Davi YanomamiFotógrafa: Betty Laura Zapata/Bloomberg
Líderes indígenas da Amazônia viajaram até Londres na última semana para entregar um recado direto ao mundo: o sistema econômico atual está falhando com a floresta e seus povos. Representantes dos povos Yanomami, Krenak e Kambeba se reuniram com acadêmicos e autoridades do setor financeiro para denunciar os danos provocados pela exploração predatória de recursos naturais.
Eles alertaram sobre a devastação causada pelo garimpo ilegal, extração de madeira e expansão do agronegócio, práticas que continuam a destruir territórios ancestrais. “A terra está doente”, afirmou Dario Yanomami, vice-presidente da Associação Hutukara Yanomami. “Durante mais de cinco séculos protegemos a floresta, mas agora o mundo precisa proteger a mãe natureza do colapso capitalista.”
O garimpo de ouro, em especial, tem gerado impactos devastadores. As terras Yanomami vêm sendo constantemente invadidas por mineradores ilegais, impulsionados pela valorização recorde do ouro, que ultrapassou US$ 3.000 por onça no mercado internacional.
Os líderes relataram que a resistência contra essas indústrias costuma ser recebida com ameaças e violência. Essa realidade, segundo eles, é frequentemente ignorada por investidores e consumidores distantes da floresta, que desconhecem os efeitos destrutivos por trás das commodities que consomem.
Durante uma coletiva na sede da Bloomberg, os líderes também expressaram ceticismo em relação às cúpulas internacionais sobre o clima, como a COP30, que será realizada em Belém, no Brasil. Embora o evento reúna representantes de quase 200 países, os indígenas temem que sua participação continue sendo apenas simbólica.
“Não quero ser apenas ouvinte na COP”, declarou Adana Omagua Kambeba, médica e xamã em formação. “Quero falar, ser ouvida e representar meu povo de verdade.” A declaração reforça o sentimento de exclusão e a necessidade de uma escuta ativa e efetiva por parte das lideranças mundiais.
Os integrantes da delegação também demonstraram desconfiança quanto às soluções de mercado para a crise ambiental, como os créditos de carbono. Ailton Krenak, um dos participantes do grupo e autor de Ideias para Adiar o Fim do Mundo, reforçou que essas estratégias não confrontam as raízes do problema.
“O mercado não pode resolver o problema que ele mesmo criou”, criticou Krenak. “Acreditar nisso é, no mínimo, ingenuidade.”
Enquanto o Brasil propõe um fundo de US$ 125 bilhões para remunerar países tropicais pela preservação de florestas, Davi Yanomami afirmou que nem ele, nem outros líderes indígenas, foram consultados sobre essa iniciativa. Isso reforça o abismo entre promessas políticas e a realidade dos povos originários.
Fonte: Bloomberg
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