COP 30

Pedalando rumo à conscientização climática

Partindo do Rio de Janeiro e com destino a Belém, no Pará, o geógrafo e ambientalista Leandro Costa empreende uma missão singular: percorrer 3,5 mil quilômetros de bicicleta e, ao longo desse trajeto, levar crianças e comunidades a refletirem sobre a COP30 e o papel de cada um no enfrentamento da crise climática.

Para Leandro, a bicicleta é mais do que um meio de transporte: é uma ferramenta de educação ambiental inserida no cotidiano das pessoas. Ele resume sua motivação assim: “é preciso trazer esse debate para dentro das vidas, para que as pessoas saibam agir, não só ouvirem discursos abstratos”. Ele defende que o ato de pedalar incorpora um impacto real, ao evitar emissões — e, simultaneamente, abre o diálogo com jovens e adultos sobre escolhas sustentáveis.

A estrada entre o Rio e Belém assume função simbólica. Leandro compara essa travessia à trajetória histórica do Brasil nas negociações climáticas: da Eco-92, ocorrida no Rio de Janeiro em 1992, até a COP 30 que se avizinha. Ele busca entender como a sociedade percebe e vive essas conferências climáticas e mostrar, na pele, que o caminho da mudança passa pela ação cotidiana.

Com apoio institucional da Embaixada da Bélgica, da Embaixada da Holanda e do Instituto Piabanha, o ciclista já percorreu cerca de metade do trajeto planejado. O Projeto Piabanha é uma organização ambiental que atua com programas socioambientais em parceria com pescadores, universidades e empresas, especialmente na bacia do rio Paraíba do Sul.

Em Brasília, ele foi recebido pelo embaixador belga, Chris Hoornaert, que reforçou que a iniciativa transcende a pedagogia, servindo também como estímulo para negociadores climáticos manterem firme compromisso até o final das conferências.

Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

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Pedal, diálogo e impacto local

Diariamente, Leandro percorre entre 70 km e 110 km, privilegiando horários com sol menos intenso, para evitar os efeitos severos da seca extrema — um fenômeno que ele associa direta e indiretamente às mudanças climáticas. Até a chegada em Brasília, já havia rodado cerca de 1,5 mil quilômetros desde o início da jornada em 21 de setembro.

Em cada parada, visita escolas e comunidades, dialogando com crianças e adolescentes sobre a COP 30 e a responsabilidade individual e coletiva frente às mudanças climáticas. Ele escuta as percepções locais sobre degradação ambiental, usos da terra, estradas empoeiradas ou asfalto em deterioração — vislumbres do Brasil real que não aparecem quando se viaja de carro ou ônibus.

Em sua bagagem, Leandro carrega não apenas equipamentos e mantimentos, mas também narrativas dos territórios percorridos — perspectivas, visões e questionamentos. Essas vozes serão reunidas e transformadas em um painel digital a ser exibido em Belém, em parceria com o The Climate Reality Project Brasil. Ele aposta no gesto simbólico de não emitir quase uma tonelada de CO₂ equivalente ao longo da viagem e, sobretudo, em deixar uma semente viva nas comunidades: de reflexão, de protagonismo, de mobilização local.

Entre o micro e o global: pedagogia climática em movimento

O projeto dissolve a distância entre discurso global e cotidiano. Falar sobre conferências, metas climáticas e neutralização de carbono pode soar distante — mas quando jovens veem que aquela bicicleta atravessa regiões com matas degradadas, rios assoreados ou cidades vulneráveis, elas se tornam visões tangíveis de um problema que precisam sentir para compreender.

Há também outro movimento: coletar experiências e vozes para fortalecer uma narrativa plural na COP. O discurso global não deve ser apenas de técnicos de alto nível, mas espelhar o que se vive no interior do país, nas periferias, nas cabeceiras de rios, nas comunidades rurais e urbana marginalizada. Leandro está, entre pedais e conversas, construindo pontes entre quem negocia e quem vive o impacto.

O percurso é, também, uma metáfora: o esforço contínuo, as subidas e descidas, o desgaste físico e os momentos de contemplação — tudo remete ao processo coletivo de superar resistências e encontrar caminhos para uma transição justa e eficaz.

Um convite à ação local

Quando ele passa por uma escola, não entrega apenas cartazes ou folhetos: abre um espaço de escuta e responsabilidade. Pergunta a crianças: “o que muda se sua família usar bicicleta?” Ou: “se você tivesse de convencer um prefeito a priorizar ciclovias, o que diria?” É na provocação que a semente da mudança pode germinar. Ele vê, também, o contrário: nos centros urbanos vulneráveis — favelas, periferias — a bicicleta já aparece como instrumento cotidiano de mobilidade. No início da jornada, em estradas próximas ao Rio, percebeu que muitos moradores já a utilizavam como meio de locomoção essencial, não apenas recreativo.

Esse encontro entre mobilidade leve, educação e clima reitera uma convicção: a transformação não depende só de grandes políticas nacionais, mas de uma multiplicação de gestos locais combinados.

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