Em meio ao vasto deserto da Arábia Saudita, um projeto ambicioso está tomando forma, prometendo redefinir o futuro das cidades e da tecnologia. Neom, parte central da estratégia Vision 2030 do governo saudita, é uma megacidade planejada que visa combinar inovação tecnológica, sustentabilidade e urbanismo futurista.
Com um custo estimado de US$ 500 bilhões, Neom tem atraído atenção global por suas ideias ousadas e propostas revolucionárias. No entanto, a iniciativa também enfrenta críticas, desafios éticos e dúvidas sobre sua viabilidade.
Neom é uma região planejada no noroeste da Arábia Saudita, ao longo do Mar Vermelho. O projeto foi anunciado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman em 2017 como parte de sua estratégia para diversificar a economia saudita e reduzir sua dependência do petróleo. A palavra “Neom” combina o prefixo grego “Neo” (novo) com a letra “M”, que representa “Mostaqbal”, a palavra árabe para “futuro”.
O projeto é dividido em várias zonas temáticas, cada uma com um propósito específico:
Além dessas zonas principais, Neom também inclui outros projetos menores, como Leyja, Aquellum e Epicon, cada um com características únicas.
Um dos pilares tecnológicos de Neom será um gigantesco centro de dados avaliado em US$ 5 bilhões. Localizado na zona industrial Oxagon, o data center terá capacidade de 1,5 gigawatts e será alimentado exclusivamente por fontes renováveis, como energia solar e eólica. Previsto para entrar em operação até 2028, o centro será um hub para inteligência artificial (IA), big data e computação avançada.
O data center é fruto de uma parceria entre a Neom Tech & Digital Company (conhecida como DataVolt) e outros investidores globais. Ele promete ser um dos mais avançados do mundo, com tecnologias de resfriamento inovadoras e integração com redes de fibra óptica submarinas no Mar Vermelho. Além disso, o projeto está alinhado com os objetivos do governo saudita de se tornar um líder global em IA até 2030.
No entanto, a construção desse centro não é apenas uma questão técnica; ela faz parte de uma competição estratégica no Golfo Pérsico. Países como Emirados Árabes Unidos e Catar também estão investindo pesadamente em tecnologia e IA. A rivalidade entre essas nações pode moldar o futuro da inovação na região.
Apesar das promessas grandiosas, Neom enfrenta críticas severas por questões éticas e sociais. Uma das maiores controvérsias envolve o deslocamento forçado da tribo Huwaitat, que vive na região há séculos. Estima-se que cerca de 20 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas terras para dar lugar ao projeto.
Relatos indicam que membros da tribo enfrentaram repressão violenta por resistirem à remoção.Além disso, há preocupações sobre o impacto ambiental do projeto. Embora Neom prometa ser sustentável e movida a energia limpa, a construção massiva em uma área ecologicamente sensível pode causar danos irreversíveis ao ecossistema local.
Especialistas alertam que projetos dessa escala frequentemente subestimam os impactos ambientais durante sua fase inicial.Outro ponto de crítica é a viabilidade tecnológica das ideias propostas. Por exemplo, The Line promete ser uma cidade sem carros onde tudo estará acessível a pé ou por transporte público ultrarrápido. No entanto, especialistas questionam se tal infraestrutura pode ser construída dentro dos prazos estabelecidos e se será funcional na prática.
Embora o governo saudita tenha alocado recursos significativos para Neom, o projeto depende fortemente de investimentos estrangeiros para se concretizar. Até agora, grandes empresas globais têm demonstrado interesse cauteloso no projeto devido aos riscos envolvidos. Além disso, Neom enfrenta concorrência direta de outros projetos futuristas no Golfo Pérsico.
Os Emirados Árabes Unidos estão investindo bilhões em iniciativas como a cidade sustentável Masdar e centros tecnológicos em Dubai. O Catar também está expandindo sua infraestrutura tecnológica após o sucesso da Copa do Mundo FIFA 2022.A instabilidade econômica global adiciona outra camada de incerteza ao projeto. Com os mercados financeiros enfrentando volatilidade crescente desde 2023, atrair investidores dispostos a comprometer bilhões em um projeto experimental pode ser desafiador.
Enquanto defensores veem Neom como um modelo para as cidades do futuro, críticos argumentam que ele representa uma visão distópica do urbanismo. A ideia de uma cidade totalmente controlada por IA levanta preocupações sobre vigilância em massa e perda de privacidade.
Documentos internos vazados sugerem que os desenvolvedores planejam implementar sistemas avançados de monitoramento para rastrear residentes em tempo real.Além disso, há questões sobre quem realmente se beneficiará do projeto. Embora Neom prometa criar milhares de empregos e atrair talentos globais, muitos temem que ele se torne um playground exclusivo para elites ricas enquanto marginaliza comunidades locais.
Apesar dos desafios monumentais, o governo saudita permanece comprometido com Neom como peça central de sua transformação econômica e social. Em 2024, o príncipe Mohammed bin Salman anunciou avanços significativos na construção das primeiras fases do projeto. Novos contratos foram assinados com empresas internacionais para acelerar o desenvolvimento das infraestruturas básicas. Além disso, iniciativas como o “Ground X”, que utiliza inteligência artificial para monitorar o progresso da construção em tempo real por meio de milhões de fotografias aéreas, estão ajudando a manter os investidores confiantes no cronograma do projeto.
Se bem-sucedido, Neom poderá redefinir padrões globais para cidades inteligentes e sustentáveis. No entanto, seu sucesso dependerá da capacidade dos desenvolvedores de equilibrar inovação com responsabilidade ética e ambiental.
Neom é mais do que apenas um projeto urbano; ele simboliza as ambições da Arábia Saudita de se posicionar como líder global em tecnologia e sustentabilidade no século XXI. No entanto, essa visão grandiosa vem acompanhada de desafios significativos que vão desde questões sociais até dúvidas econômicas e tecnológicas.
Seja como inovação ou distopia futurista, Neom continuará sendo um dos projetos mais observados e debatidos nos próximos anos. Seu destino não apenas moldará o futuro da Arábia Saudita mas também influenciará como imaginamos as cidades do amanhã em um mundo cada vez mais digitalizado e interconectado.
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