Economia

Jequitibá-rosa centenário é encontrado no Rio de Janeiro

No coração da Zona Oeste do Rio de Janeiro, no Parque Estadual da Pedra Branca, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Mata Atlântica) encontraram um verdadeiro sobrevivente da história natural brasileira: um jequitibá-rosa com cerca de 500 anos. A árvore monumental, de 40 metros de altura — o equivalente a um prédio de 13 andares — e impressionantes 7 metros de circunferência, é um testemunho vivo da resistência da Mata Atlântica, um bioma que já perdeu mais de 80% de sua cobertura original.

O registro foi feito pelos biólogos Monique Medeiros Gabriel e Jaílton Costa, que localizaram a árvore a 200 metros de altitude, a cerca de um quilômetro no interior da mata. O acesso, segundo os pesquisadores, só foi possível graças ao Sítio Jequitibá-Rosa, uma propriedade privada mantida por Carlos Sergio Raposo, que preserva o entorno e abriga outros exemplares da espécie. Esse espaço, integrado à Floresta da Pedra Branca, mantém fragmentos de vegetação nativa de grande relevância para a conservação.

O jequitibá-rosa, espécie exclusiva da Mata Atlântica, está hoje sob risco de extinção. A pressão da exploração madeireira e o avanço urbano sobre seu habitat natural reduziram drasticamente sua presença em território nacional. Para o biólogo Thiago Fernandes, da Fiocruz Mata Atlântica, encontrar uma árvore desse porte é não apenas um feito científico, mas também um alerta. “A conservação dessa espécie é essencial para a manutenção da biodiversidade. Ela é um símbolo da floresta e, ao mesmo tempo, um reflexo das ameaças que a Mata Atlântica enfrenta”, afirmou.

Fiocruz/Divulgação

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Com isso em mente, a árvore já foi marcada para coleta de sementes. O objetivo é garantir a produção de mudas no horto da Fiocruz Mata Atlântica e iniciar um processo de reintrodução da espécie em áreas degradadas. Essa ação segue recomendações do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), que atua na catalogação e recuperação de espécies ameaçadas em todo o país.

Além da conservação direta, o achado fortalece o papel da Estação Biológica Fiocruz Mata Atlântica (EBFMT), criada em 2016 como o primeiro laboratório natural do Ministério da Saúde dedicado à interface entre biodiversidade e saúde. Única no mundo com essa vocação, a estação está localizada na antiga área da Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, e desenvolve pesquisas e projetos de restauração ecológica alinhados aos objetivos do parque.

A descoberta do jequitibá-rosa centenário lança luz sobre o delicado equilíbrio entre preservação e degradação. Enquanto a expansão urbana pressiona os limites da Pedra Branca, iniciativas de proteção como as da Fiocruz e de proprietários comprometidos revelam que ainda há espaço para resgatar e valorizar o patrimônio natural.

Cada árvore desse porte é um arquivo vivo da história ambiental brasileira. Ao longo de cinco séculos, o jequitibá resistiu a tempestades, mudanças climáticas e à ocupação humana que transformou o Rio de Janeiro. Sua permanência é uma lição sobre resiliência, mas também um lembrete de que a sobrevivência da espécie depende de políticas públicas eficazes, engajamento social e ciência aplicada.

Ao marcar sementes e projetar a multiplicação de mudas, a Fiocruz se conecta a uma visão de futuro em que o jequitibá-rosa não será apenas uma memória, mas uma presença garantida nas próximas gerações. Um gesto que transforma um gigante solitário em símbolo de esperança para toda a Mata Atlântica.

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