desenvolvem levedura geneticamente modificada para transformar agave em etanol

Descoberta nova causa genética da deficiência intelectual

Os países desenvolvidos defendem que o acesso aberto à DSI é vital para a ciência global. No entanto, sem regras claras, a questão da biopirataria continua a ser um problema, onde recursos de biodiversidade são explorados sem qualquer benefício retornando às nações de origem.

O Conhecimento Tradicional e as Comunidades Indígenas

Outro aspecto importante na discussão sobre DSI é o conhecimento tradicional das comunidades indígenas. Muitas dessas comunidades têm informações valiosas sobre o uso de plantas e animais em práticas medicinais e ecológicas. Proteger esses conhecimentos e garantir que sejam respeitados e recompensados é uma prioridade na COP 16.

Há esforços para garantir que qualquer estrutura para a DSI inclua a proteção dos direitos indígenas, mas isso exige a colaboração entre governos, cientistas e líderes comunitários. A justiça social e a equidade são fundamentais para um modelo de ABS que funcione para todos.

Soluções e Perspectivas Futuras

As soluções propostas na COP 16 incluem a criação de sistemas de compensação que redistribuam benefícios de maneira equitativa e a implementação de mecanismos de rastreamento. No entanto, encontrar um equilíbrio entre promover a inovação científica e proteger os direitos dos países biodiversos é desafiador. A conferência em Cali é uma oportunidade para estabelecer diretrizes que possam influenciar a governança global da biodiversidade e da ciência genética no futuro.

O debate sobre DSI na COP 16 destaca a complexidade de gerenciar recursos que transcendem fronteiras físicas e digitais. O que está em jogo é não apenas a inovação científica, mas também a equidade e a sustentabilidade a longo prazo da biodiversidade global.

 

 

Redação Revista Amazônia

Published by
Redação Revista Amazônia

Recent Posts

Turfeiras

As turfeiras estão entre os ecossistemas mais densos em carbono do mundo, mas, na América…

11 horas ago

3º Congresso Internacional de Agrobiodiversidade

Com o tema "Agrobiodiversidade para as Pessoas e o Planeta", o congresso atraiu mais reuniu…

11 horas ago

Belém é pioneira na digitalização da gestão pública, eliminando o uso de papel

Belém, capital do Pará, tornou-se o primeiro município brasileiro a integrar diretamente o Programa Nacional…

12 horas ago

O que fazer se o cachorro chora sempre que você sai

Seu cachorro chora toda vez que você sai de casa, e isso parte o seu…

12 horas ago

O que o sapo-cururu faz para sobreviver à seca sem sair do lugar

Imagine enfrentar meses sem uma gota de chuva, em um solo rachado pelo sol, e…

12 horas ago

Revista Amazônia é selecionada para cobertura especial sobre mineração na região Norte

A Revista Amazônia, única revista mensal brasileira dedicada ao meio ambiente e à sustentabilidade, foi…

12 horas ago