Base Candiru apreende grande volume de madeira irregular no oeste do Pará

A apreensão de 586 metros cúbicos de madeira ilegal na malha fluvial de Óbidos, no oeste do Pará, revela mais do que uma operação de rotina: mostra a complexidade e a persistência do combate às cadeias clandestinas que alimentam a exploração irregular da floresta amazônica. A ação ocorreu durante as fiscalizações da operação Protetor do Bioma, conduzidas por agentes de segurança pública que atuam na Base Integrada Fluvial Candiru, um dos principais pontos de vigilância da região. A embarcação E/M Victor Gabriel, que seguia de Óbidos para São Miguel do Guamá, transportava toras sem documentação válida, o que levou à sua interceptação e retenção.

A força-tarefa contou com equipes vinculadas à Secretaria Nacional de Segurança Pública, ao Grupamento Fluvial de Segurança Pública, à Polícia Militar e à Secretaria de Estado da Fazenda do Pará (Sefa). A articulação dessas instituições reflete um esforço estruturado para frear rotas que historicamente servem ao escoamento de madeira extraída sem autorização. Com o suporte de fiscais da Sefa, os agentes verificaram as notas fiscais apresentadas e constataram irregularidades que configuram infração tributária e ambiental.

As operações na Base Fluvial Candiru se tornaram uma peça fundamental na estratégia estadual de proteção do bioma amazônico. Localizada em ponto estratégico das hidrovias que conectam municípios ribeirinhos e áreas de exploração madeireira, a base funciona como um ponto de interdição capaz de interromper fluxos que, sem fiscalização, alimentariam desmatamento e comércio clandestino em grande escala. A apreensão mais recente reafirma o papel das rotas fluviais como fronteiras sensíveis, onde o crime ambiental tenta se camuflar atrás de documentos falsos ou ausência total de registros.

Para o secretário de Segurança Pública em exercício, coronel Ed-Lin Anselmo, a presença constante das forças de segurança nos rios do Pará opera não apenas como barreira, mas como mensagem de Estado. Em suas palavras, prevenir é construir um ambiente menos propício à atuação de organizações ilegais e, ao mesmo tempo, reforçar a sensação de proteção entre moradores e comunidades que dependem do equilíbrio ambiental para sobreviver. A madeira apreendida, segundo o coronel, não possuía documentação fiscal ou autorização de frete, deixando claro o caráter ilícito da carga.

A dimensão da apreensão possui também um valor simbólico. Cada tora retirada irregularmente da floresta representa uma perda ambiental e social que se acumula ao longo dos anos. A fiscalização atua justamente para romper essa cadeia, impedindo que o produto ilegal alcance serrarias, intermediários e mercados que lucram com a destruição. Quando apreensões volumosas como esta ocorrem, criam um efeito dissuasório e fragilizam economicamente grupos envolvidos na extração e transporte clandestinos.

Foto: Divulgação

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Após a interceptação, toda a madeira será encaminhada a Belém para que a Delegacia Fluvial realize os procedimentos legais, em parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e novamente com a Sefa. O destino das cargas apreendidas segue um trâmite que envolve avaliação, registro, eventual destinação e, quando cabível, uso institucional. Esse processo garante transparência e reforça o controle sobre materiais que, se voltassem ao mercado, poderiam financiar novos ciclos de ilegalidade.

O caso expõe ainda uma dinâmica conhecida por autoridades ambientais: o transporte de madeira irregular costuma ocorrer em horários estratégicos, por embarcações de porte variado e por percursos que tentam escapar de radares e bases de fiscalização. A operação Protetor do Bioma, por sua vez, procura justamente desarticular essas práticas, unindo inteligência, monitoramento e presença territorial.

As ações integradas também dialogam com a necessidade de fortalecer a governança ambiental na região amazônica. A repressão ao transporte ilegal de madeira funciona como medida imediata, mas também se conecta a políticas maiores de ordenamento territorial, regularização produtiva e incentivo à economia florestal sustentável. Combater a ilegalidade, nesse sentido, não é só impedir o crime, mas abrir espaço para que atividades legalizadas se consolidem e gerem renda para as comunidades locais.

A apreensão em Óbidos é, portanto, mais um capítulo de uma disputa contínua entre práticas predatórias e o esforço institucional para preservar o patrimônio ambiental do Pará. Em uma região onde os rios funcionam como estradas e a floresta molda o cotidiano, impedir que uma carga irregular siga viagem representa um gesto contundente de defesa do bioma amazônico e um compromisso com a manutenção de suas riquezas para as próximas gerações.

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