COP 30

Países unem forças para monitorar a Amazônia na COP30

Os países que compartilham a maior floresta tropical do mundo decidiram dar um passo conjunto para enfrentar um desafio que já ultrapassa fronteiras: monitorar a Amazônia de maneira integrada, contínua e tecnicamente robusta. O anúncio foi feito durante a COP30, em Belém, onde representantes de governos, cientistas e organizações multilaterais se reuniram para apresentar um novo projeto regional orientado pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

A iniciativa nasce com a ambição de unir dados científicos, ferramentas tecnológicas e capacidades locais dos oito países amazônicos. Para colocá-la de pé, o projeto contará com 55 milhões de reais do Fundo Amazônia, administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O financiamento será destinado ao fortalecimento dos sistemas nacionais de observação da floresta, ampliando mecanismos de prevenção ao desmatamento, incêndios e outros processos de degradação.

Ao explicar a lógica do programa, o etnólogo colombiano Martin von Hildebrand, secretário-geral da OTCA, destacou a indivisibilidade ecológica da região. Para ele, a Amazônia funciona como um organismo vivo, no qual cada área afeta o restante. A afirmação carrega não apenas um componente simbólico, mas científico: danos localizados podem desencadear efeitos amplos em um bioma que regula ciclos de água, temperatura e umidade em grande parte da América do Sul.

A OTCA reúne Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, formando um bloco intergovernamental voltado à cooperação ambiental e ao desenvolvimento sustentável na região que abriga cerca de 50 milhões de pessoas. A floresta amazônica, ao movimentar massas de vapor d’água que cruzam fronteiras, funciona como uma espécie de coração atmosférico continental.

Dentro do projeto, caberá ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) um papel central: transferir tecnologias já consolidadas no Brasil para os demais países amazônicos. Dados gerados por satélites, sistemas de alerta rápido e métodos de análise geoespacial serão compartilhados por meio de um painel técnico-científico em construção, que servirá como base para políticas relacionadas ao clima, à biodiversidade e à gestão de recursos naturais.

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A ministra brasileira do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, reforçou que o trabalho conjunto não se limita à produção de informação. Ela anunciou a criação de uma comissão permanente de ministros dos oito países para alinhar estratégias de combate aos crimes ambientais, especialmente aqueles que operam em redes transnacionais, como mineração ilegal e tráfico de fauna.

A harmonização metodológica aparece como um dos pilares do projeto. Cada país possui seus próprios sistemas, formatos de dados e protocolos de vigilância territorial. Para que a cooperação funcione, será necessário padronizar procedimentos e garantir interoperabilidade entre plataformas distintas. Uma das estruturas que ganhará mais força com essa integração é o Observatório Regional Amazônico (ORA), que já compila informações sobre biodiversidade, recursos hídricos, áreas protegidas, povos indígenas, queimadas e outros temas sensíveis.

Tereza Campello, diretora socioambiental do BNDES, explicou que unificar metodologias não significa impor modelos. A proposta, segundo ela, é construir uma arquitetura comum de dados capaz de enfrentar redes criminosas que operam na sombra da fragmentação institucional. Sem essa convergência, crimes transfronteiriços tendem a prosperar justamente onde os Estados se desencontram.

Hildebrand reforçou esse raciocínio ao alertar para a necessidade de visão integral. Informações isoladas, desconectadas da totalidade amazônica, perdem potência analítica e reduzem a eficácia das ações. O monitoramento integrado surge, assim, como uma resposta política, técnica e geoestratégica diante da pressão crescente sobre a floresta.

O novo projeto simboliza uma mudança na maneira como os países amazônicos enfrentam desafios comuns. Ao invés de respostas dispersas, aposta-se na construção de um olhar compartilhado sobre o território, capaz de antecipar riscos, orientar políticas e fortalecer instituições públicas. Em um cenário de mudanças climáticas aceleradas e aumento da vulnerabilidade socioambiental, esse tipo de articulação torna-se não apenas desejável, mas indispensável.

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