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Alcançar metas climáticas requer adoção de bioenergia e melhoria da eficiência energética

 

O G20, que reúne as 19 economias mais fortes do mundo, junto com a União Europeia e a União Africana, anunciou recentemente um compromisso para triplicar a utilização de energias renováveis até 2030. O Brasil, com sua matriz energética majoritariamente renovável, desempenha um papel de destaque nessas discussões, principalmente com fontes como energia hidráulica, solar, eólica e a biomassa derivada da cana-de-açúcar — setor no qual o Estado de São Paulo se destaca como líder de produção no país.

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A bioenergia e a eficiência no uso de energia

A bioenergia e a eficiência no uso de energia foram os temas principais do último Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, organizado pelo Instituto do Legislativo Paulista (ILP) em parceria com a FAPESP. O evento, que está disponível no canal da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) no YouTube, abordou estratégias para um futuro mais sustentável.

Luiz Augusto Horta Nogueira, pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Unicamp e membro do comitê científico do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), destacou a importância de um uso consciente e eficiente da energia. “Muitas vezes, a questão é tratada como um problema de suprimento, quando a solução também passa por melhorar o uso, independentemente da fonte”, disse Nogueira, enfatizando a necessidade de considerar recursos renováveis e cogeração de energia.

Marcelo Pereira da Cunha, professor de economia da Unicamp, ressaltou os desafios e benefícios da transição dos combustíveis fósseis para fontes limpas. Ele lembrou que, no cenário global, dois terços das emissões de gases de efeito estufa vêm da queima de petróleo e carvão, o que torna a mudança inevitável. Embora a matriz de emissões do Brasil seja menos impactante, ainda é essencial buscar alternativas sustentáveis.

Um dos pontos levantados por Cunha foi o impacto socioeconômico dessa transição. A produção de biocombustíveis no Brasil, por exemplo, gera seis vezes mais empregos que a de combustíveis fósseis. Além disso, cerca de 45% da geração de riqueza na cadeia de bioenergia está diretamente ligada ao trabalho, ao contrário dos combustíveis fósseis, onde apenas 18% estão relacionados ao fator trabalho.

A cogeração de energia foi outro tópico de destaque no debate. Newton Duarte, presidente-executivo da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), explicou que esse processo, que envolve a geração simultânea de duas ou mais formas de energia a partir de uma única fonte, como a biomassa de cana-de-açúcar, pode ter um impacto significativo no Brasil. Atualmente, a cogeração representa cerca de 10% da geração de energia do país, e esse número pode crescer exponencialmente com a modernização das usinas.

Duarte citou que uma usina de processamento de cana-de-açúcar que hoje gera cerca de 6 megawatts de eletricidade poderia alcançar até 80 megawatts com a mesma quantidade de biomassa, caso fosse modernizada. Isso mostra o imenso potencial de crescimento do setor.

O tema dos veículos elétricos também foi abordado. Embora sejam amplamente promovidos como solução para as emissões de carbono, Duarte lembrou que eles dependem da eletricidade e, por isso, é preciso considerar a origem dessa energia. “Os carros híbridos a etanol e os movidos apenas a etanol têm um impacto ambiental significativamente menor”, afirmou ele, destacando a vantagem dessa tecnologia no Brasil.

Rodolfo Pinheiro da Silva, coordenador do Instituto Senai de Inovação em Sistemas Elétricos de Potência, ressaltou que o Brasil já está em uma posição privilegiada no que diz respeito à transição energética, com um alto percentual de energias renováveis em sua matriz. No entanto, ele destacou a importância de investir na eficiência do consumo energético. Segundo ele, a Agência Internacional de Energia (IEA) estima que a eficiência energética pode reduzir as emissões globais de CO2 em até 25% até 2040.

Silva também mencionou que o Brasil tem potencial para reduzir o consumo de energia em até 30%, dependendo do setor, se implementar medidas de eficiência. Ele alertou, no entanto, que cerca de 50% da redução das emissões necessárias até 2050 virão de tecnologias que ainda não estão disponíveis no mercado.

Por fim, o evento contou com a participação do deputado estadual Sebastião Santos, que coordena a Frente Parlamentar de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico, e de Agnes Sacilotto, diretora-presidente do ILP. Ambos reforçaram a necessidade de políticas públicas para incentivar a inovação tecnológica e o desenvolvimento de cidades inteligentes e sustentáveis no Brasil.

Redação Revista Amazônia

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