A notícia no Brasil estourou como um raio em céu azul, ou talvez nem tão azul assim. No dia 10 de fevereiro de 2025, o governo americano decidiu elevar as tarifas sobre o aço importado, atingindo o Brasil com um aumento de 25%. Para os mais desavisados, parecia apenas mais uma decisão protecionista dos Estados Unidos. Para os que acompanham a economia, era o prenúncio de mais um baque na indústria siderúrgica brasileira. E para aqueles que veem além das tabelas e estatísticas, era a confirmação de um velho dilema nacional: nossa eterna vocação para exportar matéria-prima sem agregar valor.
O Brasil sempre foi um gigante na produção de minério de ferro, sendo o segundo maior exportador mundial, atrás apenas da Austrália. Nosso solo fértil em hematita e magnetita fez do país um fornecedor indispensável para as siderúrgicas chinesas e americanas. Em 2024, exportamos 4 milhões de toneladas de aço bruto para os Estados Unidos, um negócio que movimentou US$ 3 bilhões. Agora, com as novas tarifas, esse mercado corre o risco de se fechar, e o país se vê diante da necessidade de buscar novos caminhos.
Nos acostumamos à ideia de que o Brasil é um país rico em recursos naturais, mas essa abundância sempre teve um preço. Nos ciclos econômicos que marcaram nossa história – do açúcar ao ouro, do café ao minério – o roteiro foi quase sempre o mesmo: extraímos, exportamos e deixamos o grosso do valor agregado para os outros.
O caso do aço é emblemático. Temos minério de ferro de sobra, uma indústria siderúrgica consolidada e capacidade técnica para produzir materiais de alta qualidade. Mas seguimos presos ao papel de fornecedor de matérias-primas, enquanto outros países transformam esse aço em produtos sofisticados, de carros elétricos a equipamentos médicos.
Minas Gerais, o estado líder na produção siderúrgica nacional, sente esse dilema de forma palpável. Em Ipatinga e João Monlevade, onde o aço molda a economia local, a notícia do tarifaço foi recebida com apreensão. As grandes siderúrgicas, como Usiminas e Gerdau, já começavam a calcular os impactos. Poderia haver demissões? Redução de produção? A resposta não era imediata, mas o alerta estava dado.
A crise não é só brasileira. O mercado global de aço vive um paradoxo: há capacidade produtiva de sobra, mas os países cada vez mais protegem suas indústrias. Em 2022, o mundo tinha uma capacidade instalada de 2,46 bilhões de toneladas, mas produziu apenas 1,88 bilhão, um excedente de quase 600 milhões de toneladas. O problema se intensifica com a China, que despeja seu aço no mercado mundial a preços competitivos, alimentando uma guerra comercial silenciosa.
O tarifaço de Biden e Trump não mira apenas o Brasil, mas também tenta conter esse fluxo chinês. A ideia é proteger a indústria americana, mas, na prática, cria efeitos colaterais para parceiros comerciais. E é aqui que o Brasil precisa tomar uma decisão: continuar exportando commodities e sofrendo com oscilações de mercado ou investir na verticalização da sua cadeia produtiva?
Nos últimos anos, algumas empresas brasileiras começaram a enxergar a necessidade de mudar. A AVB, por exemplo, se tornou uma referência ao produzir aço verde, com zero emissões de carbono. Essa é uma amostra de como podemos competir em nichos de alto valor agregado. Mas a mudança precisa ser mais ampla.
Imagine se, em vez de exportarmos placas e bobinas de aço para os EUA, exportássemos chapas galvanizadas para montadoras de automóveis? Ou estruturas metálicas pré-fabricadas para construção civil? O impacto econômico seria gigantesco. Criaríamos mais empregos, reduziríamos a dependência de mercados externos e agregaríamos mais valor ao nosso produto.
Mas essa transformação não acontece sozinha. O custo Brasil – essa expressão que virou bordão – ainda pesa. Altos impostos, infraestrutura deficiente e um sistema burocrático complexo são barreiras que tornam a industrialização um desafio. Se quisermos realmente aproveitar essa oportunidade, o país precisa de um esforço coordenado entre governo e setor privado.
O tarifaço americano pode ser visto como uma ameaça, mas também como um convite à mudança. O Brasil tem recursos, tecnologia e expertise para ir além da exportação de commodities. O que falta é uma decisão política e econômica firme para trilhar esse caminho.
Talvez um dia olhemos para 2025 como o ano em que, forçados por circunstâncias externas, decidimos finalmente deixar para trás a maldição das commodities e abraçar um futuro industrializado. Mas, para isso, precisamos agir agora. O aço já está forjado, mas o futuro ainda precisa ser moldado.
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