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A nova edição do Panorama Ambiental Global, o GEO7, divulgada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) , reforça um diagnóstico que há anos se repete, mas agora com números mais duros e projeções mais abrangentes. Apresentado em Nairóbi, o documento indica que a falta de ação diante da crise ambiental e climática não é apenas um risco abstrato: trata-se de uma ameaça concreta à vida humana, ao bem-estar social e à estabilidade econômica mundial. Os cientistas envolvidos demonstram que negligenciar o clima pode resultar em milhões de mortes prematuras, pressões adicionais sobre populações vulneráveis e um rombo bilionário para governos e sociedades.
O GEO7 sintetiza décadas de pesquisa e avaliação sobre os sistemas naturais e suas relações com a atividade humana. Ele também aponta caminhos possíveis, destacando que as escolhas feitas agora determinarão se o planeta atravessará as próximas décadas com mais segurança, menos desigualdade e maior resiliência — ou se enfrentará crises cada vez mais profundas e onerosas.
Robert Watson, copresidente da avaliação científica do GEO7, destaca que apenas transformações profundas serão capazes de reverter a trajetória atual. Para ele, não basta ajustar políticas ou aperfeiçoar modelos de gestão: é preciso repensar completamente a forma como transcorrem os sistemas que estruturam a vida contemporânea. Isso inclui finanças, energia, produção de materiais, agricultura e as próprias instituições públicas.
Essas mudanças, segundo Watson, não podem recair exclusivamente sobre ministros do meio ambiente. Governos inteiros, em todas as áreas, precisam assumir o desafio. Do contrário, as consequências poderão incluir 9 milhões de mortes anuais relacionadas à poluição, aumento da pobreza extrema e expansão da insegurança alimentar. O relatório aponta que até 200 milhões de pessoas podem deixar a subnutrição caso as recomendações sejam implementadas, e cerca de 150 milhões poderiam sair da pobreza extrema.
Os autores reforçam que as soluções propostas envolvem integração entre tecnologia, mudança cultural, inovação em políticas públicas e decisões coletivas. Para que isso aconteça, o relatório sugere uma combinação de investimentos robustos e ações de curto, médio e longo prazo, com foco em justiça social e diversificação econômica.
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Um dos pontos mais contundentes do GEO7 diz respeito ao custo de manter tudo como está. Segundo o Pnuma, seriam necessários aproximadamente US$ 8 trilhões por ano para cumprir as metas globais de neutralidade de carbono e de conservação da biodiversidade até 2050. No entanto, os prejuízos já registrados demonstram que não agir custa muito mais.
A diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen, alerta que somente as mudanças climáticas reduzirão cerca de 4% do PIB global até meados do século, além de causar mortes e estimular migrações forçadas. A combinação de eventos extremos, secas prolongadas, enchentes e ondas de calor intensas já custa ao mundo cerca de US$ 143 bilhões por ano. E esse valor não inclui o impacto indireto sobre infraestrutura, produtividade e saúde pública.
Apenas a poluição do ar exigiu US$ 8,1 trilhões em gastos globais em 2019. A exposição contínua a substâncias tóxicas presentes nos plásticos representa outro prejuízo significativo: aproximadamente US$ 1,5 trilhão anuais. Os cientistas são categóricos: diante desse cenário, investir na transição ecológica não é uma alternativa — é a única escolha racional possível.
O GEO7 também apresenta críticas ao modelo tradicional de tomada de decisões adotado por governos. Para os pesquisadores, focar exclusivamente no PIB como indicador de progresso obscurece perdas ambientais e sociais que afetam a qualidade de vida. O documento recomenda que países adotem métricas mais abrangentes, capazes de captar aspectos como saúde, bem-estar e capital natural.
O relatório é resultado do trabalho conjunto de 287 cientistas de 82 países, com contribuições de mais de 800 revisores. Para Inger Andersen, o GEO7 deve servir como impulso para que os avanços alcançados recentemente, especialmente nas negociações sobre clima, como a COP30, se convertam em ações concretas. Implementar as promessas já feitas e ampliá-las é, segundo ela, um passo essencial para que o planeta alcance resiliência diante de um futuro climático desafiador.
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