Pesquisa

Microplásticos são encontrados em tartarugas de água doce da Amazônia, revela estudo da UFPA

Pesquisadoras do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca da Universidade Federal do Pará (UFPA) identificaram a presença de microplásticos e celulose artificial no trato digestivo de tartarugas de água doce da Amazônia. A pesquisa inédita, publicada na revista Water, Air, & Soil Pollution, traz um alerta importante: mesmo espécies que habitam regiões consideradas bem preservadas estão sendo impactadas pela poluição.

Screenshot 2025 04 24 171959Screenshot 2025 04 24 171959
Imagens: Andrea Bezerra e Priscila Miorando / iStockphoto LP

Os animais analisados foram tracajás (Podocnemis unifilis), encontrados no Rio Iriri, e muçuãs (Kinosternon scorpioides), oriundos do arquipélago do Marajó. Surpreendentemente, os resíduos estavam presentes em 20% dos tracajás e em 60% dos muçuãs, números que evidenciam a gravidade do problema, mesmo em áreas de conservação como a Estação Ecológica Terra do Meio.

Publicidade

Lavagem de roupas e pesca: principais fontes de contaminação

Segundo a primeira autora do estudo, Ana Laura Santos, os microplásticos encontrados incluem fibras provenientes da lavagem de roupas, como poliéster e viscose, além de materiais relacionados à pesca. A celulose artificial, por exemplo, é um tipo de resíduo têxtil que chega aos rios por meio do esgoto doméstico não tratado.

“Essas fibras microscópicas são liberadas durante a lavagem e acabam nos rios por falta de saneamento básico. O Marajó, por exemplo, trata menos de 6% do seu esgoto”, explica a coautora Tamires de Oliveira. Esse tipo de poluição se agrava com o crescimento urbano e o uso indiscriminado de plástico na região.

Alerta para a saúde alimentar e ecológica

Além de afetar a saúde das tartarugas, os resíduos plásticos colocam em risco populações humanas. Tracajás e muçuãs são parte importante da dieta das comunidades tradicionais da Amazônia. “Esses animais são uma fonte de alimento essencial, e o acúmulo de plástico em seus corpos pode representar um risco direto à segurança alimentar dessas populações”, alerta Tamires.

Além disso, as tartarugas cumprem papéis ecológicos importantes: ajudam na dispersão de sementes, servem como presas para outras espécies e atuam na conexão entre os ecossistemas aquáticos e terrestres. Qualquer impacto em sua saúde pode gerar desequilíbrios na cadeia alimentar, com consequências duradouras para o bioma.

A importância da educação ambiental e do saneamento

O estudo também reforça a necessidade de ações urgentes voltadas à educação ambiental e à expansão do saneamento básico. Informar a população sobre os perigos dos microplásticos pode ser um passo decisivo para mudar hábitos de consumo e descarte de resíduos.

“É fundamental investir em políticas públicas que promovam o tratamento de esgoto e o consumo consciente, especialmente nas cidades que margeiam os rios. A poluição não respeita fronteiras, o que é jogado rio acima impacta tudo rio abaixo”, conclui Tamires.

Imagem: Carlos Macapuna

Caminhos para o futuro

O próximo passo da equipe de pesquisa será estudar os impactos fisiológicos e comportamentais dos microplásticos nos quelônios. Entender como esses resíduos afetam o crescimento, a reprodução e o papel ecológico das tartarugas pode ajudar a desenvolver estratégias de conservação mais eficazes para a fauna aquática da Amazônia.

O estudo foi conduzido por pesquisadoras da UFPA com apoio de instituições como a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e Universidade de Florença, na Itália.

Redação Revista Amazônia

Published by
Redação Revista Amazônia

Recent Posts

Pesquisa arqueológica de práticas indígenas na fertilização da Amazônia é premiada nos EUA

Um estudo inovador realizado pela arqueóloga Daiana Travassos Alves, professora da Universidade Federal do Pará…

11 horas ago

Degradação da Amazônia avança enquanto desmatamento recua

O crescimento acelerado da degradação da Amazônia, impulsionado principalmente por incêndios florestais, contrasta com a…

12 horas ago

Pesquisa analisa a bioeconomia na Amazônia envolta de caminhos e desafios

A expectativa para a realização da COP30, que acontecerá em novembro de 2025 em Belém,…

14 horas ago

Por que o bicho-preguiça só desce da árvore uma vez por semana

O bicho-preguiça é um dos animais mais curiosos da fauna sul-americana. Com movimentos lentos, olhar…

17 horas ago

O que o tatu-bola faz com o próprio corpo para ele se proteger é incrível

No meio da caatinga seca ou em um cerrado escaldante, há um animal que carrega…

17 horas ago

Jabuti-piranga: o que come, onde vive e como cuidar?

Imagine um pequeno viajante com uma casa nas costas, movendo-se calmamente pelas florestas da Amazônia.…

2 dias ago