Imagem: Raíra Saloméa
Entre os dias 2 e 5 de abril, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) se transformou em um verdadeiro centro de articulação internacional ao sediar a Cúpula Global da Juventude pelo Clima 2025.
O evento reuniu presencialmente cerca de 200 jovens líderes climáticos vindos de mais de 40 países, majoritariamente do Sul Global, com o objetivo de construir soluções coletivas e inovadoras para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. Outros 300 ativistas participaram de forma virtual.
A iniciativa é organizada pelo Global Youth Leadership Center (GYLC), com apoio da UFMG e o patrocínio de instituições como Cemig, Fiemg e Itaminas. A cúpula busca desenvolver competências em ciência climática e liderança, capacitando jovens para implementarem ações concretas em suas comunidades.
A cúpula faz parte da preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), prevista para acontecer entre 10 e 21 de novembro de 2025 em Belém (PA). Segundo Ricardo Gonçalves, diretor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, que sediou o encontro, o evento pode ser considerado uma das ações preparatórias mais relevantes em nível global para a COP30. “Recebemos mais de quatro mil candidaturas e selecionamos os 200 delegados mais engajados para as discussões presenciais aqui na universidade”, destaca.
Durante o encontro, serão escolhidos dez jovens de regiões vulneráveis que receberão um aporte de mil dólares para executar projetos ambientais locais, focados em clima e biodiversidade. Os critérios de seleção incluem criatividade, viabilidade e impacto social e ambiental. Os resultados foram divulgados no encerramento da cúpula, no dia 5 de abril.
A escolha da UFMG como sede não foi por acaso. O professor Geraldo Wilson Fernandes, referência mundial em biodiversidade e coordenador do INCT Centro de Conhecimento em Biodiversidade, foi o responsável por trazer o evento ao Brasil. Para ele, é impossível tratar a crise climática sem integrar a questão da biodiversidade.
“Sem biodiversidade, não há serviços ecossistêmicos, e sem eles não há vida. A perda de biodiversidade é irreversível. Qualquer estratégia de combate às mudanças climáticas precisa gerar ganhos reais para a biodiversidade”, defende Fernandes. Essa abordagem integrada guiou os debates e ajudou a moldar a agenda da cúpula.
A cerimônia de abertura, realizada em formato híbrido, contou com a presença de autoridades como a reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, o CEO da GYLC, Ejaj Ahmad, além de representantes dos Ministérios da Ciência e do Meio Ambiente.
Um dos momentos mais marcantes foi a participação da ativista indígena Rayane da Silva França Xipaia, da etnia Xipai, do Pará. Em sua fala, Rayane destacou o papel fundamental dos povos indígenas na preservação ambiental. “Coexistimos com a floresta sem destruí-la. Nossa ciência, nossa forma de vida, têm muito a ensinar ao mundo”, afirmou. Ela também destacou a importância da educação comunitária como ferramenta essencial no enfrentamento da crise climática.
Rayane trouxe ainda reflexões sobre a dimensão social da crise climática, ressaltando como populações em situação de vulnerabilidade são as mais impactadas por desastres naturais. “É muito diferente viver uma enchente numa periferia do que assisti-la do alto de um prédio. As desigualdades sociais também são climáticas”, disse.
Outros jovens de países como Quênia, Japão, Bangladesh, Gana e Peru também tiveram a oportunidade de discursar e propor ações concretas às autoridades presentes. Para Ejaj Ahmad, CEO da GYLC, esse protagonismo juvenil é essencial. “A juventude do Sul Global precisa liderar o debate sobre soluções climáticas, já que são os mais afetados por essa crise.”
Os discursos finais da Cúpula Global da Juventude pelo Clima trouxeram reflexões profundas sobre o papel da biodiversidade na luta contra a crise climática. Para as lideranças presentes, proteger a vida em todas as suas formas não é apenas uma estratégia ambiental, mas uma condição essencial para garantir o futuro do planeta.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, ressaltou o protagonismo da juventude, que, segundo ela, inspira esperança em meio à emergência climática. “Temas como ciência, liderança e transformação, que ecoaram ao longo da cúpula, são a base da nova economia que o mundo precisa abraçar para garantir sua sobrevivência”, destacou.
Marina também abordou a necessidade de um novo paradigma civilizatório, que vá além dos aspectos econômicos. “A juventude pede um amanhã mais justo, inclusivo e ambientalmente equilibrado. Mas isso exige uma mudança profunda na forma como existimos. Sustentabilidade também é uma forma de ser. Precisamos reconstruir a relação do ser humano consigo mesmo, com os outros e com a natureza”, refletiu.
O diretor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Ricardo Gonçalves, também falou durante a cerimônia de encerramento, destacando o poder da mobilização coletiva que a cúpula representou. Para ele, a crise climática exige uma geração de jovens engajados e preparados para liderar as mudanças necessárias.
Com um apelo direto à ação, Ricardo citou a canção Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré: “Vivemos um momento decisivo. Os efeitos das mudanças climáticas se somam às desigualdades sociais e atingem mais duramente os mais vulneráveis. Precisamos agir agora. Como diz a música: ‘quem sabe faz a hora, não espera acontecer’”, afirmou.
Waleska Queiroz, jovem liderança paraense, representou a voz da juventude amazônica na cúpula e reforçou a importância do Brasil sediar a COP30, que acontecerá em novembro de 2025, em Belém. Em sua fala, ela lembrou que as mudanças climáticas não podem ser analisadas sem considerar o racismo ambiental, as desigualdades históricas e a exclusão das populações indígenas, quilombolas e outras minorias.
“A juventude da Amazônia não pode ser lembrada apenas como sobrevivente. Precisamos estar no centro das soluções. O combate às mudanças climáticas só será efetivo se enfrentar também as injustiças sociais que estruturam nossa sociedade”, afirmou.
Waleska reforçou que a participação ativa de jovens como ela é essencial para que a agenda climática avance. “Somos uma geração que propõe, inova e transforma. Reconhecer os saberes tradicionais e proteger os povos originários não é apenas justo — é necessário. Só assim a luta climática terá raízes profundas e reais.”
Ao final da cúpula, os participantes elaboraram a chamada “Carta de Belo Horizonte”, documento que será encaminhado a representantes de governos e organizações internacionais. A carta reúne propostas e recomendações debatidas ao longo dos quatro dias de evento e busca influenciar diretamente os rumos das negociações na COP30.
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