O setor privado dos países do Sul Global está sendo instigado a assumir um papel de vanguarda na transição climática, aproveitando a visibilidade e o ímpeto da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) em Belém, no coração da Amazônia. Esta é a visão de Nelmara Arbex, sócia da consultoria KPMG no Brasil e líder da rede na América do Sul, que vê a estabilidade climática não como uma obrigação regulatória, mas como um imperativo fundamental para o sucesso dos negócios.
A especialista argumenta que as empresas já entenderam o risco existencial que as mudanças climáticas representam para a economia. Por isso, elas não devem esperar que a regulamentação governamental dite o ritmo da transformação. Mesmo diante de impasses diplomáticos, como a ausência de compromissos mais robustos de financiamento por parte de grandes emissores como os Estados Unidos, o setor privado tem demonstrado a capacidade de manter e executar sua própria agenda climática. Arbex observou que o comportamento das empresas durante eventos como a Semana do Clima em Nova York, ocorrida em setembro, prova que elas abordam a questão de forma pragmática, mantendo seus planos de descarbonização.
A COP30 ocorre em um momento crucial, o ano em que se esperava uma redução drástica nas emissões globais de gases de efeito estufa. Embora haja uma tendência de estabilização, o nível de corte necessário para o clima global ainda não foi atingido. Nesse contexto, a ausência de um financiamento climático robusto por parte do governo dos EUA representa um desafio significativo, dada a posição do país como um dos principais emissores.
No entanto, Nelmara Arbex destaca que a dependência não deve ser exclusiva. Ela aponta para outros atores globais, como a China, que possuem os recursos e o interesse necessários para investir e liderar essa transição. Para a sócia da KPMG, o setor privado tem a capacidade de buscar e firmar alianças com esses novos polos de financiamento.
A especialista vê na COP30 uma “oportunidade histórica” para as empresas do Sul Global demonstrarem sua verdadeira liderança. O foco, segundo ela, deve ser claro: “Só haverá estabilidade climática se reduzirmos drasticamente as emissões. Investir em energias renováveis é importante, mas o essencial é reduzir as emissões”. Isso significa que o investimento deve ser direcionado para eficiência energética, inovação operacional e novos modelos de produção que exijam projetos sólidos e atraentes para o capital internacional.
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O Sul Global não é apenas um receptor de financiamento; ele possui capacidades únicas para impulsionar um novo modelo de desenvolvimento e de financiamento climático. Arbex indica que os países em desenvolvimento se encontram em diferentes estágios de transição energética e detêm tecnologias e práticas que podem ser compartilhadas, alterando o foco das discussões globais.
A América Latina, por exemplo, já produz quase 70% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis e possui um domínio significativo nas tecnologias de biocombustíveis. Além disso, o Hemisfério Sul detém “milhões de hectares com potencial para restauração florestal”, um ativo fundamental não apenas para o sequestro de carbono, mas para o desenvolvimento sustentável.
Para transformar esses ativos em realidade, a chave está na inovação socioeconômica. Arbex argumenta que qualquer novo modelo de financiamento climático deve ser intrinsecamente ligado à redução de emissões e à redução da pobreza. Isso exige que as empresas não apenas aprimorem seus processos técnicos, mas também estabeleçam alianças estratégicas. “Parcerias entre empresas, tanto do mesmo setor quanto de setores diferentes, podem acelerar significativamente essa transição e gerar mais valor”, reforça a especialista.
O setor privado brasileiro, em particular, tem a oportunidade única na COP30 de enviar uma mensagem global clara, demonstrando que o desenvolvimento econômico na Amazônia e no Brasil pode e deve ser sinônimo de liderança climática pragmática, inovadora e socialmente responsável. A expertise em energias renováveis, biocombustíveis e restauração florestal posiciona o Sul Global para não apenas participar da transição, mas para liderá-la.
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