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A expansão do mercado de pescado brasileiro para os EUA: Oportunidades e desafios de uma nova era de exportações

 

Nos últimos anos, o mercado de pescado brasileiro tem passado por uma transformação significativa, impulsionada pela crescente demanda global por proteínas de origem sustentável e pelas recentes mudanças nas regulamentações de exportação para os Estados Unidos. Essas alterações abriram uma janela de oportunidades para o Brasil expandir suas vendas de pescado, especialmente da tilápia, para o maior mercado consumidor do mundo. Com a desburocratização no processo de exportação e a confiança internacional no sistema de controle sanitário brasileiro, a expectativa é que o país se consolide como um dos principais exportadores de pescado para os EUA nos próximos anos.

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No entanto, esse crescimento não vem sem desafios. O setor de pesca e aquicultura brasileiro enfrenta questões críticas, como a necessidade de modernizar sua infraestrutura, melhorar as práticas de sustentabilidade, e garantir a fiscalização adequada para evitar a exploração ilegal dos recursos aquáticos. Este artigo explora em profundidade as oportunidades e os obstáculos enfrentados pelo Brasil na expansão do mercado de pescado para os Estados Unidos, além de analisar o papel de estados como o Pará e Paraná, líderes nesse mercado.

A Nova Dinâmica de Exportação de Pescado para os Estados Unidos

A recente flexibilização nas exigências de exportação para os Estados Unidos, que agora não exige mais a Certificação Sanitária Internacional (CSI), facilitou o acesso do pescado brasileiro a esse importante mercado. Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), essa mudança é um reflexo da confiança internacional no sistema de controle sanitário do Brasil e visa desburocratizar o processo de exportação. No entanto, o pescado exportado ainda precisa seguir as rigorosas normas sanitárias estabelecidas pela Administração Federal de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos .

Com essa mudança, a exportação de pescado brasileiro, especialmente a tilápia, deve crescer significativamente. Atualmente, a tilápia representa cerca de 92% do volume de pescado exportado pelo Brasil . Essa espécie de peixe, altamente valorizada por seu sabor suave e versatilidade na culinária, é uma das principais proteínas exportadas para os Estados Unidos.

Os Estados Unidos, por sua vez, já são o principal destino das exportações de pescado do Brasil. Em 2024, quase 50% do total de pescado exportado pelo Pará teve como destino os EUA, movimentando mais de US$ 21,5 milhões apenas nos primeiros nove meses do ano . Esse número coloca os Estados Unidos no topo da lista de importadores de pescado brasileiro, superando mercados como Hong Kong e China.

Oportunidades Geradas pela Expansão do Mercado Americano

A expansão do mercado de pescado brasileiro para os Estados Unidos abre uma série de oportunidades para o país. Além de fortalecer as relações comerciais com um dos maiores mercados consumidores do mundo, essa nova dinâmica pode trazer diversos benefícios econômicos e sociais para os estados brasileiros que lideram as exportações de pescado, como o Pará, Paraná, Ceará e São Paulo .

  1. Aumento do Volume de Exportações

A desburocratização do processo de exportação para os Estados Unidos deve resultar em um aumento significativo no volume de pescado exportado. Com a retirada da exigência da Certificação Sanitária Internacional, o tempo de processamento e os custos relacionados à exportação devem ser reduzidos, tornando o pescado brasileiro mais competitivo no mercado internacional.

O crescimento das exportações pode gerar benefícios diretos para os produtores, que terão mais facilidade para acessar o mercado norte-americano. Isso, por sua vez, pode estimular o aumento da produção de pescado no Brasil, tanto por meio da pesca tradicional quanto pela aquicultura, especialmente na criação de tilápias.

  1. Valorização da Tilápia Brasileira

A tilápia, que já domina as exportações brasileiras de pescado, deve se tornar ainda mais valorizada no mercado internacional, especialmente nos Estados Unidos. Com uma produção focada em qualidade e cumprimento de padrões sanitários internacionais, o pescado brasileiro tem ganhado espaço em mercados que buscam produtos sustentáveis e com rastreabilidade garantida.

A tilápia é uma espécie de fácil manejo e que se adapta bem a diferentes condições climáticas, o que facilita sua criação em larga escala. Os estados do Paraná e Ceará se destacam como grandes produtores de tilápia, beneficiando-se diretamente da expansão das exportações para os Estados Unidos. No entanto, a crescente demanda também pode incentivar outros estados brasileiros a investirem na piscicultura como uma alternativa econômica viável .

  1. Expansão de Mercados Alternativos

Além dos Estados Unidos, outros mercados internacionais também estão se abrindo para o pescado brasileiro. Hong Kong e China, por exemplo, são grandes compradores do pescado paraense. Em 2024, Hong Kong comprou US$ 13,8 milhões em pescado do Pará, o que representou mais de 30% das exportações do estado . A diversificação dos mercados é essencial para garantir que o Brasil tenha uma base de consumidores mais ampla e estável.

Essa expansão também pode impulsionar a produção de outras espécies de pescado que atendam à demanda de diferentes mercados. Com a diversificação da produção, o Brasil pode se tornar um importante fornecedor global de pescado, não apenas de tilápia, mas também de espécies nativas e regionais, valorizando ainda mais sua biodiversidade aquática.

  1. Geração de Empregos e Desenvolvimento Local

O crescimento das exportações de pescado deve trazer benefícios econômicos diretos para as regiões que lideram a produção e exportação de peixes. Estados como o Pará e Paraná podem experimentar um aumento na geração de empregos, tanto no setor de produção quanto nas áreas relacionadas à logística e transporte de pescado.

O desenvolvimento da aquicultura, em particular, tem o potencial de criar uma rede de oportunidades econômicas para pequenas e médias propriedades, que podem investir na criação de peixes para atender à demanda crescente do mercado interno e externo. Além disso, o fortalecimento da cadeia produtiva do pescado pode contribuir para o desenvolvimento local e regional, impulsionando a economia de estados que tradicionalmente dependem da agricultura e da pesca artesanal.

Os Desafios da Expansão do Mercado de Pescado

Embora as oportunidades sejam promissoras, a expansão do mercado de pescado brasileiro para os Estados Unidos e outros países também traz uma série de desafios que precisam ser enfrentados para garantir que o crescimento seja sustentável e competitivo no longo prazo.

  1. Sustentabilidade da Produção

Um dos principais desafios enfrentados pelo setor de pesca e aquicultura no Brasil é garantir que o aumento da produção não comprometa a sustentabilidade dos recursos naturais. A sobrepesca, a degradação dos habitats aquáticos e a poluição das águas são questões críticas que precisam ser abordadas para garantir a continuidade da produção de pescado.

A aquicultura, por sua vez, também precisa adotar práticas mais sustentáveis, que minimizem o impacto ambiental e garantam a preservação da biodiversidade. Isso inclui o uso de rações sustentáveis, o controle da qualidade da água e a redução do uso de antibióticos e outros produtos químicos na criação de peixes.

Para enfrentar esses desafios, o Brasil precisa investir em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias que permitam uma produção de pescado mais eficiente e ambientalmente responsável. Além disso, a criação de políticas públicas que incentivem práticas de pesca sustentável e que garantam a proteção dos recursos hídricos é essencial para o sucesso do setor no longo prazo.

  1. Fiscalização e Rastreabilidade

A simplificação das exigências para exportação de pescado para os Estados Unidos levantou preocupações entre alguns setores da indústria de pesca no Brasil. O presidente do Sindicato das Indústrias de Pesca, Aquicultura e Empresas Armadoras e Produtoras do Pará (Sinpesca), Apoliano Oliveira do Nascimento, expressou preocupação com a fiscalização das exportações após a retirada da Certificação Sanitária Internacional .

Segundo Oliveira, a ausência da CSI pode resultar em uma fiscalização mais rigorosa por parte do Ibama, especialmente no que se refere à rastreabilidade do pescado. A indústria de pesca no Brasil ainda enfrenta problemas com a pesca ilegal, e a falta de fiscalização adequada pode comprometer a qualidade e a legalidade do pescado exportado.

A rastreabilidade é um fator crucial para garantir que o pescado brasileiro atenda aos padrões internacionais e que os consumidores tenham confiança na origem dos produtos que estão adquirindo. Portanto, é essencial que o Brasil fortaleça seus mecanismos de fiscalização e garanta que todas as etapas da produção e exportação sejam monitoradas de forma eficaz.

  1. Infraestrutura de Logística e Transporte

O crescimento das exportações de pescado também traz à tona questões relacionadas à infraestrutura de logística e transporte. A exportação de pescado fresco e congelado exige uma cadeia de frio eficiente, que garanta a conservação da qualidade do produto durante o transporte até os mercados internacionais.

No Brasil, a infraestrutura de transporte ainda enfrenta desafios, como a precariedade das estradas e a falta de capacidade nos portos. Para que o país possa competir de forma eficaz no mercado global de pescado, é necessário que investimentos sejam feitos na modernização da infraestrutura de exportação, garantindo que os produtos cheguem ao destino final em condições ideais.

Além disso, a logística interna também precisa ser aprimorada para garantir que os produtores de pescado em regiões mais remotas possam acessar os centros de distribuição e os portos de exportação de maneira eficiente e com custos reduzidos.

  1. Competição Internacional

O Brasil está entrando em um mercado altamente competitivo, onde países como China, Noruega, Chile e Vietnã já têm uma forte presença. Esses países possuem uma indústria de pescado bem desenvolvida, com cadeias produtivas integradas e eficiência logística, o que torna a competição acirrada.

Para se destacar no mercado internacional de pescado, o Brasil precisará não apenas aumentar sua produção, mas também garantir que seus produtos sejam diferenciados pela qualidade, sustentabilidade e respeito às normas sanitárias internacionais. Isso requer investimentos em tecnologia, inovação e marketing para posicionar o pescado brasileiro como um produto premium nos mercados internacionais.

O Papel do Pará na Liderança das Exportações de Pescado

O estado do Pará tem se consolidado como o maior exportador de pescado do Brasil, com uma participação de 24,82% no total exportado entre janeiro e setembro de 2024. A posição geográfica estratégica do estado, aliada à sua vasta costa e aos recursos hídricos da Amazônia, torna o Pará um dos principais centros de produção de pescado no país.

Os Estados Unidos são o principal destino do pescado paraense, representando quase metade das exportações do estado. Além disso, o Pará também tem expandido sua presença em mercados asiáticos, como Hong Kong e China, que juntos representam mais de 40% das exportações de pescado do estado .

A indústria pesqueira no Pará é composta tanto por pesca artesanal quanto por aquicultura, com uma crescente profissionalização do setor. No entanto, o estado ainda enfrenta desafios relacionados à fiscalização e à regularização da pesca, já que um grande número de embarcações e pescadores ainda opera de forma irregular .

A liderança do Pará nas exportações de pescado coloca o estado em uma posição de destaque no cenário nacional e internacional. Para manter essa posição, o Pará precisa continuar investindo em práticas de pesca sustentável e em infraestrutura que suporte o crescimento das exportações.

 A expansão do mercado de pescado brasileiro para os Estados Unidos representa uma oportunidade histórica para o Brasil consolidar sua posição como um dos maiores exportadores de pescado do mundo. Com a desburocratização do processo de exportação e o aumento da demanda global por produtos sustentáveis, o país tem um enorme potencial de crescimento nesse setor.

No entanto, para que esse crescimento seja sustentável, o Brasil precisará enfrentar uma série de desafios, incluindo a modernização da infraestrutura de transporte, a melhoria das práticas de pesca e aquicultura, e o fortalecimento da fiscalização e rastreabilidade do pescado exportado. Se essas questões forem abordadas de maneira eficaz, o Brasil poderá não apenas aumentar suas exportações de pescado, mas também se posicionar como um líder global em sustentabilidade e qualidade no setor de pesca.

O papel do Pará como maior exportador de pescado do Brasil é um exemplo de como o país pode aproveitar seus recursos naturais de forma estratégica para impulsionar o crescimento econômico e expandir sua presença no mercado internacional de pescado. Com as medidas certas, o Brasil tem o potencial de transformar sua indústria pesqueira em um dos principais motores de sua economia, beneficiando produtores, consumidores e o meio ambiente.

Redação Revista Amazônia

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