Meio Ambiente

Luta ambiental não é só nossa, Segundo o diretor indígena do Somos Guardiões

No início de 2020, o mundo foi abalado pelo anúncio da pandemia da COVID-19. Para Edivan Guajajara, um colaborador em um documentário sobre defensores da floresta, este anúncio marcou o início do maior desafio de sua vida.

Edivan, que inicialmente foi chamado para ajudar na logística e na tradução para o tupi durante as entrevistas, rapidamente se tornou uma peça fundamental na produção do documentário. Quando a pandemia forçou os diretores estadunidenses, Chelsea Greene e Rob Grobman, a retornarem aos Estados Unidos, Edivan assumiu as rédeas. Ele continuou com as filmagens e foi nomeado diretor, dando ao documentário o nome de “Somos Guardiões”.

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O documentário, com duração de 1 hora e 20 minutos, estreou na Netflix para toda a América Latina no domingo, 28 de janeiro de 2024. “Estou emocionado. Queremos mostrar que a luta não é só nossa”, diz Edivan, hoje com 36 anos de idade.

Edivan, que é da aldeia Zutiwa, na Terra Araribóia, no Maranhão, sempre teve o sonho de dar mais visibilidade à luta do seu povo. Desde 2015, ele se encantou pelas imagens que aprendeu a registrar com o celular. Em 2017, como parte do Coletivo Mídia Índia, ele já pensava em garantir luz à luta pela proteção territorial e na defesa ambiental.

O documentário destaca as histórias dos guardiões indígenas e líderes que lutam pela proteção da Amazônia, e também a relação com madeireiros e agricultores da região. Edivan considera que os protagonistas são a líder indígena Puyr Tembé e o guardião florestal Marçal Guajajara na luta para proteger seus territórios do desmatamento.

“Tratamos de mudanças climáticas, a invasão dos territórios, políticas públicas e também das empresas multimilionárias que fornecem e apoiam grandes destruições. Então, é um filme que fala de muitas coisas muito importantes”, explica Edivan.

O filme, que ganhou a adesão de nomes como Leonardo di Caprio como produtor executivo, já foi o vencedor em três festivais internacionais de cinema como melhor documentário.

“Os diretores americanos decidiram me nomear como diretor porque o prazo estava acabando. Foi uma responsabilidade muito grande naquele momento, porque o filme não podia parar”, recorda Edivan. É o primeiro filme profissional de Edivan, que se encerrou no ano passado. Os diretores estrangeiros retornaram próximo ao final da montagem.

“O filme retrata a vida dos povos indígenas como os primeiros protetores dos seus territórios. Só que a proteção dos territórios que os indígenas fazem não é só para eles. É uma proteção que serve para toda a humanidade. O sentido do filme é que todos nós devemos ser guardiões”, diz Edivan.

As gravações ocorreram principalmente em dois territórios, no Arariboia, no Maranhão, e no Alto do Rio Guamá, no Pará. Há outras imagens realizadas em outros lugares, mas que foram mantidas em sigilo para não criar risco aos personagens.

“A humanidade é culpada por certas coisas estarem acontecendo hoje em dia, como o aquecimento global, o desmatamento e essas queimadas descontroladas”, afirma Edivan.

Ele entende que o filme pode ser importante para conscientização e educação. Ficou orgulhoso de contar a história, por exemplo, de Marçal Guajajara, guardião da floresta do território indígena Arariboia. “Ele é um protetor do território que faz monitoramento e fiscalização para tentar, de alguma forma, expulsar os invasores e os caçadores. Ele é um guardião da floresta”.

Em relação à ativista Puyr Tembé, o cineasta destaca que ela saiu do seu território para defender os povos indígenas na cidade. “Ela ficou nos dois espaços, que é na cidade e na aldeia, fazendo essa defesa. Nós acompanhamos eles por muito tempo”.

A câmera ficava ligada o tempo inteiro. O diretor pedia que as pessoas esquecessem que havia filmagem. “A gente acompanhava o dia a dia deles normalmente. Nada de ficção. Foi tudo acontecendo”, revela. Ele tem dúvidas para elencar qual a cena que mais o impactou, mas entende que a parte final do filme é muito emocionante. “A gente espera que as pessoas se sintam sensibilizadas para as causas indígenas e que podemos lutar juntos.

A gente está fazendo nosso trabalho”, avalia. Edivan Guajajara está feliz com o lançamento do primeiro filme, e já pensa no próximo. “Sou o primeiro indígena que tem um filme na Netflix e essa visibilidade é importante. O meu povo está muito feliz de estar mostrando o trabalho mundo afora. Não há preço nenhum que possa pagar por essa felicidade que a gente está sentindo agora”.

Redação Revista Amazônia

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